Quando
uma pessoa aniversaria há sempre as tradicionais louvações. Dos amigos, da
familia, dos conhecidos, enfim, de todos os que realmente a consideram. A
imortalidade dessa pessoa tem nesse grupo o apoio para a memória do afeto e da
presença dela no mundo. Mas há as especiais, aquelas que além desse invólucro
afetivo são reconhecidas pelas suas ações externas em uma dada especialidade.
São vários os campos onde podemos marcar nossa presença social e estes campos geralmente
passam pelo privilegiamento a uma área específica.
O
título deste texto faz alusão a um querido paraense que hoje(9/08) aniversaria: Pedro
Veriano. Conhecido na mídia impressa por representar a crítica de cinema no
Pará há mais de 50 anos, incorporou a esse título o de pesquisador da história
dessa arte em nosso estado, numa época em que tratar de cinema ainda não era
uma função acadêmica como hoje, mas, para algumas pessoas, uma causa de lazer
para quem tinha tempo e/ou então, um evento para intelectuais que assumiam uma
dimensão pioneira de divulgadores da estética cinematográfica que pouco chegava
aos meios populares, salvo nas exibições comerciais comandadas pelo mercado
exibidor que só explorava um tipo de filme.
Conheci
o jovem Pedro quando ele tinha 20 anos e ansiava em assistir a todos os filmes
lançados nos cinemas da cidade e, não satisfeito com isso, já trazia desde a
infância essa loucura pelos programas que não circulavam regularmente nas salas
comerciais, adquirindo um projetor em 16mm para exibições em sua casa (e uma
filmadora). Sua biblioteca já povoada de livros sobre o estudo da linguagem do
cinema convivia com os compêndios de medicina, o curso profissional que o preparava
para a vida social, entendendo-se que para muitos “o cinema não levava a nada”
como disse certa vez uma pessoa de sua família (“O Pedrito não vai ser nada, só
gosta de assistir filmes...”).
A
história singular desse tempo transferiu-se para evento público quando Pedro
Veriano se aproximou dos cinéfilos da época – Orlando Teixeira da Costa,
Francisco Paulo Mendes, Benedito e Maria Sylvia Nunes – fundadores do Cine
Clube “Os Espectadores”, que representavam os formadores culturais daquele
momento, conseguindo recursos para alugar filmes fora do circuito comercial, em
distribuidoras do Rio e São Paulo e nas embaixadas, procurando debater com o público
os clássicos do cinema.
Foi
esse o Pedro Veriano que conheci aos 16 anos. Se a medicina precisava ser o
apoio profissional para que ele pudesse pensar em casamento (aquele era o tempo
da expectativa do homem provedor), sua paixão pelo cinema fazia parte
intrínseca de sua vida, impossivel dissociá-los. Das salas de aula da Faculdade
de Medicina aos espaços de exibição de filmes era um passo. Além, é claro, de
incentivar seu próprio cinema particular, o Bandeirante, que funcionava na
garagem de sua casa e exibia tanto filmes clássicos como qualquer outra
produção disponivel para aluguel nas empresas que alimentavam na cidade esses
cineminhas em 16 mm. A.F.Aguiar, Caeté Ferreira, Paramazon eram os locais,
embora essa paixão o aproximasse de outros distribuidores do nordeste e do sul,
como a Warner, Fox, Embrafilme, Columbia etc.
A
criação do Cine Clube APCC aproximou-o do público espectador do tipo cinéfilo,
agora não mais restrito a poucos nomes, mas aqueles que procuravam os espaços
do tipo cinemateca para usufruir tanto a exibição quando os debates que eram
feitos em salas como o Teatro Martins Penna, o auditório da Odontologia, da
AABB, do Cine Guajará, do Grêmio Literário Português, missão que ele não
delegava nem exigia de ninguém para acompanhá-lo, mas, religiosamente,
mantinha-se operando os projetores em 16 mm, trocando os rolos e correndo para
as cadeiras da primeira fila a fim de assistir ao filme e, ao final, debatendo
com o público que sempre estava presente para as incursões sobre a linguagem
cinematográfica e/ou a temática expressa.
Esse
é o Pedro Veriano que eu conheço há 56 anos, passei a amar nesse tempo fazendo
parceria com ele nessas batalhas pelo bom cinema em Belém. Meus arroubos são os
dele e suas vitórias de reconhecimento público pelo seu trabalho são as minhas.
Te amo Pedro e que Deus te abençôe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário