segunda-feira, 23 de abril de 2012

O OLYMPIA E A MÚSICA


Hoje a coluna deixa de apresentar os vídeos da semana e publica um texto importante sobre o Maestro Altino Pimenta e sua canção para o Olympia, escrito pela Professora Maria Lenora Menezes de Britto (Mestre em Musicologia –USP-UFPA e ocupante da Cadeira nº 1 da Academia Paraense de Música). Este texto será publicado no “Olympia Jornal” a ser organizado por Pedro Veriano em homenagem ao centrenário desta casa.

O Cinema Olympia e o compositor Altino Pimenta

Encontrei-me, na semana passada, com Pedro Veriano. Não, não foi em sessão especial de filme, foi mesmo em um supermercado... Nossa conversa foi girando sobre cinema e, naturalmente, sobre as comemorações do aniversário do cinema Olympia, vitorioso ao escapar do terrível esquecimento que se abatia sobre ele, dentre tantos esquecimentos terríveis que ocorrem em Belém com nossos prédios, praças e nossa história.

Logo nos recordamos do músico paraense Altino Pimenta, que compôs OLYMPIA, e nada mais oportuno que lembrar esta homenagem e incluí-la nas comemorações do querido cinema.

A composição é para violino e piano e traz na partitura, logo abaixo do título, a frase: “lembranças do velho cinema”.

Essa dedicatória me deixou curiosa e tentei alcançar a emoção do compositor, descobrir o vínculo que mantivera com o “velho cinema”. Sua filha, Denise Pimenta, foi a quem recorri e ela voltou, então, em câmera lenta, às“lembranças” que, contidas na memória de seu pai, transbordaram para a pauta musical, ao escrever Olympia.

Altino nascera de seis meses, depois de muitos insucessos para sua mãe levar a termo aquela gestação. Quando a criança veio ao mundo, pelas mãos do famoso Dr. Lauro Magalhães, era fraquinha e muito pequena. A família toda se desdobrava em cuidados. E, mais tarde, que luta para o menino comer! Brinquedos, histórias, álbuns com belas figuras – seu pai era dono da Livraria Gilet – tudo para distrair o “menino fraquinho” e fazê-lo engolir umas poucas colheradas de alimento.

Eles moravam na Assis de Vasconcelos e o garotinho inventou, certo dia, que só comeria se fosse no coreto da Praça da República. Todo aquele espaço era seu!

Voltando à casa, viu uma senhora a talhar com cuidado e quase respeito, uns cortes de seda, vindos da conceituada e ultra chicParis n’América. Era ainda o tempo em que a costureira vinha às casas para confeccionar os vestidos e caprichar nos bordados e nas rendas das “roupas íntimas” das mulheres da família.

O menino pegou uma tesoura que estava a um canto da mesa e alegremente iniciou um poderoso estraçalhamento das sedas e rendas... Tudo lhe era permitido, contanto que comesse...

Depois, já mais grandinho, insistiu para entrar no cinema Olympia. O porteiro achou graça da teimosia daquele garoto franzino e da aflição da babá para contê-lo, e permitiu que entrasse. Pronto! No outro dia anunciou que só comeria se fosse dentro do Olympia. Assim foi feito e assim foi saboreado! As bravuras de Tom Mix, as cambalhotas de Chaplin, os primeiros medos com Lon Chaney, Charles Laughton (no Corcunda de Notre Dame) e, a música sugerindo, ligando, arrematando, eram um encantamento para Altino.

Sua imaginação, a vontade de improvisar ao piano ali estavam recebendo as primeiras proteínas...

A composição Olympia foi escrita por Altino Pimenta em 1992. É alegre e espirituosa, em andamento vivo. Na partelírica e mais calma, as frases do violino são a imagem chapliniana na sua declaração amorosa à florista cega. Logo há o retorno à primeira parte, de caráter vivaz, e a obra se encerra com uma coda vitoriosa, na qual o piano apresenta, quase marcial, o tema então usado no cinema Olympia, no início das sessões.

Olympia está gravada no CD Altino Pimenta – Projeto Uirapuru – O canto da Amazônia – SECULT/PA. Ao violino, Celson Gomes, violinista paraense. Esta gravação de Olympiaapresenta a importância histórica de ter Altino Pimenta ao piano.

A peça também foi gravada no CD Música Brasileira, com arranjo de Barry Ford para clarinete, violino e piano. ARCORTRIO (Marcos Cohen, Celson Gomes e Cintia Vidigal) – PROEX/ UFPA- SECULT/FAPESPA - 2011.

“As lembranças são como gravetos que se junta para fazer o fogo”, -poetisa Mário Quintana. Que este fogo, estas brasas, nunca se apaguem. (Lenora Britto)


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