domingo, 22 de abril de 2012

12 HORAS

Amanda Seyfried em uma das cenas de "12 Horas".
Heitor Dhalia é natural de Pernambuco e como diretor de cinema ganhou prêmios e respeito da critica nacional por dois filmes realmente muito bons: “Nina” (2002) e “O Cheiro do Ralo” (2004). Como os colegas Walter Salles e Fernando Meirelles foi fazer cinema nos EUA. É dele este “12 Horas” (Gone/EUA,2012) em cartaz esta semana em Belém.
Este filme não recebeu boas críticas no país de origem e nesse tom evidenciou-se a nacionalidade do diretor dizendo-se que era brasileiro. Walter Salles também não agradou aos norte-americanos com “Água Negra” (Dark Water/EUA, 2006). A estrutura comercial de Hollywood nem sempre condiz com o estilo de fazer cinema que nossos autores realizam. Na realidade, “12 Horas” nada tem dos filmes citados como dirigidos (e escritos) por Dhalia. Aqui a história vem de um livro do roteirista Allison Burnet e a composição resulta num thriller mais afeito aos moldes de televisão. Mas não se pode dizer que o resultado é fraco.
A narrativa capta, na primeira sequencia, uma jovem caminhando através de uma mata, às vezes cerrada outras vezes revelando-se um pequeno bosque. Sua preocupação é marcar num mapa os locais por onde passa. No corte, desloca-se para a casa onde mora com a irmã. Trechos irregulares de conversas captam-se das duas sobre um passado não muito bom para Jill (Amanda Seyfried) enquanto Molly (Emile Wickersam) tenta desinteressar a irmã das caminhadas, mais preocupada também com os estudos e a prova que fará no dia seguinte. Mas enquanto a primeira sai para o trabalho noturno numa lanchonete, a segunda busca adormecer. Ao retornar no dia seguinte Jill não encontra a irmã em casa. A ideia que lhe chega é que Molly foi sequestrada pelo mesmo serial killer que a assediara e a colocara numa cova no meio da mata, mas por sorte conseguira fugir. Embora acorra para o posto policial a fim de denunciar o sequestro da irmã, os detetives não levam em conta suas queixas associando ao fato já ocorrido antes com a jovem, dado como “imaginação fantasiosa”. Ela decide investigar por conta própria o paradeiro da irmã. Mas a policia acha que tudo se passa em sua cabeça. Nada foi encontrado no lugar onde Jill contou ter sido aprisionada. Como insana, ela acaba não sendo ajudada mas perseguida pela policia de sua cidade: Portland (Oregon).
Amanda Seyfried convence como a mocinha decidida que luta caratê, sabe manejar arma e tem coragem para desafiar tudo e todos. O destemor em falar com o “vilão” seguindo o destino que ele lhe traça para encontrar a irmã, é mesmo tarefa de mocinha das HQ. Mas é o elemento necessário ao suspense que pouco pede em termos de enigmas. O filme quase não exibe surpresas. A atenção do espectador repousa nas investigações da jovem garçonete. E para contentar o público com um enredo sem grandes surpresas, o diretor maneja a ação com cortes precisos, planos bem cuidados, iluminação eficiente para contar com o tempo, ganhando a escuridão na medida em que se ganha o trajeto da “mocinha” na busca pretendida, e uma direção de arte muito interessante, sem medo de usar velhos artifícios na constituição do cenário do crime.
É evidente que “12 Horas” não é um filme denso como os que Dhalia já realizou em sua terra natal. Foi uma concessão ao espetáculo de Hollywood. Mas não se pode dizer que não fez um exercício de produção comercial. O mais crítico a dizer é que o filme não traz muito além do que exibem algumas séries de TV. Mas são as boas séries, as que prendem plateia. E o objetivo deste “Gone” é mesmo ir ao grande mercado, é levar um autor de filmes brasileiros a um cenário extremamente competitivo. E mais: o filme abre um pequeno espaço de denúncia ao trabalho da corporação policial que rejeita as queixas da jovem de ter sido sequestrada e quase morta. Ninguém acredita em Jill e ela tem que investigar por sua conta se quer ver a irmã de volta. Esse fato, aliás, leva o espectador a não sentir segurança nas assertivas da garota e considerar que toda a trama parte da imaginação dela. Um resultado bastante divertido para quem se interessa pelo gênero.

2 comentários:

  1. A moda agora é fazer filme em inglês. Perda de identidade nacional... ah, que saudade da ousadia do Cinema Novo! Na ciência (no Brasil) também é moda: publicar só em inglês, afinal o Qualis das revistas nacionais é ruim. Lastimável!
    RSecco

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  2. Oi Luzia!
    Os cineastas patrícios não aprendem, mesmo! A lista de fiascos só aumenta nos States: Hector Babenco (naturalizado?? brasileiro; Ironweed, Playing in the Lord Field), Fernando Meireles (Ensaio sobre a Cegueira), Walter Sales (Dark Water) e agora H. Dhalia (12 Horas). Queira Deus José Padilha (o novato,com Robocop), Walter Sales (On the road) e F. Meireles (360)escapem dessa vez.
    Enquanto isso, em terras portenhas vive o melhor cinema da América Latina (com identidade própria, em língua nativa), com 2 Oscars, e (de quebra)na Literatura, um Prêmio Nobel.
    Saudações,
    Ricardo Secco

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