terça-feira, 6 de março de 2012

‘A CONFISSÃO”, DE COSTA-GAVRAS EM DVD

Yves Montand em "A Confissão". Imperdível em DVD 
O diretor de origem grega Constantin Costa-Gavras criou uma tetralogia sobre as ditaduras nos anos 60/70 do século XX: “Z”(1968), “A Confissão” (L’Aveu, 1970), “Estado de Sitio”(1972) e “Desaparecido”(1982). Todos esses filmes já podem ser agora encontrados em DVD, nas locadoras. Faltava “A Confissão. Foi o único filme dessa fase que passou incólume pela censura brasileira do período militar. E se explica: a história explora a situação de repressão num governo de esquerda. O ator francês Yves Montand protagoniza o ministro de relações exteriores da Tchecoslováquia comunista que sofre nas mãos dos agentes federais por divergir de algumas ideias vigentes no governo. A tortura mental é documentada em cenas que ganhariam tesoura dos censores brasileiros se tivessem outro endereço. Mas não é um filme anticomunista e sim antiditatorial. E Gavras é um mestre no gênero. O roteiro é de Jorge Semprun, com base no livro biográfico de Arthur e Lise London.
Outro DVD que assisti foi “Mamute”(Mammuth/França,2010) apresentando Gérard Depardieu como funcionário de um açougue cujo apelido de mamute revela-se devido o seu físico avantajado. Quando sabe que chegou à idade de aposentadoria ganha dos colegas um quebra-cabeça e recebe a incumbência de procurar os papéis de seus empregos desde a juventude para poder obter a aposentadoria total. Para isso reanima a sua velha moto e sai pelas estradas atrás de velhos patrões e amigos. A viagem, mais do que o objetivo material, serve para Mamute rever a si mesmo, repensando amizades perdidas no tempo. Um filme de Gustave de Kevern e Benoit Delépine que me pareceu insuficiente para o tema introspectivo, talvez pelo cuidado de fugir a esquemas melodramáticos. Mas exalta a vida e tem Depardieu com a máscara que usou no excelente "Minhas tardes com Margueritte" (La tête en friche, França, 2010), de Jean Becker. E ainda mais: denuncia a via crucis de um servidor aposentado atrás de seus papéis, ou seja, submergindo na burocracia que domina esse enredo, vivido por uma pessoa que espera curtir um tempo após tantos anos de trabalho.
Um inédito muito interessante: “Medianeras, Buenos Aires na Era Virtual” (Medianeras/Argentina 2010). Inicia mostrando prédios de Buenos Aires, o bastante para dimensionar o”sufoco” de uma grande cidade. A câmera e a narração em off criticam os paredões, as pichações, a selva urbana. Enfim, focaliza Martin (Javier Drolas), profissional de informática que passa dias sem sair de casa trabalhando na construção de sites. Sua história tem paralelo com a de Mariana (Pilar Lopez), uma arquiteta em crise existencial, que ele encontra virtualmente. A conversação on line chega ao ponto de se encontrarem. O filme, porem, não é uma comédia romântica: é uma visão poética do mundo moderno e seus contrastes. Direção de Gustavo Taretto.
“Medianeras, Buenos Aires na Era Virtual”
Dois filmes de ficção-científica que circularam a pouco nos cinemas já estão disponíveis em DVD: “Gigante de Aço” e “O Preço do Amanhã”. No primeiro focaliza-se um futuro em que as lutas de boxe ou “lutas-livres” são exercidas por robôs, poupando os humanos de torturas. Um garoto que perdeu a mãe e tem a tia como tutora é deixado um tempo com o pai. Ele acha um robô no lixo e o transforma em um brilhante lutador. Isso privilegia o relacionamento pai e filho. Já “O Preço do Amanhã” mostra um futuro em que o dinheiro é substituído por frações de tempo. Com isso surgem pessoas que acumulam anos e se tornam praticamente imortais enquanto muitos lutam por cada dia de vida. Ideia e realização de Andrew Niccol, o autor de “Gattaca” e “O Senhor das Armas”.
Como se vê, todos esses DVDs são interessantes e, por isso, fazem parte da minha lista de indicados da semana.
EXTRAS
Desde o dia 5 até 7, serão exibidos filmes, às 14h, com debate temático no auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/Campus da UFPA. São eles: “Uma Mãe em Apuros”(2008), com Uma Thurman” (sobre uma dona de casa), “Pelos Meus Olhos” (2003), violência doméstica, da espanhola Iciar Bollain; e “Ribeirinhos do Asfalto” (2011) de Jorane Castro. Pelo Dia Internacional da Mulher.

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