Nas primeiras seqüencias, o filme
revela que há um agente duplo no Circus, alto comando do serviço secreto
britânico (o MI-6). Por isso, o veterano George Smiley (Gary Oldman) é guinado
a descobrir quem é este agente que envia as informações sigilosas para os
soviéticos. A desconfiança parte de Control (John Hurt), chefe dessa divisão de
elite do MI-6 e que não tem condições de continuar a investigação.
Smiley está se aposentando do
Circus depois de concluir que uma das quatro pessoas com quem trabalhou em
Budapeste é o espião. Para isso, solicita a ajuda de Peter (Benedict
Cumberbatch), outro veterano, mas ainda ativo no serviço secreto. Não será
fácil desvendar o caso e essa tarefa, por ser minuciosa, ganha o equivalente em
imagens segundo o diretor sueco Thomas Alfredson (do muito bom “Deixa Ela
Entrar”). É uma narrativa não linear que obriga muita atenção do espectador.
Talvez por isso, por introduzir uma narrativa dos eventos de forma segmentada e
ela, em si, ganhar diversos rumos, complicando um raciocínio rápido, a
bilheteria mundial tenha sido fraca. Mas felizmente os cinéfilos mais exigentes
descobriram o trabalho e ele chegou a dar ao veterano Gary Oldman uma
candidatura ao Oscar, assim como a música e o roteiro. Este roteiro também foi
candidato e ganhou o Bafta (Oscar inglês) e o filme chegou a colecionar 15
prêmios internacionais e 43 indicações.
“O Espião que Sabia Demais” é um
jogo que o espectador é convidado a jogar como um filme de detetive quando a
meta é descobrir um criminoso. Mas imaginem Sherlock Holmes delineando as
pistas ao mesmo tempo em que se apega a seus problemas de saúde onde se engloba
alterações de ordem psicológica. O papel de George não sai por menos. Gary
Oldman compõe muito bem o homem que investiga colegas quando desejava descansar
de um posto onde é forçado a isso. Há muitos detalhes de seu rosto, o tom da imagem
é geralmente escuro, o enquadramento opta pela contraposição de grandes
espaços, há uma tentativa de cinema introspectivo que em historia
potencialmente de ação é um desafio. Não conheço o original literário, mas o
filme de agora deixa supor esta profundidade temática. Aliás, isso é percebido
no “Espião que Saiu do Frio”(1965) de Martin Ritt. Mais ainda por ter sido realizado
numa época em que a linguagem linear era como uma obrigação da indústria. Por
tantas qualidades, o novo “Espião...”foge ao comum. E deve ser visto.
Este enfoque sobre o filme mostra o
diferencial que o segue na sua realização. Filme de espionagem geralmente tem
um liame de suspense, mas o que delineia uma narrativa mais criativa é,
justamente, o envolvimento com o processo fílmico de demonstrar que o que
deveria ser não é, usando a câmera. Nos primórdios do cinema, o fato de um
filme ser conduzido pela lógica do suspense, favorecia uma linguagem nascente
diferenciada daquela que era exibida na versão linear, pois, o filme de suspense
tinha lógicas criativas , sem movimento de câmera, mas saltando de um lado para
outro para demonstrar outras ambiencias a procura do que estava sendo
investigado. Esse é um dos detalhes que Flávia Cezarino Costa esboça em “O
Primeiro Cinema” (Scritta, SP, 1995) quando trata de “espetáculo, narração,
domesticação”.
Assistir a “O Espião que Sabia
Demais” não deixa de ser uma maneira de estudar o “cinema de gênero”,
verificando as diferenças.
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