Depois de
ter exaltado a cidade-luz em “Meia-noite em Paris”(2011), o diretor-roteirista e
agora também ator Woody Allen volta-se para a capital italiana, seguindo a
fórmula de Robert Altman em construir vinhetas com diversas personagens que nem
sempre se cruzam.
“Para Roma,
Com Amor"(To Rome with Love/EUA,2012) trata de forma multifacetada a
cidade gerando quatro histórias paralelas, duas explorando o gênero da comédia
romântica, em torno do homem urbano que se vê atordoado e confuso entre o
desejo e a culpa, com evidências ao tema do adultério. As outras duas esquetes
convidam o espectador ao humor absurdo, sendo uma delas com Roberto Benigni que
protagoniza um homem comum promovido pela mídia a se tornar celebridade sem que
haja um motivo plausível para essa rápida ascensão. Acossado pelos
"paparazzi" o simples funcionário público se transforma em superstar
e não tem mais sossego. A “febre da fama" só dá uma parada quando essa
perspectiva se desloca para um substituto. Mas logo ele passa a sentir falta do
"status".
A outra
história envolve o próprio Allen, um programador de operas já aposentado que ao
visitar a filha (Alison Pill) na chamada "Cidade Eterna" sabendo que
ela está noiva de um italiano ativista de esquerda (Flavio Parenti), observa,
no encontro familiar, as qualidades vocais do pai do futuro genro (Fabio
Armiliato, realmente um tenor). Insistindo em levá-lo para um teste em teatro
descobre que o cantor só "funciona" quando debaixo de um chuveiro. E
é dessa forma que lança a descoberta inovando textos de óperas famosas como
"I Pagliacci".
Os dois
outros esquetes incluídos na comédia romântica usam os estereótipos dos
italianos guinados ao que antes era chamado de “latin lover” tal como foi
apresentado por muitos anos principalmente no cinema. O tipo vivido por
Alessandro Tiberian, é meio emblemático e lembra os tipos cômicos do passado
como Lando Buzanca ou Walter Chiari.
O filme não
chega ao patamar da homenagem lírica que foi "Meia Noite em Paris",
nem segue o caminho intelectual desse trabalho de Allen onde se viam escritores
norte-americanos buscando inspiração na capital francesa. Por esta turnê romana
compreende-se que o cineasta vê a cultura italiana pelo prisma simpático da
comédia ligeira, que os filmes da fase pós-neorrealismo mostravam no exterior.
Quem assistiu a muitos desses filmes, como eu, vai encontrar a Roma dos
comediantes citados e, também, de outros interpretes que vão de Totó a Alberto
Sordi ou de diretores como Steno, Camilo Mastrocinque e, mesmo, os emblemáticos
Mario Monicelli e Dino Risi.
Também há
espaço para a Roma turística de filmes como "As Garotas da Praça de
Espanha" (1954), isto sem mencionar o que os próprios norte-americanos
construíram, como em “Candelabro Italiano” (1962). Como cinéfilo americano,
Allen absorveu e achou por bem usar todas essas características na sua
homenagem que abre e fecha com a canção "Volare"(Nel blu dipinto di
blu, de Domenico Mondugno e Migliacci, 1958) muito popular até aqui no Brasil.
“Para Roma
com Amor” mostra-se uma comédia descompromissada do cineasta em retratar a
Itália depois de retratar a França. Na superficialidade dos episódios e tipos
focalizados, a impressão de uma “comédia turística” ganha corpo denunciando a
pressa com que se passou, certamente, da idéia ao roteiro. O melhor do novo
filme, apesar de estar longe do Woody Allen histórico (um dos melhores autores
de cinema) é a volta do próprio cineasta interpretando uma figura bem a seu
gosto, lembrando o que fez em seus clássicos como “Noivo Neurótico, Noiva
Nervosa”(1977). Apesar da idade, ou ainda, usando isso como elemento cômico,
ele provoca gargalhadas da platéia. O bastante para que se peça mais de sua
inventiva capacidade de comediante.
Não gostei muito de Para Roma com Amor, embora não seja um filme totalmente ruim, a história me pareceu um pouco arrumadinha demais
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