terça-feira, 31 de janeiro de 2012

AGAMENON OU O CAMALEÃO BRASILEIRO




A comicidade televisiva nem sempre se dá bem no cinema. É o que se deduz ao assisitir “As Aventuras de Agamenon, o Repórter” (Brasil/2011). Posso até tirar o termo “nem sempre”. As linguagens diferem, e o que provoca risos em programas como “Casseta & Planeta” pode gerar irritação num longa-metragem realizado para tela grande. Até porque o tempo das gags e diálogos, ou o cruzamento destes para constituir um filme de longa-metragem, ultrapassa o limite entre o exposto e o efeito.

O roteiro de Marcelo Madureira e Hubert Aranha segue a fórmula do criativo “Zelig”(1983) de Woody Allen. É composto de esquetes onde se vê o protagonista, um repórter de “O Globo”, às voltas com figuras famosas e situações que fizeram história. Tal qual o que ocorria com Zelig, o tipo que era visto ao lado do Papa, de Einstein, de presidentes de vários países e de criminosos, com a ressalva de que era uma espécie de camaleão, ”mudando de cor” ou se adaptando a cada situação exposta.

O filme brasileiro dirigido por Victor Lopes começa com o que eu suponho ser uma das anedotas do texto: o repórter Pedro Bial (isso mesmo, o apresentar do Big Brother), fala do “colega” Agamenon dizendo que “ele escreve diariamente todos os domingos”(sic). Daí tenta entrevistar o personagem que mora dentro de um carro defronte a redação de “O Globo”. Mas o tipo teria ido comprar cigarro num bar próximo, segundo a voz da esposa de dentro do carro. Bial caminha e ao chegar lá, com os cameramens é recebido à bala. Imagem que serve a outro momento & situação. É perda de tempo tentar chegar a um liame de enredo, ou acompanhar os esquetes numa ordem qualquer. Tudo é disperso, e na linha do filme de Allen são exibidas entrevistas com personalidades que vão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a Paulo Coelho, passando por Ruy Castro, Nelson Mota, Fernanda Montenegro e mais quem achou a brincadeira uma diversão que a próprio Globo estaria patrocinando.

Se o Zelig se definia como um mutante persistente, o cameleão que a música colocada na trilha sonora explica Agamenon, não deixa pista de sua verve, sem mesmo se adéqua ao tempo. No começo, que data de 1949 , ele é interpretado pelo comediante Marcelo Adnet (de “Onde Está a Felicidade?”, outro filme nacional frustrado), passando depois a ser o próprio roteirista Hubert do grupo Casseta & Planeta. Isso pouco adianta. Se a idéia era se apegar ao surrealismo, o personagem poderia vagar em tempo e espaço numa onipresença absurda como o seu tipo. Mas o resultado acaba por mesclar, simplesmente, cenas de documentários com a inclusão da imagem do herói gaiato. Ele é visto entrevistando Gandhi, Einstein, e passa ao lado de Hitler, surge no Vaticano no momento da eleição de um papa. Nada dessas incursões define uma anedota espirituosa. A graça seria o próprio modo da intromissão. Até aí a influencia (ou plágio) de “Zelig”.

Procurar o motivo de fazer rir inteligentemente é mesmo procurar Agamenon em seu carro. Nunca está presente. E eu poderia ter deixado de tratar deste filme que já saiu do cartaz, mas achei-o tão irritante que previno quem vá procurá-lo no DVD. É mesmo perda de tempo. E engano de imaginação.


2 comentários:

  1. Interessante Luzia que embora as referencias criticas do filme não sendo boas, ele conseguiu uma bom público

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  2. É isso, Alex, são situações que não se explicam, ou explicativas de que o cinema ainda é visto como "necessário nas horas vagas" para quem acha que vai se divertir. Nada contra.O importante é ter posição sem cair na armadilha da "ditadura da maioria".

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