Em meio a
falas e discussões durante a semana, chega hoje o grande dia do Cinema Olympia:
100 anos de pé em meio à intensa circulação de pessoas de novas e velhas
gerações. As plumas e paetês do início do século, usadas por frequentadores/as
da casa para saudar uma tecnologia mais sofisticada chegada a Belém pelas mãos
de empresários interessados em aumentar seus lucros no finzinho da
“bella-epoque”, se transformaram em intensos debates, agora para saudar o feito
e o significado de uma casa de cultura, testemunha de tantos fatos sociais,
políticos e pessoais, permanecendo no mesmo local e ainda mais comprometida com
a tradição da cidade.
Se as
questões levantadas ao longo de tantas entrevistas, de exposições públicas em
seminário sobre esta sala tenderam a centrar-se nos fatos pesquisados sobre os
modos de vida e a circulação de espectadores do início do século na cidade de
Belém quando o Olympia foi criado, mesclaram-se interesses em outros assuntos
originados nesses cem anos em que a tecnologia da arte cinematográfica
subverteu e aprofundou o modo de reprodução das imagens saidas do cinematógrafo
de Louis e Auguste Lumière. Não faltaram, também, perguntas sobre a resistência
ao seu fechamento depois de tantas décadas que evidenciaram tensões pela
decadência de objetos e equipamentos demonstrativos da falta de conservação da
casa. E o que a pesquisa e a memória histórica têm evidenciado reflete a
persistência da população da cidade em reaver o esplendor do cinema nos moldes
de cada época.
Se os
estudantes paraenses da década de 1940 pleitearam a meia-entrada como beneficio
de sua condição e conseguiram a sensibilidade do então proprietário do cinema,
haja vista que esse privilégio já vinha sendo distribuido para a categoria em
outras cidades brasileiras, os da década de 1950 também fizeram seu protesto,
então pela melhoria das instalações precárias argumentando que outras casas do
tipo, em outras capitais, já apresentavam poltronas estofadas e ar refrigerado.
Com 600 lugares e, geralmente, casa cheia quando os programas eram filmes do
gênero chanchada (brasileira), tornava-se improducente curtir a sessão sem boa
qualidade do ambiente.
As sessões
extras do tipo “Vesperal Passatempo” (17 h aos sábados) e “Última Chance” (com
a exibição de filmes já exibidos e tendo percorrido os cinemas dos bairros)
também às 17h, criados pelo gerente desse cinema, Adalberto Augusto Affonso,
com a finalidade de chamar a atenção do público que áquela altura tinha outros
espaços para escolher suas preferências, o cinema Olympia mantinha-se fiel a
uma programação de qualidade demonstrando que jamais perdera o “aplonb” para
espectadores das citadas“plumas e paetês”, agora o frequentando numa
indumentária mais simples, onde o império das calças jeans e os chinelões
passaram a conviver democraticamente.
A almejada
reforma da sala de proejeção só foi alcançada quando inaugurou o Cine Palácio,
edificado por empresários locais. Precisamente em 1960 o Olympia passou a ter
as suas poltronas estofadas e ar condicionado. E suas estréias, que figuravam
na base de 3 filmes por semana converteram-se em apenas uma como, na maioria
das cidades do país.
As novas
técnicas como o cinemascope, o som estereofônico, e os gêneros de filmes foram
se adaptando (e gerando) novas faces culturais. As sessões “cinema de arte” são
exemplo ilustrativo de mudanças. De público e de comportamentos. Os mais
intelectualizados e letrados nas artes circulavam nesse espaço nas manhãs de
sábado, com as mulheres jovens tratando de estimular seu visual com as idéias
de uma moda “subversiva” de Mary Quant – em que a minissaia figurava como vetor
de imposição de costumes e as cores chamadas psicodélicas contribuiam
para isso –justapunham-se ao comportamento dessa geração “que amava os Beatles
e os Rolling Stones” e gerenciava outros tipos de saberes mais entrosados com
os costumes da contemporaneidade. Estes queriam entender o cinema, a técnica da
linguagem, o modo de conviver com as mudanças da geração Woodstok.
Mas os
empresários começaram a sentir os efeitos de concorrências das novas mídias
como a TV, o video (VHS e depois DVD), com a pirataria do gênero e,
principalmente, a falta de segurança nos cinemas de rua. Migrou-se para os
shoppings. E o Olympia, como outros espaços do tipo, foi relegado por seu
proprietário. Veio o clamor público e a intervenção da PMB. Hoje é Espaço
Municipal Olympia. E resiste. E ganha a homenagem que merece por
sualongevidade.
Parabéns
cinema Olympia. Por tudo o que nos brindou nestes 100 anos. Você merece!
Minha amiga Fátima Faro Lopes, me indicou seu blog. Parabéns!
ResponderExcluirTemos que valorizar as nossas memórias. Pena que os poderes de plantão, não dão a devida importância às nossas riquezas culturais.
Parabéns pelo seu blog, mais uma vez.Nazareth Peres (nazarethperes.blogspot.com)
Viva o Cinema Olimpia! Lá, aprendi muito de cinema.
ResponderExcluirR.Secco