quinta-feira, 8 de março de 2012

MULHERES NO CINEMA


Barbara Stanwyck, em“Stella Dallas”(1937), de King Vidor.

Nos primórdios da indústria cinematográfica, as intérpretes dos filmes mudos eram cultuadas pelo aspecto físico que desenhavam para substanciar os tipos que viviam. Na verdade, muitos filmes eram criados para elas. Uma atriz como Pola Negri (1897 –1987) vendia beleza, uma Theda Bara (1885-1955) o exotismo, uma Mary Pickford (1892-1979) a ingenuidade. No caso, o talento expresso em interpretações ficava submerso no conjunto da obra projetada. Mas são essas mulheres talentosas que venceram o tempo e hoje são admiradas nos “cinemas de arte” e cineclubes.
Lembro a personagem de Janet Gaynor reencontrando o marido vivido por George O’Brien, tentado a traí-la no clássico “Aurora”(Sunrise/1928) de F.W. Murnau. Lembro, também, o tipo da ingênua que se prostituía por culpa da sociedade repressiva a que pertenciam seus pais, no único filme dramático dirigido por Charles Chaplin ”Casamento ou Luxo” (Woman of Paris/1923). E, como esquecer Falconetti, chorando num julgamento desafiador para o cinema silencioso em “A Paixão de Joana D’Arc”(Passion de Jeanne D’Arc) de Carl Dreyer porque infringira as leis se metendo em política de guerra?

No inicio da era do som há Barbara Stanwyck, em “Stella Dallas”(1937), de King Vidor, “serenando” o casamento da filha que a hostilizou. Um enredo semelhante deu margem a duas versões de “Imitação da Vida”(Imitation of Life/1934 e 1959). Mas elas nem sempre foram coitadinhas. Se na fase muda havia Pearl White como heroína de seriado de ação (“Os Perigos de Paulina”/The Perils of Pauline/1914,) no cinema falado, a mesma estrela de “Stella Dallas”, Barbara Stanwyck, mostrava como dar a volta por cima (no caso, um romance com homem casado que a abandona e lhe deixa uma filha), em “Mulher Proibida (Forbidden/1934), de Frank Capra. Nessa fase que hoje se diz clássica (e onde o preconceito era maior) ainda se encontram exemplos ireverentes como de Bette Davis em “Jezebel”(1938); Miriam Hopkins e Merle Oberon em “Infâmia”(These Three/1936); com “remake temático” vivido por Shirley MacLaine e Audrey Hepburn, em 1962, sob as ordens do mesmo diretor, Wiliam Wyler.

O cinéficlo não esquece closes de Ingrid Bergman em “Casablanca”. Mas a apaixonada Ilsa, do clássico de Michael Curtiz, vendia a imagem que os estúdios e a época edificavam sabendo que era o gosto do público. Na Inglaterra de 1945, David Lean exibia uma heroína aparentemente frágil, capaz de pensar numa traição ao marido, para recuperar o sentimento afetivo que não a prendia mais, de acordo com um texto do dramaturgo Noel Coward: Laura (Celia Johnson) de “Desencanto” (Brief Encounter). Mas, nenhuma personagem feminina deu tantos comentários evidenciando a força da mulher do que a Scarlet O’Hara de Vivian Leigh compondo muito bem a heroína do romance de Edna Ferber em “...E O Vento Levou”(Gone With the Wind/1939). Seria o arquétipo da mulher sulista (dos derrotados na guerra civil, ou confederados). Muitos diretores serviram ao produtor David O.Selznick. Ele voltaria a eleger uma figura feminina como base de outro filme famoso: “Rebeca, a Mulher Inesquecível”(Rebecca/1940)a estréia de Hitchcock no cinema americano.

Na cinematografia brasileira viam-se as decididas garotas das chanchadas (Eliana, especialmente) e, na fase Vera Cruz, a romântica Marina (Eliane Lage) de “Caiçara”(1950) ou a única incursão cinematográfica de Cacilda Becker (“Floradas na Serra”/1953).

Com a maior liberdade de expressão outras mulheres premiaram as telas. Certo que ainda foram vistas ingênuas sofredoras como a Cecilia (Mia Farrow) de “A Rosa Purpura do Cairo” (1985). Mas não tardou a chegar a combativa sindicalista de “Norma Rae” (Sally Field), a lutadora contra o assédio moral no trabalho, Aileen (Charlize Theron) de “Monster, Desejo Assassino”(2003); ou a Eliza de Uma Thurman em “Uma Mãe em Apuros” (2009) e tantas mais que impuseram um novo olhar para a mulher.

Nesse dia dedicado a elas, mulheres do cinema e as que vêem cinema são muito lembradas. As primeiras deram margem ao comentário da coluna, as outras que também mudaram com o tempo e já não exigem uma postura preconceituosa das que estão na tela. Nessa postura elas fazem a nova imagem de um gênero em uma arte.

Feliz Dia Internacional da Mulher. Com cinema e com afeto!

Um comentário:

  1. Alex Barata da Silva14 de março de 2012 às 06:51

    Luzia não podemos esquecer de outros icones como Marlene Dietrich, Marylin Monroe e Elizabeth Taylor,e a nossa Sonia Braga

    ResponderExcluir