Philippe (François Cluzet) e Driss (Omar Sy) em "Intocáveis".
O inesquecível
Charles Chaplin criava suas comédias sob dramas. Não é à toa que a imagem final
de “Luzes da Cidade” (Citylights) é comparada à Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci:
o personagem Carlitos rindo e chorando ao mesmo tempo (e o espectador
acompanhando-o). Infelizmente é raro no cinema autores que pretendem usar a
mesma fórmula (ou se usam, usam mal).
“Intocáveis”(Intochables/França,
2011), cartaz agora nos cinemas brasileiros (e aqui em duas sessões noturnas
numa sala do shopping Doca Boulevard), baseado nas memórias do empresário Philippe Pozzo di Borgo (narrada no livro autobiográfico “O
Segundo Suspiro”) sobre sua amizade com o argelino Abdel Yasmin Sellou, mostra o riso sublinhando a tragédia.
Philippe (François Cluzet) é um milionário que ao cair de um parapente fica
tetraplégico e precisa de alguém para que possa executar as mínimas ações
básicas e pessoais do cotidiano. Para completar o quadro triste, Philippe
perdera a esposa, que tanto amava, no mesmo tempo em que fraturara vértebras e
perdera os movimentos de pernas e braços. Este personagem, ao selecionar uma
pessoa para cuidar de si, escolhe um imigrante negro, atlético, que se intromete
entre os candidatos com outro objetivo, não o de cuidador. Conhecido como Driss
(Omar Sy) acabara de cumprir seis meses de prisão por pequeno delito, vive
pobremente na casa da mãe com irmãos com um deles tendendo para o mundo do
crime. O contraste está formado: Philippe é um erudito, Driss um
semianalfabeto. O segundo faz rir, o primeiro engole o choro com sorrisos do
que este faz. O filme dirigido e roteirizado pela dupla Olivier Nakache e Eric Toledano (quarto longa metragem do primeiro e oitavo do segundo) é desses que temos sempre prazer em recomendar. A temática podia gerar mais um melodrama dentre muitos e, até mesmo, lembrar filmes sérios como “Amargo Regresso”(1978) ou “O Escafandro e a Borboleta”(2007). Mas o enfoque dramático é outro. E a seqüencia inicial revela a técnica dos realizadores: os personagens Philippe e Driss, em um carro, percorrem as ruas parisienses na madrugada e com uma velocidade acima da média. O espectador não os conhece. Nem sabe que o carona é doente. Quando a polícia rodoviária manda parar o veiculo, pede que os passageiros saiam do carro e Driss, alvo de preconceito por ser negro e ainda malvisto por não ter carteira de motorista, é obrigado a ficar com as mãos sobre o carro enquanto os guardas usam de violência para revistá-lo. Nesse momento, o “carona” começa a passar mal. Driss, aos gritos, diz que ele está morrendo e que precisa urgentemente ir a um hospital. Os guardas concordam e ainda escoltam o carro. Dentro, os dois acham graça. E logo que podem saem correndo.
A erudição e a intuição deixam margem a seqüencias hilariantes como os amigos na ópera e/ou a critica a um quadro abstrato que o irrequieto Driss resolve imitar (ou criar o seu), valendo no mercado 11 mil euros.
Debaixo dessas cenas de humor, com intervalos que enfatizam a progressiva amizade que se faz entre empregado e patrão, há momentos como o de uma mal estar do tetraplégico e o modo como o cuidador amigo resolve o sintoma carregando-o para “tomar um ar na rua”(ao que Philippe diz: “- Há muito eu não via Paris às 4 da manhã...”)
Outro olhar sobre o filme tende a mostrar a dimensão da solidão de dois excluidos sociais, independente de classe social. Se Phillipe tem recursos que podem comprar o cuidador que bem quiser, não tem, entretanto, alguém que o trate despojado de piedade, sentimento que ele não aceita de ninguém. Por outro lado, desprovido de recursos – financeiros, culturais e de instrução - , Driss tem sua própria história que a mãe nem quer saber (por ter que administrar outros problemas), circulando em um mundo marginal pelas condições da vida, mas acima de tudo, sendo alvo de discriminação por ser um estrangeiro, um imigrante. A proximidade entre os dois revela-se importante visto que cada um passa a conhecer melhor o mundo do outro. Sem aprofundar essas questões, mas tangenciando todas elas, tem o charme de um filme que mostra que a vida pode não ser a que gostariamos que fosse, mas é possivel mudar o rumo para uma sobrevivência onde o afeto é necessário.
O filme é rico em momentos emblemáticos. Foi o maior sucesso popular na França ano passado. Por ter ultrapassado a renda dos blockbuster norte-americanos, certamente chegou até nós. O público deve assisti-lo. É possivel que seja retirado de cartaz para dar espaço a outros programas das grandes distribuidoras.
JA VI ESSE FILME MUITO BOM EU RECOMENDO
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