terça-feira, 14 de agosto de 2012

MUITO AMOR PELO CINEMA


Imagem do "filme de cabeceira" de Pedro Veriano: "A Felicidade não se Compra"

Quando uma pessoa aniversaria há sempre as tradicionais louvações. Dos amigos, da familia, dos conhecidos, enfim, de todos os que realmente a consideram. A imortalidade dessa pessoa tem nesse grupo o apoio para a memória do afeto e da presença dela no mundo. Mas há as especiais, aquelas que além desse invólucro afetivo são reconhecidas pelas suas ações externas em uma dada especialidade. São vários os campos onde podemos marcar nossa presença social e estes campos geralmente passam pelo privilegiamento a uma área específica.

O título deste texto faz alusão a um querido paraense que hoje(9/08) aniversaria: Pedro Veriano. Conhecido na mídia impressa por representar a crítica de cinema no Pará há mais de 50 anos, incorporou a esse título o de pesquisador da história dessa arte em nosso estado, numa época em que tratar de cinema ainda não era uma função acadêmica como hoje, mas, para algumas pessoas, uma causa de lazer para quem tinha tempo e/ou então, um evento para intelectuais que assumiam uma dimensão pioneira de divulgadores da estética cinematográfica que pouco chegava aos meios populares, salvo nas exibições comerciais comandadas pelo mercado exibidor que só explorava um tipo de filme.

Conheci o jovem Pedro quando ele tinha 20 anos e ansiava em assistir a todos os filmes lançados nos cinemas da cidade e, não satisfeito com isso, já trazia desde a infância essa loucura pelos programas que não circulavam regularmente nas salas comerciais, adquirindo um projetor em 16mm para exibições em sua casa (e uma filmadora). Sua biblioteca já povoada de livros sobre o estudo da linguagem do cinema convivia com os compêndios de medicina, o curso profissional que o preparava para a vida social, entendendo-se que para muitos “o cinema não levava a nada” como disse certa vez uma pessoa de sua família (“O Pedrito não vai ser nada, só gosta de assistir filmes...”).

A história singular desse tempo transferiu-se para evento público quando Pedro Veriano se aproximou dos cinéfilos da época – Orlando Teixeira da Costa, Francisco Paulo Mendes, Benedito e Maria Sylvia Nunes – fundadores do Cine Clube “Os Espectadores”, que representavam os formadores culturais daquele momento, conseguindo recursos para alugar filmes fora do circuito comercial, em distribuidoras do Rio e São Paulo e nas embaixadas, procurando debater com o público os clássicos do cinema.

Foi esse o Pedro Veriano que conheci aos 16 anos. Se a medicina precisava ser o apoio profissional para que ele pudesse pensar em casamento (aquele era o tempo da expectativa do homem provedor), sua paixão pelo cinema fazia parte intrínseca de sua vida, impossivel dissociá-los. Das salas de aula da Faculdade de Medicina aos espaços de exibição de filmes era um passo. Além, é claro, de incentivar seu próprio cinema particular, o Bandeirante, que funcionava na garagem de sua casa e exibia tanto filmes clássicos como qualquer outra produção disponivel para aluguel nas empresas que alimentavam na cidade esses cineminhas em 16 mm. A.F.Aguiar, Caeté Ferreira, Paramazon eram os locais, embora essa paixão o aproximasse de outros distribuidores do nordeste e do sul, como a Warner, Fox, Embrafilme, Columbia etc.

A criação do Cine Clube APCC aproximou-o do público espectador do tipo cinéfilo, agora não mais restrito a poucos nomes, mas aqueles que procuravam os espaços do tipo cinemateca para usufruir tanto a exibição quando os debates que eram feitos em salas como o Teatro Martins Penna, o auditório da Odontologia, da AABB, do Cine Guajará, do Grêmio Literário Português, missão que ele não delegava nem exigia de ninguém para acompanhá-lo, mas, religiosamente, mantinha-se operando os projetores em 16 mm, trocando os rolos e correndo para as cadeiras da primeira fila a fim de assistir ao filme e, ao final, debatendo com o público que sempre estava presente para as incursões sobre a linguagem cinematográfica e/ou a temática expressa.

Esse é o Pedro Veriano que eu conheço há 56 anos, passei a amar nesse tempo fazendo parceria com ele nessas batalhas pelo bom cinema em Belém. Meus arroubos são os dele e suas vitórias de reconhecimento público pelo seu trabalho são as minhas. Te amo Pedro e que Deus te abençôe.

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