O título que o filme “Man on a
Ledge” (Homem na Borda) recebeu no Brasil, “À Beira do Abismo”, reprisa o que foi
dado a “The Big Sleep”(O grande Sonho) de Howard Hawks (1946). O roteiro de
Pablo F. Fenjes tem mais a ver com o de John Paston de uma história de Joel
Sayre em “Horas Intermináveis”, de Henry Hathaway (1951). Naquele filme da 20th
Century Fox, o ator Richard Basehart (de “La Strada”, onde protagonizava “Il
Matto”) tenta o suicídio dependurando-se no parapeito de um edifício em NY
sobre uma rua movimentada. O motivo é a desilusão que sente de tudo e de todos.
Recebe ajuda de um policial, ao mesmo tempo em que a multidão formada debaixo do
prédio divide-se entre os que pedem sua remoção e os ansiosos querendo que ele
se atire (lembra o episódio ocorrido em Belém, documentado por Paulo Chaves e
José Carlos Avelar etc, “Destruição Cerebral”, 1977).
Neste “À Beira do Abismo” não há
só um plano suicida. O homem da borda do edifício quer mais alguma coisa, ou
melhor: quer outra coisa, tem outro objetivo. Trata-se do ex-policial Nick
Cassidy (Sam Worthington) preso pela acusação de furto de uma pedra preciosa de
quarenta mil dólares e, com essa atitude, espera demonstrar sua inocência. A
concretização do ato se dá quando seu pai morre, ele ganha licença da
penitenciária para ir ao funeral, consegue fugir e se hospeda num apartamento do
último andar do Hotel Roosevelt, em Manhattan, transpõe a janela e, do beiral,
ameaça se jogar para o meio da rua onde as pessoas já se acumulam.
A construção da trama reflete um dos
“thrillers” divertido desses que nos últimos anos Hollywood exagera em produzir.
A narrativa é dinâmica, sem sair do tempo da ação, e o roteiro, falseando aqui
e ali, consegue engendrar surpresas contínuas como se desse ao público um
quebra-cabeça para ele montar “na ponta da poltrona”. Naturalmente não se trata
de um enredo realista. Nem de crítica a algum assunto paralelo. No máximo pode
ser pensado nas manhas e artimanhas de um capitalista voraz que é criminoso,
hábil o bastante para jogar o ônu de seus crimes em outras pessoas e subir
sempre para a fama, protagonismo curto de Ed Harris, quase irreconhecível na
maquilagem para mais velho. O que importa é a ação em si. A partir de
determinado momento esta se torna em paralelo com outra, onde um casal se
prepara para um assalto. Assim, a conversão em tres eixos narrativos explora os
movimentos diferenciais entre a disposição de Nick de se jogar da sacada do
prédio, as tentativas da psicóloga conciliadora em afastá-lo dessa intenção, a
ação dos assaltantes para neutralizar o circuito integrado de imagens de um
prédio vizinho e chegar ao cofre da empresa e, ainda, flashes da turba que
impaciente se divide em gritos de “salta logo” ou de resistência em apoio ao
gesto. Com isso, pequenas nuances de uma relação direta entre o suicida e os
assaltantes será uma “dica” aos que o supõem determinado a morrer. Mas isso só
é notado quando o espectador percebe o fone de um celular no ouvido de Nick e
sua gesticulação oral. Aos poucos se estabelece o elan entre as duas ações
seguindo-se a outras que demonstram a motivação do gesto do suicida.
Claro que há happy-end, há
correrias, há bandidos e mocinhos e estes parecem imunes às balas disparadas à
vontade, aos saltos fantásticos, às reações imprevisiveis de uns e de outros e,
inclusive a uma denúncia de corrupção policial. Achar que esses lugares-comuns
prejudicam um filme que tem o propósito limitado (divertir brincando com um
drama pessoal) é dar interpretações não existentes na agenda de serviço do
diretor.
“À Beira do Abismo”é um programa
de sala comercial bastante competente. Aos que se interessam pelo enredo, vale
o ingresso.
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