Ryan Goslin, num bom desempenho em "Drive"
Premio de
direção em Cannes, o filme “Drive”(EUA, 2011), do dinamarquês Nicolas Winding
Refn chega à Belém para sessões noturnas em uma sala de um dos circuitos
exibidores. Merecia mais, embora a falta de vez dos filmes premiados numa
cidade como Belém seja comum. Basta consultar os candidatos ao Oscar para se
ter ciência disso.
A trama é
simples: um mecânico, dublê de atores em cenas perigosas de filmes americanos,
serve também de motorista de ladrões quando solicitado. Este “ramo
profissional” leva-o a se afeiçoar de uma vizinha, mãe de um garoto e esposa de
um presidiário. Quando este sai da cadeia tem sob sua guarda uma vultosa soma
em dinheiro, produto do ultimo roubo e motivo de cobrança de outros parceiros
criminosos. O “driver” (motorista) resolve ajudar a mulher e o filho desta. E
se mete numa aventura em que a violência é um elemento natural de se achar
solução.
A narrativa
não se embrenha em voltas no tempo ou momentos de reflexão de algum figurante.
O estilo é bem “noir” embora a iluminação não siga o gênero que teve o seu auge
na Hollywood dos anos 40. Nesse tom, cabe um grande esforço de interpretação
para Ryan Goslin. Ele impõe a máscara de um homem calmo, monossilábico, jamais
sorridente ou capaz de demonstrar postura romântica. Mesmo sentido grande afeto
por Irene (Carey Mulligan), não a leva a cenas idílicas que possam traduzir-se
em momentos de paixão. Sabe-se das ocorrências com o mecânico por suas
atitudes. Porque a câmera segue-o o tempo todo sem necessidade de diálogos para
identificar posturas. É interessante o diretor colocar uma espécie de robô na
trama que envolve muito sentimento (de amor, de vingança, de cobiça).
São
emblemáticos os closes de Goslin. E nunca se sabe o nome dele. Não é bem
o“estranho sem nome” como o caubói vivido por Clint Eastwood num western que
exigia esse tipo de interpretação. Trata-se de um solitário que se vê nas
máquinas que conserta e maneja. E afinal um dirigente de seu próprio destino,
não à toa dando o nome de sua história ao trabalho de um condutor. Ele dirige
carros que se despedaçam nas cenas de filmes, e em sua rotina é como se fosse
um desses aparelhos que se podem despedaçar dependendo de como será conduzido.
A narrativa fluente sustenta um equilíbrio que se
alimenta da violência explicita. Há cenas de crânios esfacelados, de carros
batendo entre si com quedas em abismos, de esfaqueamento, emfim, do que possa
gerar um clima angustiante. É interessante ressaltar que a violência mostrada
não parece à toa. Quem já assistiu aos filmes de gangster da época de um James
Cagney ou Humphrey Bogart (décadas de 40 ou 50) sabe que os tipos das tramas
são necessariamente violentos. Numa fase de censura rígida, o chamado Código
Hayes, onde eram cortados planos até mesmo de exposição da cama de casal e de
mulher grávida, as balas não produziam feridas sangrentas, mas não deixavam de
mutilar personagens. Cagney desafiou essa postura em obras como “Fúria
Sanguinária” (White Heat/1949) de Raoul Walsh. Mas a plateia de hoje sentiria
falta de mais grafia na ação. Uma facada no ventre de um figurante ganha plano
próximo com direito a muito “ketchup”. E Nicolas Refn prova que esse enfoque
não é à toa. O herói, ou vilão já que a postura não torna um tipo imaculado ou
sádico, sai dirigindo o seu carro com a mão no ventre cortado por um
antagonista. Não exprime dor nem fala qualquer queixa. Como nos filmes em que
atua sem deixar nome nos créditos ele, simplesmente, dirige. Se vai ser
hospitalizado, se vai morrer, não é possivel saber. O que se sabe é que nenhum
plano dá certo (e para ninguém). È como se o driver fugisse de sua mão. E o
filme, com isso, foge do clichê e se instala no melhor de um gênero marcado
pelo uso excessivo. É a aura de um personagem que instiga a ver um tratamento
diferenciado naquele mundo que não parece caótico porque, pela suposição do
espectador, a defesa da honestidade profissional interpela os tipos que marcam
a personalidade do “driver”.
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