Adam Sandler ganhou sete vezes o “Razzie”
(Framboesa de Ouro), prêmio anual dado ao pior ator e, também, produtor. Este
ano ele foi imbatível por seu papel duplo em “Cada Um Tem a Gêmea que Merece”
comédia dirigida por Dennis Dugan, seu parceiro habitual, tendo, também, o dedo
no roteiro e na produção.
O filme está entre as maiores bilheterias
brasileiras no período. Não adianta o Oscar: uma expressiva maioria de publico
vai “se divertir” com Sandler protagonizando um produtor de TV e “a sua irmã”,
visita que a família dele (mulher e dois filhos) aturam apavorados (a “moça” é
desastrada, desbocada e corpulenta o bastante para enfrentar uma briga).
Sou conhecida por uma baixa receptividade a comédia
escrachada e, neste filme, não consigo aturar as tentativas de expressões de
Sandler em close. Ele quer dizer que está alegre, que está preocupado, que está
triste, mas se não fosse a fala (e legendas) ficaria o nada sobre o nada. E
agora o artista chega em dose dupla. A sua Jill lembra a “vovózona” de Martin
Lawrence, outro comediante que irrita qualquer cinéfilo que se preze.
No roteiro deste “...Gêmea” a barulhenta Jill
encanta, primeiramente, um grande ator de teatro. Imaginem quem: Al Pacino.
Pelo papel, que deve ter aceitado para rir de si mesmo, o interprete de “Um Dia
de Cão” ganhou o seu “Razzie” de coadjuvante. Não podia estar mais ridículo e o
pior é que interpreta a si mesmo como um “astro” que persegue a balofa Jill.
Uma sequência com Pacino, aliás, é uma das situações que escapam da insossa
comédia de Ducan: quando ele está no palco, encenando uma peça de Shakespeare,
e fala no celular com a “garota”. O público pensa que é uma inovação no texto,
quem sabe, um recurso critico ou uma forma de mostrar a perenidade da trama, e
aplaude delirantemente. Dos filmes com Sandler a exceção é apenas “Embriagado
de Amor”(Punch-Drunk Love/2002) onde havia Paul Thomas Anderson (“Magnólia”,
“Sangue Negro”) na direção.
Assisti a
“Cada Um Tem a Gêmea que Merece” por dever de oficio. Creiam: me investi de boa
vontade para funcionar e procurei liames de linguagem, seja o enquadramento,
seja a iluminação, seja a montagem. Nada encontrei de significativo. Melhor: o
conjunto reforça a mediocridade do argumento. Lembro que esse tema que
evidencia um parente chato ou um amigo incômodo a atentar a vida pacata de uma
família já foi evidenciado em filmes meritórios. Lembro-me do personagem de
Totó (o veterano ator italiano) aturando um quase mendigo que ele encontrou na
rua e, por piedade, abrigou em sua casa. O homem ia, gradativamente, tomando
conta do espaço, tiranizando os filhos e a esposa do dono da casa, impondo-se a
tudo. Chega um momento em que Totó deixa de lado a sua calma e piedade tome a
atitude de expulsar a figura “espaçosa” com rispidez. Essa é um das sequências
de “Ouro de Nápoles”, filme de Vittorio De Sica. Mas isto é cinema. O filme de
Sandler & Ducan se assemelha às “peças” teatrais assistidas nos velhos
circos que circulavam nas cidades do interior. Um programa que trai aquele
slogan que Severiano Ribeiro usava em suas casas exibidoras “Cinema é a maior
diversão”. Seria o caso de consertar: “também pode ser a maior provação”. Um
ato de penitência para quem nem tempo tem, muitas vezes, de curtir um bom
filme... Realmente é intoxicante. A “Framboesa de Ouro” foi na medida certa
para as peripécias de Sandler. Bem feito.
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