O
melhor filme que assisti em DVD ultimamente foi “Cerejeiras em
Flor”(Hanami/Alemanha ,2008) de Doris Dörrie. O roteiro da própria diretora trata
de um homem com doença terminal que é levado por sua esposa a um passeio com
destino ao Japão onde ela, especialmente, quer ver o Monte Fuji, cenário que
admira de xilogravura e afinal uma cultura que evocava em dança na juventude.
No caminho, o casal para em Berlim para visitar os filhos. Só um deles é
ausente, morando justamente em Tóquio. A indiferença dos jovens (um rapaz e uma
moça) é relevada pela mãe, como sempre. O agravante é que eles desconhecem o
estado de saúde do pai. Nem o próprio doente tem conhecimento da gravidade de
sua doença. Certo dia, a dedicada esposa amanhece morta. E resta aos filhos
tomarem conta do pai que, muito abalado, resolve prosseguir viagem para o
Japão. Ali, em contato com uma dançarina folclórica que exalta no ritmo a sua
mãe já falecida ele ganha um alento que não consegue obter na companhia do
filho, mais afeito à saudade da mãe e/ou muito ocupado para se deter nas
idiossincrasias que o pai adota em busca de descobrir o paradeiro da esposa de
quem sente saudades.
O
tratamento narrativo é de uma sensibilidade extrema conseguindo deslocar a
história do ritmo de um melodrama vulgar. Compara-se a vida de Rudi (Elmar
Wepper) às flores de cerejeira que são fugazes e evocam a vida dos samurais,
também curtas. A fotografia de Hanno Lentz consegue registrar a beleza ambiente
e a música de Claus Bantzer acompanha a jornada cultural do principal
personagem.
Um
filme brilhante em todos os sentidos. Ganhou 7 prêmios internacionais, mas não
chegou aos cinemas de Belém. Está em DVD nas locadoras. É imperdível.
Raridade
cinematográfica ganha o mercado de DVD no Brasil com novos exemplares: “Ratos
& Homens”(Of Mice and Men/EUA,1939) de Lewis Milestone e “A Noite
Nupcial”(The Wedding Night/EUA,1935) de King Vidor. No primeiro observa-se um
modelo de adaptação de um texto teatral (vindo de John Steinbeck), com a
pintura da região rural do sul dos EUA nos anos da depressão, ressaltando-se,
além da narrativa que aproveita enquadramentos e iluminação, desempenhos
primorosos como o de Lon Channey Jr. como Lennie, o gigante de baixo QI que se
apega ao amigo George (Burgess Meredith), mas não consegue medir a consequência
de seus atos.
“A
Noite Nupcial”(The Wedding Night/EUA,1935) assombra hoje se observado como um
produto de uma fase casta do cinema americano. Baseado em um romance de Edwin
Kopf com roteiro de Edith Fitzgerald apresenta Gary Cooper como um escritor em
crise criadora que tenta inspiração no interior do país. Sua esposa, Helen
(Dora Barrett), odeia isolamento e procura voltar para Nova York. Mas o
escritor inspira-se, afinal, na jovem Manya (Ann Sten), aldeã prometida pelo
pai polonês a casar-se com um homem rico (Ralph Bellamy). Surge um romance
adúltero e termina em tragedia. Mas há muita sutileza na apresentação da
história e a direção do mestre King Vidor (“A Turba”) consegue passar ao largo
das armadilhas de dramalhões semelhantes.
E
revi, ainda, “Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios”(Otaz na sluzbenom
putu/Iugoslavia, 1960) de Emir Kusturika. O argumento trata da mudança que se
processava na antiga e unida Iugoslávia na época do governo Tito. A narrativa é
de uma criança, mas nem sempre se afina como tal. Esta falta de hegemonia pesa,
mas a exposição dramática e cultural persiste como um bom momento de cinema.
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