Há filmes que apesar do tempo de produção, somente
agora estão circulando entre nós, graças às novas tecnologias que
possibilitaram essa divulgação. Se antes algumas cópias chegavam para exibição
nos cinemas comerciais e, posteriormente, atingiam a bitola 16 mm, sendo
possivel chegar ao cinema doméstico ou, como se dizia, à tela pequena, hoje, o
DVD tem proporcionado às empresas uma maior facilidade para transformar o
padrão industrial anterior do tipo película ao meio digital. Neste caso,
circulam muitos exemplares de décadas passadas e fico feliz de assistí-los,
tomando conhecimento dessa produção, cujos temas, modos narrativos e outros
elementos da linguagem servem de base ao melhor entendimento das imagens de
ontem no hoje presente.
Nesta situação está “Mundos Opostos”(East Side
& West Side/EUA, 1949). O filme reúne atores consagrados como James Mason,
Barbara Stanwyck, Ava Gardner, Cyd Charisse e Van Heflin, numa história de
infidelidade conjugal onde o marido infiel se diz imune da antiga amante, mas
não se detém a uma recaída e vê complicar ainda mais a sua vida conjugal quando
a “outra” é assassinada. Pelo elenco se avalia o cuidado que a MGM tinha com as
suas produções dramáticas “classe A”, usando o preto e branco, mas colocando
adiante da câmera os seus conhecidos interpretes contratados. Nesse caso, havia
também outro meio de contrato comercial, geralmente exclusivo com
atores/atrizes e técnicos. O filme, dirigido por Mervyn Le Roy, é um melodrama
que ainda hoje chama a atenção, embora o espectador atual perceba os “furos” do
roteiro e o artificialismo das filmagens, com até mesmo cenas de rua captadas no
estúdio.
“A Guerra Está Declarada”(La Guerre est
Declarée/França, 2011) tem seu roteiro baseado na experiência de vida da
diretora e escritora Valérie Donzelli que, com o seu marido Jéréremi Elkhaim
travaram uma longa batalha pela saúde de seu filho bebê, Gabriel, portador de
um tumor maligno no cérebro. O caso da cura de um tipo raro de câncer foi
motivo de alegria por um lado, mas o casal não suportou unido o tempo em que
acompanhou o tratamento da criança. No filme, Valérie se chama Juliette e o
marido Romeo. A criança passa a ser Adam e a narrativa segue uma linha
documental, com poucas aberturas para a ficção. Percebe-se o drama da
mãe-cineasta até pelo modo como ela encerra o trabalho, com planos da família
numa praia, o menino já crescido correndo e o pai também visto em “ralenti” (câmera
lenta). É um filme interessante que chegou a ser candidato ao Oscar de película
estrangeira. Não foi exibido, ao que eu saiba, nos nossos cinemas.
“Isto Não é um Filme”(In Film Nist/Irã, EUA,2011) é
uma ousadia iraniana. O cineasta Jafar Penahi filmou com uma pequena câmera
digital a leitura de um roteiro que ia filmar e que não havia sido liberado
pela censura do seu país. Seu amigo Mojitaba Mirtahmasb transferiu as imagens para
um pen-drive e escondeu-o em um bolo, método para transportar o filme para fora
do país. Jafar foi preso e a comunidade cinematográfica internacional protestou
contra isso. O filme da leitura foi editado em DVD e chegou a fazer 68 milhões
de dólares no mercado norte-americano de cinema. Com elogios da critica.
“Não Sei Como Ela Consegue”(I D’ont Konw Who she
Does It/EUA,2012) prende-se ao gênero “comédia romântica” e focaliza uma jovem executiva
que por seu talento vai conseguindo subir na carreira embora isso leve a se
desdobrar nos afazeres domésticos, sendo ela mãe de um casal de filhos pequenos
e esposa de um profissional liberal e dedicado companheiro.
O roteiro de Aline Brosh Mckenna, a mesma de “O
Diabo Veste Prada” e “Compramos um Zoológico”, baseia-se num livro de Allison
Pearson que teria se inspirado em realidade, ou seja, na odisséia de uma
executiva. Mas o que o filme deixa como primeira impressão não é o elogio à
mulher trabalhadora fora de casa sem que isso a deixe longe dos seus
familiares. É muito mais um constrangimento por ela abandonar marido e filhos
na busca de melhor colocação no emprego. E para isso solta elogios ao
comportamento desse marido e da criança menor. São tão bonzinhos que a gente
condena o excesso do trabalho materno.
Sarah
Jessica Parker, a atriz principal, ganhou o Framboeza (Razzie) como pior atriz
de 2012.
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