segunda-feira, 21 de maio de 2012

CEREJEIRAS EM FLOR



O melhor filme que assisti em DVD ultimamente foi “Cerejeiras em Flor”(Hanami/Alemanha ,2008) de Doris Dörrie. O roteiro da própria diretora trata de um homem com doença terminal que é levado por sua esposa a um passeio com destino ao Japão onde ela, especialmente, quer ver o Monte Fuji, cenário que admira de xilogravura e afinal uma cultura que evocava em dança na juventude. No caminho, o casal para em Berlim para visitar os filhos. Só um deles é ausente, morando justamente em Tóquio. A indiferença dos jovens (um rapaz e uma moça) é relevada pela mãe, como sempre. O agravante é que eles desconhecem o estado de saúde do pai. Nem o próprio doente tem conhecimento da gravidade de sua doença. Certo dia, a dedicada esposa amanhece morta. E resta aos filhos tomarem conta do pai que, muito abalado, resolve prosseguir viagem para o Japão. Ali, em contato com uma dançarina folclórica que exalta no ritmo a sua mãe já falecida ele ganha um alento que não consegue obter na companhia do filho, mais afeito à saudade da mãe e/ou muito ocupado para se deter nas idiossincrasias que o pai adota em busca de descobrir o paradeiro da esposa de quem sente saudades.
O tratamento narrativo é de uma sensibilidade extrema conseguindo deslocar a história do ritmo de um melodrama vulgar. Compara-se a vida de Rudi (Elmar Wepper) às flores de cerejeira que são fugazes e evocam a vida dos samurais, também curtas. A fotografia de Hanno Lentz consegue registrar a beleza ambiente e a música de Claus Bantzer acompanha a jornada cultural do principal personagem.
Um filme brilhante em todos os sentidos. Ganhou 7 prêmios internacionais, mas não chegou aos cinemas de Belém. Está em DVD nas locadoras. É imperdível.
Raridade cinematográfica ganha o mercado de DVD no Brasil com novos exemplares: “Ratos & Homens”(Of Mice and Men/EUA,1939) de Lewis Milestone e “A Noite Nupcial”(The Wedding Night/EUA,1935) de King Vidor. No primeiro observa-se um modelo de adaptação de um texto teatral (vindo de John Steinbeck), com a pintura da região rural do sul dos EUA nos anos da depressão, ressaltando-se, além da narrativa que aproveita enquadramentos e iluminação, desempenhos primorosos como o de Lon Channey Jr. como Lennie, o gigante de baixo QI que se apega ao amigo George (Burgess Meredith), mas não consegue medir a consequência de seus atos.
“A Noite Nupcial”(The Wedding Night/EUA,1935) assombra hoje se observado como um produto de uma fase casta do cinema americano. Baseado em um romance de Edwin Kopf com roteiro de Edith Fitzgerald apresenta Gary Cooper como um escritor em crise criadora que tenta inspiração no interior do país. Sua esposa, Helen (Dora Barrett), odeia isolamento e procura voltar para Nova York. Mas o escritor inspira-se, afinal, na jovem Manya (Ann Sten), aldeã prometida pelo pai polonês a casar-se com um homem rico (Ralph Bellamy). Surge um romance adúltero e termina em tragedia. Mas há muita sutileza na apresentação da história e a direção do mestre King Vidor (“A Turba”) consegue passar ao largo das armadilhas de dramalhões semelhantes.
E revi, ainda, “Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios”(Otaz na sluzbenom putu/Iugoslavia, 1960) de Emir Kusturika. O argumento trata da mudança que se processava na antiga e unida Iugoslávia na época do governo Tito. A narrativa é de uma criança, mas nem sempre se afina como tal. Esta falta de hegemonia pesa, mas a exposição dramática e cultural persiste como um bom momento de cinema.

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