Viggo Mortensen e Michael Fassbender protagonistas no filme de Cronenberg
Quem conhece o diretor canadense
David Cronemberg de filmes como “Scanners” (1981), “A Mosca”(1986) e ”Gêmeos, Mórbida
Semelhança”(1988) supõeterem mudado o título, no crédito de “Um Método
Perigoso”(A Dangerous Method/Canadá 2009 ) ora em cartaz no Cine Estação.
Baseado numa peça intitulada “The
Talking Cure” escrita por Christopher Hampton (que assina o roteiro), por sua
vez derivada do livro ”A Most Dangerous Method” , de John Kerr, o tema do filme
é a controvérsia entre os dois “monstros sagrados” da psicanálise: Sigmund
Freud e Carl Jung (representados respectivamente por Viggo Mortensen e Michael
Fassbender). E o resultado na tela é diferente do que o cineasta já realizou devido
à sua rendição integral ao texto original. O filme é excessivamente dialogado.
Mas quem o defende aponta a exigência de um tema como a psicanálise, ou a
“terapia pela fala” necessária a qualquer outro recurso. Entretanto, é possivel
considerar que Alfred Hitchcock abordou o assunto com o seu “Quando Fala o
Coração”(Spellbound, 1945) onde ele achou um meio de tratar o discurso
psicanalítico com a intromissão de imagens, no caso, concebidas por Salvador
Dali, o coautor do surrealista “Um Chien Andalouz” de Buñuel e de “L’Âge D’Or”.
Há muita controvérsia na historia
de que Jung teria tido relações sexuais com uma cliente, a russa Sabina
Spielrein, mais tarde colega médica. E que este relacionamento tenha ajudado na
ruptura com os ensinamentos de seu professor e amigo Freud. No texto de Hampton,
o teor analítico passa para uma história de amor nem sempre compreendida.
Naturalmente que uma obra cinematográfica não sucumbe a uma liberdade
ficcional. “Um Método Perigoso” é ficção, e chega a ser irônico o titulo quando
se lança a uma prévia critica da obra afirmando que é perigoso tratar de um
caso de doença mental indo ao âmago da terapia, praticamente alertando que o
médico pode sucumbir aos encantos de uma paciente que não mede a sua capacidade
afetiva. Não é bem o caso de Jung com Sabina. Em principio, segundo o filme,
ele seguiria os ensinamentos de Freud e via no quadro de esquizofrenia da
paciente que lhe deram um acento sexual como causa, Sabine contava que ao ser
açoitada pelo pai, aos 4 anos de idade, sentiu prazer a revelar uma atuação
masoquista que seguiria seu comportamento adulto no prisma erótico. Jung teria
iniciado um relacionamento com ela para testar a implicação freudiana de que
todo problema mental tem raiz no sexo. Mas o roteiro (não sei se também o
original literário) abre espaço para que o médico evoque outros prismas, e a
controvérsia com seu mestre caiba na acepção mística que Jung não deixa de
considerar. Um diálogo entre os dois psicanalistas é básico. Freud diz; ”- Não
podemos sair da ciência e endossar uperstições”. Por ai os dois deixaram de
afinar suas ideias.
O filme de Cronemberg usa uma
fotogenia admirável para compor o espaço histórico (a Áustria do inicio do
século XX) e mostra bom rendimento de atores, especialmente de Keira Knightley,
Michael Fassbender (recentemente o robô de “Prometheus”), ele premiado pelos
críticos de Los Angeles. Há também uma aparição de Vincent Cassel, personagem
importante na trama. E se o estilo narrativo é academicamente comportado
pode-se considerar que o que interessou foi o tema na história, ou o enfoque
originário sobre um ramo médico. O comportamento adúltero de Jung está disposto
na linha dramática a ponto de não se esmiuçar o relacionamento dele, posterior
ao “caso Sabine”. Legendas no encerramento dão conta de como os personagens se
comportaram além do que o filme mostrou. Responsabilidade com os fatos que
pretende justificar todo o processo de produção. Um filme, afinal, interessante,
sobretudo, a estudiosos do tema. Merece ser visto e discutido sem se condenar a
liberdade que se deu aos fatos.
BORGNINE
Aos 95 anos morreu o ator Ernst
Borgnine, vencedor do Oscar pelo neo-realista “Marty”(1955). Com 203 filmes no
currículo, marcou, com a sua presença, momentos que ficaram na lembrança dos
espectadores como “O Destino do Poseidon”, ”Os 12 Condenados”, ”Meu Ódio Será
Tua Herança”, ou”O Vôo do Fênix”. Trabalhou até ano passado, em “The Man Who
Shook the Hand of Vicente Fernandez” a ser lançado este ano. Dizia sempre que
não se deve deixar de trabalhar como forma de vencer a velhice. Um ícone do
cinema.
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