domingo, 22 de abril de 2012

TITANIC

Leonardo di Caprio e Kate Winslet em "Titanic", 1998)
Na noite de 14 de abril de 1912 o majestoso navio Titanic viajando de Londres para Nova York bate num iceberg e naufraga. O saldo da tragédia foi de 700 sobreviventes e 1500 mortos. O cinema se ocupou do assunto logo depois do naufrágio, no mesmo ano, com a produção alemã “In Nacht und Eis” de Mime Misu. As versões mais conhecidas são a de Jean Neguleso, para a Fox, em 1953, com Clifton Webb e Barbara Stanwyck, a de Roy Baker em 1958 exibida no Brasil com o nome de “Somente Deus por Testemunha”(A Night to Remember) e a de James Cameron em 1997 que ora é reapresentada em adaptação para 3D.
A tecnologia que permite visualizar as imagens em 3 dimensões evidencia a profundidade de campo. Mas o forte do filme de Cameron é a montagem. Ele consegue um suspense de vulto nas cenas finais com planos dos corredores do navio inundados e da luta de Rose (Kate Winslet) para salvar seu amado Jack (Leonardo di Caprio) algemado numa das dependências mais vulneráveis da embarcação. Também faz prodígio a direção de arte, recriando o navio em tomadas internas e externas, tudo construído em estúdio (inclusive o tanque que serviu para dimensionar o oceano).
Vi e vejo o trabalho de Cameron como um dos mais eficientes em termos técnicos. Tudo funciona numa dimensão espetacular, deixando muito pouco para a estrutura do personagem que viaja na 3ª classe ao ganhar uma passagem por sorte no jogo e tem inclinação para a arte de desenhar. O tipo serve para mostrar a diferença de classe na embarcação, ganhando dimensão de horror quando se vê os guardas fecharem as portas que dividem os segmentos onde estão ricos e pobres e ironizando quando se vê que todos enfrentam a morte nas águas geladas.
É natural que um blockbuster do tamanho de “Titanic” (sem ironia) abra espaço para concessões comerciais. O romance de dois dias, com força para assimilar o sacrifício da heroína, é peça de folhetim. Nesse caso, converge para o centro do argumento dimensionando a condição social dos protagonistas. As classes sociais definidas em espaços específicos no interior do navio são mostradas de acordo com privilégios e ou discriminação, desenhando-se, também, valores e costumes dessas classes. É o caso dos familiares de Rose em comparação com a turma amiga de Jack. A falsidade de uns, na primeira classe, está contraposta à honestidade e simplicidade dos da terceira classe, daí a afinidade da jovem à alegria contagiante dessa turma com quem se associa até o fim. E por ai vai a definição folhetinesca.
Mas o filme funciona também como o veiculo do enfoque básico, ou seja, o naufrágio. Nesse ponto, o trabalho de James Cameron é imbatível. Ganha os concorrentes do passado e chega até mesmo a superar o filme de Roy Baker que se detinha num membro da tripulação (Kenneth More), esmiuçando detalhes do desastre e dos pedidos de socorro, neste ponto denunciando um barco que estaria mais próximo do local do naufrágio e se omitiu a responder até mesmo os fogos de sinalização disparados do Titanic e que o seu comandante chegara a ver.
O trabalho de Cameron levantou 11 Oscar, sendo o campeão em prêmios irmanado com “Ben Hur”(1959) e “O Senhor dos Anéis, O Retorno do Rei”(The Fellowship of the Rings 2003). Em Belém, o sucesso foi representado por enormes filas, mesmo em vesperais dos dias uteis, no cinema Olímpia, passando depois para o Nazaré 1 e sendo reapresentado anos depois pelo Cinema 1. Creio que este foi o último filme a fazer tanto sucesso nos cinemas de rua da cidade (hoje todos extintos). E está entre os mais vistos na casa que hoje também atinge o centenário. Um programa histórico dentro e fora da tela.

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