Hoje a coluna deixa de apresentar os vídeos da semana e publica um texto
importante sobre o Maestro Altino Pimenta e sua canção para o Olympia, escrito
pela Professora Maria Lenora Menezes de Britto (Mestre em Musicologia –USP-UFPA
e ocupante da Cadeira nº 1 da Academia Paraense de Música). Este texto será
publicado no “Olympia Jornal” a ser organizado por Pedro Veriano em homenagem
ao centrenário desta casa.
O Cinema
Olympia e o compositor Altino Pimenta
Encontrei-me, na semana passada, com Pedro Veriano.
Não, não foi em sessão especial de filme, foi mesmo em um supermercado... Nossa
conversa foi girando sobre cinema e, naturalmente, sobre as comemorações do
aniversário do cinema Olympia, vitorioso ao escapar do terrível esquecimento
que se abatia sobre ele, dentre tantos esquecimentos terríveis que ocorrem em
Belém com nossos prédios, praças e nossa história.
Logo nos recordamos do músico paraense Altino
Pimenta, que compôs OLYMPIA, e nada mais oportuno que lembrar
esta homenagem e incluí-la nas comemorações do querido cinema.
A composição é para violino e piano e traz na
partitura, logo abaixo do título, a frase: “lembranças do velho cinema”.
Essa dedicatória me deixou curiosa e tentei
alcançar a emoção do compositor, descobrir o vínculo que mantivera com o “velho
cinema”. Sua filha, Denise Pimenta, foi a quem recorri e ela voltou, então, em
câmera lenta, às“lembranças” que, contidas na memória de seu pai, transbordaram
para a pauta musical, ao escrever Olympia.
Altino nascera de seis meses, depois de muitos
insucessos para sua mãe levar a termo aquela gestação. Quando a criança veio ao
mundo, pelas mãos do famoso Dr. Lauro Magalhães, era fraquinha e muito pequena.
A família toda se desdobrava em cuidados. E, mais tarde, que luta para o menino
comer! Brinquedos, histórias, álbuns com belas figuras – seu pai era dono da
Livraria Gilet – tudo para distrair o “menino fraquinho” e fazê-lo engolir umas
poucas colheradas de alimento.
Eles moravam na Assis de Vasconcelos e o garotinho
inventou, certo dia, que só comeria se fosse no coreto da Praça da República.
Todo aquele espaço era seu!
Voltando à
casa, viu uma senhora a talhar com cuidado e quase respeito, uns cortes de
seda, vindos da conceituada e ultra chicParis n’América. Era ainda o
tempo em que a costureira vinha às casas para confeccionar os vestidos e
caprichar nos bordados e nas rendas das “roupas íntimas” das mulheres da
família.
O menino
pegou uma tesoura que estava a um canto da mesa e alegremente iniciou um
poderoso estraçalhamento das sedas e rendas... Tudo lhe era permitido, contanto
que comesse...
Depois, já
mais grandinho, insistiu para entrar no cinema Olympia. O porteiro achou graça
da teimosia daquele garoto franzino e da aflição da babá para contê-lo, e
permitiu que entrasse. Pronto! No outro dia anunciou que só comeria se fosse
dentro do Olympia. Assim foi feito e assim foi saboreado! As bravuras de Tom
Mix, as cambalhotas de Chaplin, os primeiros medos com Lon Chaney, Charles
Laughton (no Corcunda de Notre Dame) e, a música sugerindo, ligando,
arrematando, eram um encantamento para Altino.
Sua
imaginação, a vontade de improvisar ao piano ali estavam recebendo as primeiras
proteínas...
A composição
Olympia foi escrita por Altino Pimenta em 1992. É alegre e
espirituosa, em andamento vivo. Na partelírica e mais calma, as frases do
violino são a imagem chapliniana na sua declaração amorosa à florista cega.
Logo há o retorno à primeira parte, de caráter vivaz, e a obra se encerra com
uma coda vitoriosa, na qual o piano apresenta, quase marcial, o tema
então usado no cinema Olympia, no início das sessões.
Olympia está gravada no CD Altino Pimenta – Projeto Uirapuru – O canto da
Amazônia – SECULT/PA. Ao violino, Celson Gomes, violinista paraense. Esta
gravação de Olympiaapresenta a importância histórica de ter
Altino Pimenta ao piano.
A peça
também foi gravada no CD Música Brasileira, com arranjo de Barry Ford para
clarinete, violino e piano. ARCORTRIO (Marcos Cohen, Celson Gomes e Cintia
Vidigal) – PROEX/ UFPA- SECULT/FAPESPA - 2011.
“As lembranças são como gravetos que se junta para
fazer o fogo”, -poetisa Mário Quintana. Que este fogo, estas brasas, nunca se
apaguem. (Lenora Britto)
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