A comicidade televisiva nem sempre se
dá bem no cinema. É o que se deduz ao assisitir “As Aventuras de Agamenon, o
Repórter” (Brasil/2011). Posso até tirar o termo “nem sempre”. As linguagens
diferem, e o que provoca risos em programas como “Casseta & Planeta” pode
gerar irritação num longa-metragem realizado para tela grande. Até porque o
tempo das gags e diálogos, ou o cruzamento destes para constituir um filme de
longa-metragem, ultrapassa o limite entre o exposto e o efeito.
O roteiro de Marcelo Madureira e Hubert
Aranha segue a fórmula do criativo “Zelig”(1983) de Woody Allen. É composto de
esquetes onde se vê o protagonista, um repórter de “O Globo”, às voltas com
figuras famosas e situações que fizeram história. Tal qual o que ocorria com
Zelig, o tipo que era visto ao lado do Papa, de Einstein, de presidentes de
vários países e de criminosos, com a ressalva de que era uma espécie de
camaleão, ”mudando de cor” ou se adaptando a cada situação exposta.
O filme brasileiro dirigido por Victor
Lopes começa com o que eu suponho ser uma das anedotas do texto: o repórter
Pedro Bial (isso mesmo, o apresentar do Big Brother), fala do “colega” Agamenon
dizendo que “ele escreve diariamente todos os domingos”(sic). Daí tenta
entrevistar o personagem que mora dentro de um carro defronte a redação de “O
Globo”. Mas o tipo teria ido comprar cigarro num bar próximo, segundo a voz da
esposa de dentro do carro. Bial caminha e ao chegar lá, com os cameramens é
recebido à bala. Imagem que serve a outro momento & situação. É perda de
tempo tentar chegar a um liame de enredo, ou acompanhar os esquetes numa ordem
qualquer. Tudo é disperso, e na linha do filme de Allen são exibidas
entrevistas com personalidades que vão do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso a Paulo Coelho, passando por Ruy Castro, Nelson Mota, Fernanda
Montenegro e mais quem achou a brincadeira uma diversão que a próprio Globo
estaria patrocinando.
Se o Zelig se definia como um mutante
persistente, o cameleão que a música colocada na trilha sonora explica Agamenon,
não deixa pista de sua verve, sem mesmo se adéqua ao tempo. No começo, que data
de 1949 , ele é interpretado pelo comediante Marcelo Adnet (de “Onde Está a
Felicidade?”, outro filme nacional frustrado), passando depois a ser o próprio
roteirista Hubert do grupo Casseta & Planeta. Isso pouco adianta. Se a
idéia era se apegar ao surrealismo, o personagem poderia vagar em tempo e
espaço numa onipresença absurda como o seu tipo. Mas o resultado acaba por
mesclar, simplesmente, cenas de documentários com a inclusão da imagem do herói
gaiato. Ele é visto entrevistando Gandhi, Einstein, e passa ao lado de Hitler,
surge no Vaticano no momento da eleição de um papa. Nada dessas incursões
define uma anedota espirituosa. A graça seria o próprio modo da intromissão.
Até aí a influencia (ou plágio) de “Zelig”.
Procurar o motivo de fazer rir
inteligentemente é mesmo procurar Agamenon em seu carro. Nunca está presente. E
eu poderia ter deixado de tratar deste filme que já saiu do cartaz, mas achei-o
tão irritante que previno quem vá procurá-lo no DVD. É mesmo perda de tempo. E
engano de imaginação.
Interessante Luzia que embora as referencias criticas do filme não sendo boas, ele conseguiu uma bom público
ResponderExcluirÉ isso, Alex, são situações que não se explicam, ou explicativas de que o cinema ainda é visto como "necessário nas horas vagas" para quem acha que vai se divertir. Nada contra.O importante é ter posição sem cair na armadilha da "ditadura da maioria".
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