terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

OS DESCENDENTES


Co-escrito por Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash, todos indicados ao Oscar, assim como o diretor Pyne, “Descendentes” (Descendants/EUA<2011) parte de um livro de Kaui Hart Hemmings. O roteiro acompanha o bem-sucedido advogado Matt King (George Clooney) em sua pouco admissível busca por um rival quando sabe que a esposa, acidentada e em coma irreversível, teve um caso com uma pessoa a quem a filha mais velha descobriu ao presenciar a mãe entrar numa certa casa, acompanhada de um homem que a bolinava.
A história se passa no Havaí e o principal personagem chega a aludir, numa nem sempre oportuna narração em off, que a vida dele é como o arquipélago onde mora, formada por um conjunto de ilhas. Seria o modo de justificar seu modo de agir, sempre viajando a serviço, distante da família, o que se coloca como justificativa do comportamento da esposa e da absoluta falta de jeito em tratar as filhas, uma adolescente e a outra criança.

O diretor e co-roteirista fez pelo menos dois filmes em que estudou o comportamento de uma pessoa solitária: “As Confissões do Sr. Smith” e “Sideway, Entre Umas e Outras”. A característica procede neste trabalho o que leva a pensar numa obra coesa. Mas se nos dois filmes citados havia uma arquitetura capaz de dimensionar convenientemente os tipos focalizados aqui a opção resvala pelo melodrama e há situações inegavelmente equivocadas como a sequência semifinal quando a esposa do “outro” desabafa a mágoa que tem do companheiro diante do corpo inerte da rival. Esta cena patética ainda ganha a colaboração das lágrimas do quase viúvo. Seria por isso que George Clooney é o candidato favorito do próximo Oscar? Ele esteve bem melhor em “Amor sem Escalas” e, este ano, mostrou como sabe dirigir em “Tudo Pelo Poder” (não está no páreo dos nominados pela Academia de Hollywood).

“Dependentes” tem a seu favor o cenário havaiano, com as filmagens em locação realçadas na fotografia de Phedon Papamichael. Mas se a beleza natural chama a atenção ela não serve de contraste ao drama do protagonista da história. Nem mesmo com a ressalva poética. É numa praia havaiana, por exemplo, num crepúsculo de quadro, que o personagem contata com a esposa do seu rival e a acompanha à casa onde está o referido. Nada mais conflitante. Como é conflitante chamar o filme de comédia e como tal ele figurou no Globo de Ouro. Graça pode ser encontrada na presença de um jovem colega da filha de 17 anos, um típico exemplar da juventude atual, verbalizando as gírias disponíveis e agindo como um autêntico “papagaio de pirata” acompanhando pai e filhas pelos caminhos detetivescos da infidelidade conjugal.

As meninas convencem, a narrativa acadêmica tem dinamismo bastante para não abrir espaço à monotonia, e um retrato de família em crise pode ser encontrado sem o delineamento que se encontra no paisagismo. Mas os elogios recebidos em seu ponto de origem e a candidatura a 5 Oscar levam a uma expectativa que se esgota na sala escura. O conservadorismo norteamericano se expressa na sequência final quando pai e filhas diante da televisão, após o ritual de jogar as cinzas da mãe no mar, sentam-se num sofá, se enrolam num cobertor e dividem um pote de sorvete. Payne poderia dar o toque de despedida em outro final, antes dessa tomada.

Na verdade, o que o filme demonstra é uma culpabilização para a mulher e a vitimação masculina numa relação do tipo casamento. A narrativa transcorre a partir do percurso masculino por uma família que este desconhece. Vai aos poucos se redimindo, ao longo da busca detetivesca e principamente na cena final. Em todo esse percurso, evidencia-se, sem profundidade nenhuma, mas através dos diálogos transversais, facetas da personalidade da esposa e mãe, sua energia, seu trânsito por caminhos masculinos como: gosta de velejar, de esportes, não vive com as filhas “sob as saias”, confidencia com as amigas etc. Depois disso, torna-se convincente a transformação do pai ausente em um herói. E o público sair em lágrimas do cinema.

Almejo que os filmes “descendentes” de Alexander Payne melhorem no futuro.

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