O que está
sendo reclamado no filme “A Dama de Ferro” é a preferência pelo exercício de
estilo (cinematográfico) no lugar dos dados biográficos do tipo focalizado.
Quem não conhece a atuação de Margaret Thatcher como primeira ministra britância,
assistindo o filme continua sem saber. O que se observa é que a diretora Phyllida
Lloyd fez o seu trabalho pensando num enfoque personalizado desmontado de uma
narrativa linear e cronológica, mas procurando centrar em algumas situações que
nortearam a personalidade da Primeira Ministra Inglesa levando-a a ser nominada
como “a dama de ferro”. E essa dimensão obrigou a atriz principal, Meryl Streep,
a investir-se de elementos caracteristicos da imagem de Thatcher no momento
atual, quando ela vive problemas de memória e esquecimento e esta linha norteia
toda a ação do filme. As qualidades da atriz, sem dúvida ressaltadas pela
semelhança das máscaras que serviram de incentivo ao reconhecimento da
cinebiografada, somam-se ao reconhecimento de seu desempenho em “Mamma Mia”,
assinado por essa diretora.
Desse modo, é bom considerar que as cinebiografias
nem sempre são obrigadas a seguir os passos dos biografados. “J.Edgar” (foto), por
exemplo, não é tudo sobre o homem do FBI. Algumas pessoas acharam que o filme
dirigido por Clint Eastwood se desviou do foco de vida do administrador da mais
poderosa organização policial norte-americana preferindo realçar a vida intima
desse personagem. A impressão esbarra justamente no que se critica de outros
filmes do gênero, dizendo-se, comumente, que a preocupação dominante é com a
pessoa pública sem se ligar para o ser humano que está apoiando essa atuação
conhecida de todos. O que se pode dizer de omisso em “J.Edgar” é detalhes de
uma carreira polêmica. Mas seria um esforço além de um tempo de produção
abordar os tantos anos de Hoover à frente do FBI, seja na sua atuação contra os
supostos comunistas (que ele teimava em ver como elementos destruidores da base
tradicional norte-americana), seja na sua posição relacionada aos direitos
humanos, o que ele condenou ou deixou passar investigando o movimento racista
Ku Klux Kan.
O desempenho de Meryl Streep em “A Dama de Ferro” foi
recompensado esta semana ao ganhar o BAFTA, maior prêmio do cinema inglês, e
isto se soma ao Globo de Ouro de drama que já recebeu. É quase certo que ela
vença o seu segundo Oscar como atriz principal (o outro que possui é de
coadjuvante por “Kramer VS Kramer”). Nada contra embora eu ache meritório o
papel de Glenn Close em “Albert Nobbs”, e, neste caso, ressalto que Glenn nunca
foi contemplada com o Oscar, apesar de papéis marcantes como em “Ligações
Perigosas”. Vai ser injusto se a atriz entrar para o rol daqueles que só receberam
prêmio honorário em fim de carreira.
Sem ser propriamente biográfico, o tipo que o
francês Jean Dujardin encarna em “O Artista” é o arquetipo de ídolos do cinema
mudo que encerraram carreira com o advento do filme sonoro. Na época, não se
imaginava a dublagem e, ídolos como John Gilbert, encerraram carreira apesar de
estrelas amigas como Greta Garbo terem procurado ajudá-lo (ele atuou com ela em
“Rainha Cristina”, mas o filme não fez sucesso). “O Artista”, ora campeão dos
Bafta e vencedor do Globo de Ouro de comédia, concorre a 10 Oscar. É mudo e em
preto e branco. Mas é excelente e usa o retrô como um meio de ser original.
Mas em
termos de atuação o que me pareceu mais afeito à pessoa real, mais perto de uma
biografia sem necessariamente tratar de uma personagem viva, foi Demiàn Bichir
em “A Better Life” (EUA, 2011) de Chris Weitz.
Interpretando um imigrante mexicano que deseja melhorar a vida da família
aceitando dirigir um caminhão de entregas sem ter visto de permanência nos EUA
e sem carteira de motorista, o ator apresenta uma máscara admirável. O filme tem
semelhança com “Ladrão de Bicicletas” de De Sicca, mas assumindo o aspecto
moderno. Espero tratar dele quando chegar aos nossos cinemas. Se chegar.
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