Steve Carrel e Keira Knightely em "Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo”.
O primeiro filme de Lorena
Scafaria, conhecida no meio musical como cantora da banda “The Shortcoats”,
“Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo” (Seeking a Friend for the Endo f The
World/EUA,2012) é mais um trabalho a abordar o apocalipse por conta de um
choque de asteroide com a Terra. É mais próximo do enfoque de Lars Von Triers
em “Melancolia”(2011) do que de “disasters movies” como “O Fim do Mundo” (When
Worlds Collide/1951) ou “Impacto Profundo”(Deep Impact/1998). O filme se detêm
no que sentem duas personagens (principalmente): o escriturário Dodge (Steve
Carrel), cabisbaixo porque questões afetivas, haja vista que a esposa o deixou,
e a estudante de arte Penny (Keira Knightely), amargando também a ruptura de um
relacionamento, mas protegida pelo afeto familiar, daí estar em busca da casa
paterna. Os dois se encontram quando as ruas da cidade onde moram espelham o
horror da certeza de que tudo vai acabar: há diversos ataques de multidões,
falha nas comunicações, trânsito congestionado, pois muitos querem morrer com
os seus entes queridos.
O filme é tentado pelos caminhos
da introspecção e do espetáculo “a la Roland Emmerich” (2012). Prefere o
primeiro. Mas não chega ao microcosmo mórbido de diretor dinamarquês de
“Melancolia”. Os tipos focalizados não parecem sofrer de males extras além do
que falam e procuram minorar em um tipo de “road movie”. Tampouco se dá espaço
a quadros melodramáticos e o roteiro consegue fugir disso mesmo quando focaliza
pai (Martin Sheen) e filho (Carrel) se encontrando depois de muitos anos de
muita mágoa. O que importa é o encontro do amor, ou seja, a sorte de duas
pessoas se acharem e se amarem no“apagar das luzes”.
Infelizmente o tema é árduo e a
jovem estreante não dá conta de abordá-lo na intensidade pedida. Fica uma linha
narrativa apoiada especialmente nos intérpretes. E se vemos um Steve Carrel
sério, longe da comédia que lhe deu uma expressão bem característica, a jovem
atriz de “Orgulho e Preconceito” e “Não me abandone jamais” dá a dimensão
desejada pelo enredo. Ele e ela correm os espaços que mudam com a chegada da
tragédia cortando estradas, abrindo portas de casas, buscando cenários do
passado.
É muito difícil tratar de um tema
desses como o fim de mundo através de quem está condenado a participar desse
fim. Especialmente em termos de Hollywood. Nas abordagens menos
sensacionalistas tivemos a alusão com o mundo capitalista no final do “Eclipse”
de Antonioni e na família que vê crescer no céu o astro ameaçador (no citado
“Melancolia”). Para chegar a esse termo é preciso ou uma consistente abordagem
do interior dos tipos focalizados ou o ângulo social em que “fim-de-mundo” não
é só um fato astronômico. Lembro, por sinal, só de um momento digno dessa
segunda opção numa cena de “Impacto Profundo”: quando a jovem Jenny (Tea Leoni)
vê ao lado do pai (Robert Duvall) uma onda gigantesca chegando perto da praia
onde estão, a ponto de atingi-los. Nesses poucos planos há um aceno para a angústia
e ao mesmo tempo a aferição do que foi feito de suas vidas. Mas é exceção, é
fragmento de um projeto de espetáculo. O que se quer em“Procura-se um amigo...”
é mais de 90 minutos de ajuste do drama ao titulo (do filme). O primeiro amigo
é um cachorro. Mas quem vai representar a amizade profunda é quem se ama. E
dessa forma uma grande tragédia se desfaz na ideia de que se encontrou um
objetivo, ou o que se levar do que está acabando.
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