Pela
segunda vez, o ator Liam Neeson trabalha com o diretor Joe Carnahan (a primeira
foi em “Esquadrão Classe A”(The A Team/2010) . O filme “A Perseguição”(The
Grey/EUA, 2012) ora em cartaz nacional, trata da odisséia de 7 sobreviventes de
um desastre de aviação no Alaska. Todos os personagens são trabalhadores em
poços de petróleo e ex-presidiários. O personagem vivido por Neeson tem suas
atividades em uma determinada localidade da região nevada. O enfoque maior é
sobre o seu personagem, Ottway, nas primeiras sequências do filme mostrando-se
um tipo convivendo em depressão, sem que se conheça a causa (esse detalhe é
importante porque deixa um clima de expectativas no público e só será conhecido
no final). Esse estado de desânimo leva-o a tentar o suicídio com um rifle,
possivelmente seu instrumento de trabalho. Mas, nesse momento vê-se em perigo
ao avistar um lobo que o encara, aproximando-se, e por isso usa a arma para
matar o animal. Esta cena, vista no inicio do filme, é muito importante no
âmbito da narrativa. Trata-se do processo de sobrevivência que vai ter que
enfrentar na zona onde cai o avião, haja vista que lobos ferozes estão à
espreita dos sobreviventes. E pode-se dizer que o caçador, no caso Ottway, se
transforma em caça. E não é só ele: todos os companheiros de desdita que
caminham com ele em busca do retorno à terra civilizada, estão destinados ao
enfrentamento com a fera – o perigo maior além da tempestade de neve - a servir
de refeição aos lobos famintos.
É de supor que o/a frequentador/a
de cinema considere, pelo título, “A Perseguição” como um filme de ação e
suspense como tantos realizados por Hollywood. A comparação mais próxima é com “O
Voo do Fênix”(The Flight of Phoenix), produzido em duas versões lançadas,
respectivamente, em 1965, por Robert Aldrich, e em 2004 por John Moore, e ainda
com “Vivos”(Alive/1993), de Frank Marshall e “Caminho da Liberdade”(The Way
Back/2010) de Peter Weir. Mas, se nesses exemplos o desenlace contenta os que
buscam apenas um divertimento bem administrado, mesmo no caso de “Vivos”, onde
se reporta o fato real acontecido nos Andes com uma equipe desportiva, no
trabalho de Joe Carnaham, com base em um conto de Ian Mackenzie Jeffers
(coautor do roteiro cinematográfico), as concessões são mínimas. Na sessão em
que estive algumas pessoas saíram antes de o filme terminar e, no final,
pressenti que os elogios foram poucos. Contudo, é um programa de exceção que
não atinge uma parte do espectador comum, acostumado às aventuras
hollywoodianas. Com desempenhos excelentes de todo o elenco, embora Liam Neeson
se destaque pela própria condição da figura que interpreta, a narrativa explora
bem o tempo da ação proporcionando o suspense da luta dos trabalhadores contra
a nevasca (são constantes as tempestades de neve) e as feras circundantes. Mas,
se essa aparente expectativa das imagens pode submeter a trama a esse valor
corriqueiro, na verdade, alguns detalhes com flashes sobre o que representa o
viver e o morrer para aqueles homens, centra-se numa máxima que é sempre
lembrada pelo líder do grupo, Ottway/Neeson, extraída das idéias de seu pai,
sintetizada em duas palavras : ou viver ou morrer. Dessa forma, considero que o
filme não é só um relato frio (sem analogia) de um acontecimento. Através dos
tipos, abre espaço para se tratar, também, de diversos temas como depressão, companheirismo,
o valor que as pessoas amadas evidenciam numa hora de desespero, e, até mesmo,
a perda da fé – ou a discussão sobre o “esquecimento de Deus”. Tudo sem
demagogia, sem forçar a abordagem apta ao “thriller”. Uma boa surpresa.Vendo “A Perseguição” lembrei-me de outro filme em que os lobos são os vilões da história: “Pânico na Neve” (Frozen/2010) de Adam Green. Ali 3 adolescentes presos num teleférico também são cobiçados por lobos. A opção é ficar preso bem acima do solo nevado até que alguém mova o teleférico ou se jogue no solo e enfrente os animais selvagens. O mesmo medo ocorre com os sobreviventes do desastre aéreo que elegem Ottway como líder do grupo. É a verdadeira batalha contra “lobos maus”(no dizer do conto de fadas).
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