Kristen Stewart , como Branca de Neve, na Floresta Negra fugindo da rainha má.
O
modismo no cinema impera. Agora reciclam-se velhas histórias já tratadas em
filmes de outras épocas. Depois de serem revestidos os monstros clássicos, da
Criatura de Frankenstein a Drácula e ao Lobisomem, surge agora o conto de fadas
(inclusive há este modo de tratar também em seriados da tv fechada). Logo
depois de “Espelho, Espelho Meu”(2012) surge “Branca de Neve e o Caçador” (Snow White and the Huntsman, EUA,
2012) inspirado
no que escreveram os irmãos Grimm.
O
filme que está em cartaz internacional e esta semana alcançou o primeiro lugar
nas bilheterias norte-americanas (e creio que também nas brasileias) marca a
estreia do publicitário Rupert Sanders na direção. E não se pode dizer que não
tenha sido auspiciosa. O filme é bem dirigido, conjugando efeitos digitais
primorosos e conseguindo desempenho satisfatório de atores não muito afeitos a papéis
densos. O que surpreende, e pode até gerar reclamações de antigos fãs do gênero,
são as interferências na trama. O principal: Branca de Neve não espera que um
príncipe a desperte de um sono produzido pela madrasta malévola. Quem lhe dá o
beijo ressuscitador é o caçador que a mesma madrasta havia contratado para
matá-la. Um tipo secundário no enredo dos Grimm que é promovido para dar ao
conjunto uma feição moderna de “blockbuster de ação”.
Quem
assistiu ao desenho animado da Disney, o primeiro longa-metragem dessa
categoria, sabe apenas poucas informações sobre os pais de Branca, de como a
mãe morreu e de como o pai encontrou a nova mulher, casou-se e acabou também
morto. No roteiro de Hossein Amini, Evan Daughery e John Lee Hancock, a
narrativa abre com a sequência em que a mãe da princesinha é picada pelo
espinho de uma rosa e três gotas de sangue mancham a neve aos seus pés, com
isso decidindo o nome da filhinha que está a nascer. E a criança acompanha a doença
e morte da rainha. O recorte seguindo é ao pai guerreiro encontrando a nova
esposa prisioneira de guerra. Evidencia-se então que ele foi morto pela mulher,
que ela se tornou a rainha malvada tendo o irmão como seu ajudante em todos os
sentidos.
No
desenho, o caçador leva Branca de Neve para a floresta, mas tem pena de
matá-la. E a fuga ganhava um tom de horror com as arvores tentaculares querendo
abraçá-la. Aqui elas aparecem, mas os bichinhos que acordam a moça na concepção
bucólica dos desenhistas de 1937 dão espaço para o caçador, contratado pela
madrasta para matar a intrusa no seu governo e na sua beleza. Ele não só mudará
de ideia como no original desde os Grimm, mas será o protetor e apaixonado pela
personagem.
Também
há um tom político na versão moderna. Branca compreende que é filha de um
monarca muito querido por seu povo. Com o governo despótico da madrasta esse
povo foi alijado. Há um sentido de revolta que a princesa, na fuga com o
caçador, vai incentivar promovendo uma batalha pela invasão do castelo real e a
deposição da rainha.
E
os anões? Um deles morre numa luta com os guardas reais. Os seis restantes vão
ajudar o exército rebelde a tomar o trono. São eles que levantarão a ponte que
dá acesso ao castelo. Desta vez, os personagens não são nominados como na
animação antiga nem guardam a simpatia dos primitivos Dunga, Dengoso, Mestre, Soneca,
Atchim, e até mesmo do Zangado. São até mesmo tipos feios, amedrontadores no
primeiro encontro com Branca de Neve. São vistos como parte do povo que é
execrado pela Rainha má.
O
que se nota, neste exemplar reformulado do tema mágico dos Irmãos Grim, é uma
versão político-guerreira de um povo que luta por sua independência das mãos de
ditadores que, embora com certos poderes mágicos, não mais repercutem
convincentemente sobre aqueles que esperam ganhar a liberdade. É como se você
estivesse lendo a história dos conquistadores do século treze ou quatorze. Esse
viés é interessante porque esplora uma nova legenda do belicismo clássico onde
se encontravam vários heróis e heroinas lutando pela liberdade e a vida.
O
filme tem uma produção luxuosa. A Universal apostou no sucesso popular. E deve
estar satisfeita agora. A mim não pareceu que satisfaça a sede do imaginário
infantil que os ancestrais da história promoviam. Mas, como eu disse, revela,
do mágico, um recorte da realidade de um certo povo.
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