terça-feira, 15 de novembro de 2011

“O LIBERAL” E “PANORAMA”


Hoje “O Liberal” completa sessenta e cinco anos de presença histórica local. Como circularam em suas páginas as notícias de cinema nesse período? Quando este jornal completou cinqüenta anos, fiz uma pesquisa para avaliar esse aspecto. Lembro hoje o seu percurso entre a mídia da época e os assuntos publicados, extraindo alguns flashes dos dados.

Em um tempo em que a exibição cinematográfica já era uma constante nas programações sociais da elite paraense (considerando aqui, não só a classe social, mas a classe de letrados/as, que procurava notícias), deixando de ser registrada apenas nas páginas das revistas semanais como “A Semana”, por ex., tomando espaço na imprensa local, a criação de um jornal partidário, certamente não se interessaria pela veiculação desse tipo de informação. Mas não foi assim.

O jornal surgiu da necessidade de veicular o noticiário do PSD, partido criado naquele período (1946) por Moura Carvalho, Lameira Bittencourt, João Camargo, Dionísio Bentes de Carvalho liderados por Magalhães Barata, devido às dissidências entre os donos dos jornais existentes na época, pelas intrigas partidárias. “O Liberal” era vespertino, trazia, além das notícias palacianas cobrindo os feitos do governo, os artigos e charges que repassavam as quizílias com os contendores. Mas, como todo jornal, abrigava matérias pagas. E o primeiro enfoque sobre cinema coube aos anúncios das empresas exibidoras de filmes, que passaram a dispor de mais um espaço para publicar suas informações sobre os seus principais lançamentos.

Estes registros de divulgação se resumiam em apresentar o nome do filme, o local, o horário, a impropriedade e o preço do ingresso. A primeira inserção de anúncios do gênero coube à Empresa Cinematográfica Paraense Ltda (Olimpia, Iracema,Guarani,Popular, Iris, S.João) e utilizava duas colunas de texto na lateral esquerda da 3ª página, com o seguinte cabeçalho: “Aonde Iremos Hoje?”. Nesse tempo havia outra empresa exibidora na cidade: a Cardoso & Lopes (Moderno, Independência, Universal e Rex, depois, Vitória). Mas só a Cinematográfica Paraense anunciava em “O Liberal”.

O primeiro a fazer comentários de natureza critica foi o jornalista (já falecido) Alberto Queiroz. No final do ano de 1958 chegou a ser publicada uma lista de “melhores filmes do ano”: 1) “Depois do Vendaval”; 2) “Sublime Tentação”; 3) “Noites da Hungria”; 4) “Despedida de Solteiro”; 5) “Amante sob Medida”; 6) “As Férias do Sr. Hulot”; 7) “Se todos os Homens do Mundo...”; 8) “O Último Ato”; 9) “Rififi”; 10) “Águia Solitária”. Não houve registro das listas individuais, mas o tratamento no plural de uma referência leva a pensar em mais de um crítico na cidade.

No início de 1958, Pedro Veriano e Fernando Mendes assinavam a coluna “Liberal na 7ª Arte”, na segunda página do segundo caderno. Do “Liberal Tablóide” (anexo ao exemplar das segundas feiras), o cinema estava a cargo do Cine Clube Juventude (Guilherme Sicsú, Livaldo Carvalho e Habib Frahia e Pedro Rumiê) sem falar na continuidade da coluna “Cinema”, de Alberto Queiroz (1965). Depois surgiram comentários de filmes assinados por João de Jesus Paes Loureiro, Pedro Veriano e Ronaldo Barata. Em 1972, a regularidade da crítica se deu quando Rômulo Maiorana, desejou colocar em seu jornal um espaço permanente onde assuntos de arte em geral fossem abordados. Pediu mais informações sobre cinema, televisão, teatro, quadrinhos etc. Foi aí que chegou a minha vez, assinando a coluna que ele mesmo chamou de “Panorama”. Meu primeiro texto se intitulou “Aonde vão as crianças hoje?”, publicado em página inteira, no domingo, 12/11/1972. Nele eu me referia aos lugares públicos para a garotada. Preenchendo o espaço, havia as resenhas e fotos dos filmes lançados no período. Durante a semana (segunda a sábado), meu texto pegava oito colunas da página do segundo caderno. Aos poucos houve deslocamento destes assuntos para espaços e autorias específicas (Fernando Jares Martins, por ex., tratava de TV, Rosenildo Franco, de publicidade etc.). A coluna passou por inúmeros formatos, sempre no segundo caderno. As mexidas no desenho do jornal trouxeram deslocamentos, mas ultimamente ela se estabilizou.

A história da coluna de cinema, neste jornal, registra presenças convidadas que acabaram membros de uma associação do tipo de jornalismo: como Acyr Castro, que já fazia critica noutro órgão de imprensa, Mauricio Borba, José Augusto Affonso II (falecido), Raimundo Bezerra (falecido), Risoleta Miranda etc. Destaco, nessa origem da coluna, Edwaldo Martins, afinal o avalista da minha presença ao longo deste tempo junto a RM.

No dia 12, alcancei 39 anos nesta coluna e lembro-me da importante pesquisa que Loloca Maiorana ensejou sobre o assunto em 1996. Fica o registro carinhoso para ela e para o Didi, a quem dedico este texto.


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