O roteirista dos filmes “A Identidade Bourne”(EUA, 2001) e “O Desinformante”(EUA, 2009) volta a tratar de brechas na segurança de governos do chamado Primeiro Mundo com este novo exemplar “Contágio”(Contagion/EUA/2011) ora em cartaz nacional.
O tema é a chamada pandemia, ou seja, a epidemia de uma doença que por sua amplitude leva ao pânico em grande escala mundial. No caso, trata-se de um vírus constatado a partir de uma vitima norte-americana vinda de uma viagem a Hong Kong. A sua morte seguida de pessoas que de alguma forma tiveram contacto com ela ou em lugares por onde ela passou gera uma investigação internacional que evidencia a circulação de um novo tipo de micro-organismo. O problema é a alta letalidade e a rápida propagação. Para se produzir uma vacina (anticorpos contra o agente infectante) é preciso tempo e a insistência para que seja desencadeada a luta antinfecciosa antes de o vírus sofrer mutação capaz de alterar qualquer tipo de combate à sua ação.
O filme dirigido por Steven Soderbergh (“Sexo, Mentiras e Videotape”1989; “Che”, 2008) capta o tema básico e evoluiu para a denúncia a vários sistemas correlatos. A iniciar com o indicativo da fraude, a partir do interesse de um jornalista responsável por um blog de altissima penetração social, que procura propagar a idéia de que uma determina droga é eficaz no tratamento da virose em foco (e, na verdade, se trata de um placebo). Depois, entra em cena a cupidez da indústria farmacêutica, demonstrada não só na possibilidade de industrialização das drogas nem sempre eficazes como ainda de propagar falsas informações que lhe venham trazer benefícios. Com isso chega às imagens da revolta popular, começando com as enormes filas que se fazem nos centros de saúde e os desvios das primeiras conquistas terapêuticas a “personas gratas” do governo e da indústria específica.
Pode-se dizer que “Contágio” é um “desaster movie”com base real. Bem mais acessível à realidade moderna do que alguns títulos que se apegam às guerras nucleares e/ou invasões de seres de outros planetas. Também é um exemplo raro de retratar pânico de multidões longe de desastres naturais e/ ou incêndios como se viu em “Inferno na Torre”(1974).
Uma assertiva elementar é a de que todo mundo está sujeito às epidemias produzidas por micróbios desconhecidos. E a medicina, muitas vezes, fica um passo atrás desses males que surgem sem que se saiba a origem. No filme há dois exemplos de combate ao mal que entram no esquema de“thriller”: quando uma das médicas pesquisadores e agente de uma oorganização mundial de saúde é seqüestrada e os seus algozes pedem como resgate um lote de medicamentos tidos como eficazes contra o vírus e ela descobre, no meio das negociações, que os negociadores usam drogas inócuas. Sua reação é a de quem conhece as políticas de deu país.
Outro detalhe é o de uma jovem laboratorista que injeta em seu próprio corpo uma colônia de vírus que acha o bastante para derrotar o causador das mortes súbitas. São demonstrações de heroísmo (a jovem do primeiro exemplo corre para avisar seus seqüestradores quando sabe que o remédio ofertado não é o pretendido) que edificam heroínas da história. E não se diga que não há outros heróis: o personagem de Matt Dammon, que se sabe imune ao novo vírus, trabalha incessantemente para salvar pessoas (a começar com sua filha). No caso dele há também um fato que o enredo explora para fugir de um simples documento médico: a esposa, justamente a primeira a morrer da doença, teria adquirido o mal em um relacionamento com um velho namorado.
Com um ritmo ágil Soderbergh deixa um bom programa para o público adulto. Mas o filme tem levado a inquirições de espectadores que se sentem lesados por não terem certas respostas que gostariam de ter, ou seja, aspectos que o filme deixa de lado considerando que as informações expostas são suficientes para avaliar as denúncias apontadas. Na verdade, percebi nessas lacunas, as frações informativas necessárias para que o público ofereça suas próprias conclusões.
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