O grande
problema dos “blockbusters” atuais é a escolha do inimigo. Sem os russos do
tempo da guerra fria, os terroristas nem sempre são bem-vindos a conta do
trauma deixado no povo norte-americano pelo 11/09/2001. Ficam os ETs. E em
“Battleship, A Batalha dos Mares”(Battleship/EUA,2012) são eles que chegam
caindo no oceano (não só o Pacifico como se pode ver na sequencia em que caem
perto de Pequim) e por isso desafiando a marinha dos EUA.
No inicio
do filme mostra-se a descoberta de um planeta semelhante a Terra na posição que
ocupa com relação ao seu sol. Mas, com uma velocidade que só se explica pela
reticência do roteiro, eles alcançam o nosso mundo. E um cientista diz a outro:
”-É como os índios; nós somos índios”.
Um
ligeiro apanhado de sequencias identifica alguns personagens, especialmente um
jovem rebelde “de figurino”, ou seja, na linha que deriva da turma comandada
por James Dean em “Juventude Transviada”(Rebel without a cause/1955). Este
rapaz muda de comportamento ao entrar para a marinha. E acaba sendo um herói,
como colegas que enfrentam os Ets, seja dentro d’água seja na luta corpo a
corpo.
Há uma
cena em que se abre a armadura de um alienígena ferido. Vê-se um ser de
aparência disforme do que aqueles mostrados em filmes como “O Homem do Planeta
X” (que no meu entender um dos mais feios concebidos pelos autores de cinema
hollywoodiano). Dá para pensar no motivo de se estimar os vizinhos siderais de
monstros. A verdade é que o próprio ser humano acha feio o que desconhece. Na
história de “A Bela e a Fera” de Mme. Leprince de Beaumont, Fera é um príncipe
encantado. Mas até se descobrir isso é um animal horroroso. Bem diz Jean Marais
no papel :”-Pobre de nós as feras que só sabemos sofrer e morrer”. Já o
Quasimodo de Victor Hugo interpretado por Charles Laughton dizia-se “feio como
o homem da lua”.
Creio que
é mais difícil achar, na história do cinema, extraterrestres afáveis. Lembro-me
do ET de Spielberg, do Klatoo de “O Dia em que a Terra Parou”, dos bem
recebidos tripulantes de discos voadores em “Contatos Imediatos do 3º Grau”. O
normal é inimigo feroz. E se em filmes como “Alien, o Oitavo Passageiro” isto é
aproveitado para um ensaio do gênero “terror”, o mais freqüente é mediocridades
como este “Battleship”, uma propaganda explicita do poder bélico
norte-americano na época de intervenções do país em guerras diversas.
Um
exemplo de cinema para perder tempo, afinal, um videogame sem a interatividade
que movimenta o tipo de jogo.
Melhor é
rever ou conhecer “Drive”, de Nicolas Refn, que está sendo relançado no Cine
Estação. Já opinei a respeito (cf. Blog da Luzia): são emblemáticos os closes
do ator Ryan Goslin. E nunca se sabe o nome de seu personagem. Não é bem o
“estranho sem nome” como o caubói vivido por Clint Eastwood num bom western que
exigia esse tipo de interpretação. É um solitário que se vê nas máquinas que
conserta e maneja. E afinal um dirigente de seu próprio destino, não à toa
dando o nome de sua história ao trabalho de um condutor. Ele dirige carros que
se despedaçam nas cenas de filmes, e em sua rotina é como se fosse um desses
aparelhos que se podem despedaçar dependendo de como será levado.
A
narrativa fluente sustenta um equilíbrio que se alimenta da violência explicita
e que não parece à tôa.
Mas
voltando ao “Battleship”, não perca tempo em assistir a mais esse blockbuster.
A indigestão desse tipo de filme pode causar aversão ao cinema como arte.
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