Uma das cenas mais marcantes do filme de Leclerc.
Dois filmes, um francês e um canadense, se destacam
no programa que assisti esta semana em cópias DVD: ”Os Nomes do Amor”(Le Nom
des gens, Fr., 2010) e “Eu Matei Minha Mãe” (J'ai tué ma Mère, Canadá, 2009).
O primeiro é uma comédia criativa de Michel Leclerc sobre comportamentos
distintos de herdeiros de pessoas que sofreram discriminações: ele (Jacques
Gamblin) filho de uma judia sobrevivente do holocausto, ela, de argelinos que
lutaram pela independência contra os franceses.
O filme de Leclerc é literalmente narrado pelo
personagem de Jacques, Arthur Martin, que diante da câmera vai relatando o
pitoresco de nomes semelhantes, a exemplo, cita um time de futebol numa copa do
mundo em que vários jogadores tinham o mesmo nome e por isso geravam grande
confusão. O titulo original, “Le Noms des Gens” diz tudo. E este título leva ao
relacionamento dele, um biólogo especializado em necropsia de animais, com a
ativista política Bahia Benmahmoud (Sara Forestier), que havia criado para si
própria uma teoria simbólica para combater os membros da extrema direita.
Um tom pitoresco leva a uma dimensão curiosa sobre
o momento politico francês, a partir dos anos 1970. E chega a considerar
figuras recentes do governo como o presidente que saiu do cargo este ano,
Nicolas Sarkozy .
Além do modo irreverente de narrar os fatos (que
muitas vezes são dramáticos), o roteiro do próprio diretor e de Baya Kasmi
discute várias posturas e passa em revista fatos históricos em tom de comédia.
Sempre criativo. Uma surpresa agradável que os cinemas (pelo menos os de Belém)
esqueceram.
“Eu Matei Minha Mãe” é uma obra semi-biográfica do
diretor Xavier Dolan. Trata de um jovem que quer se emancipar, vivendo desde a
infância ao lado da mãe, abandonada pelo marido. Mas esta corta as ideias de
independência do filho. E ele reluta chegando a escrever uma dissertação no
colégio, em resposta à questão sobre identidade familiar informando que sua mãe
está morta. Namorando uma professora mais velha é desiludido quando esta o
abandona. Rebelde sempre, a mãe resolve coloca-lo num internato. Mas ele foge.
E ao saber da fuga, ela corre em sua busca, não antes de esbravejar com o
diretor pela falta de responsabilidade do colégio. Descobre o esconderijo do
filho tal como prevê: no lugar onde este passou os melhores dias de sua
infância. O último plano focaliza os dois abraçados. Uma frase-prólogo
evidencia o tempo certo de se conhecer o amor materno. Mas esse é o dilema
circulante em todo o filme.
Com uma linguagem simples, mas suficientemente
hábil em cortar os vínculos com o melodrama, o diretor-roteirista discute a
superproteção materna sem criar estereótipos que evidenciem quem é bom e quem é
mau na história.
Filme simples com bons desempenhos, que esteve no
Festival de Cannes, Semana dos realizadores em 2009, e na Mostra de São Paulo.
Outro filme inédito nos cinemas é “Amor
Obsessivo”(A Woman/EUA,2010) dirigido por Giada Colagrande, de nacionalidade
italiana, esposa do ator Willem Dafoe (de “A Última Tentação de Cristo”) com
ele interpretando um escritor viúvo que se apaixona por uma mulher (Jess Weixler)
interessada em assemelhar-se à falecida, uma dançarina de tango. A cineasta
corta qualquer tendência mais inusitada embora use uma fotografia descorada,
enquadramentos que buscam certa plasticidade e edição que prefere seguir liames
emotivos distanciando-se da linguagem acadêmica. Pode-se dizer que Giada segue
preceitos da já antiga “nouvelle vague”, mas nem sempre sua opção é funcional e
o filme se apresenta erudito e de certa forma, monótono.
Entre estes programas revi ainda “A Nau dos
Insensatos” (Ship of Fools/EUA,1965) de Stanley Donen. O cineasta,
historicamente um grande produtor e descobridor de talentos, tenta sintetizar o
livro de Katherine Potter através de um roteiro escrito por Abby Mann, seu
roteirista em “Julgamento em Nuremberg”(1961). Mas nem o grande e famoso elenco
resiste à superficialidade da abordagem. Realce para Simone Signoret e Vivien
Leigh, esta, já doente, em sua última aparição nas telas.
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