domingo, 16 de setembro de 2012

PARANORMAN


 "ParaNorman" filme que utiliza a técnica “stop motion”

Ficou marcada, na memória do público, a frase proferida pelo menino Cole Sears (Haley Joel Osment) em “O Sexto Sentido”(The Sixth Sense/EUA,1999) de M. Night Shyamalan: “-Eu vejo gente que já morreu”. Agora em “ParaNorman”(EUA,2012) é o menino Norman, personagem que serve ao trocadilho do titulo (“ParaNormal”) que vê e ouve mortos. O pai não aceita saber dessas histórias, a mãe protege-o, mas, no colégio, o garoto é alvo de piadas e o “bulling” corre solto onde o “freaks” é a melhor denominação que recebe aliada aos atos violentos. A faculdade paranormal ganha maior dimensão quando a pequena cidade onde o personagem mora é alvo da maldição de uma bruxa que provoca a aparição de zumbis (mortos que saem das sepulturas), aterrorizando a população. Sem surpresas, o roteiro do diretor Chris Butler investe Norman da condição de guardião da comunidade e quem vai livrar a região dos estranhos invasores .

A narrativa é construída na técnica “stop motion” e o roteirista Butler é um dos diretores de arte do muito interessante “Noiva Cadáver” (2004) de Tim Burton. Cabem elogios a esse aspecto formal. Pena que os espectadores de uma sala no centro de Belém (shopping Boulevard) tenham sido privados de uma melhor apreciação da técnica usada, acrescida da 3D, por culpa da pouca luminosidade do projetor digital. Mas o que impressiona no novo trabalho da empresa “Laika” são os meandros da trama, a defesa de uma sinceridade de propósitos e um enfoque hoje tão importante para a humanidade: o reconhecimento da diversidade social.


Norman expõe os meandros de sua vivência considerando a sua  verdade. Na primeira sequência vê-se o personagem conversar com uma mulher idosa e conta aos pais que tem a avó a seu lado. Estes reclamam que ela já havia falecido. Mesmo ameaçado de violência por colegas e as arbitrariedade e chacotas da própria família, o menino continua afirmando que vê e fala com mortos. E quando chegam os zumbis é Norman quem vai enfrentá-los tendo conhecimento, segundo um dos tipos, que eles “haviam cometido um erro”(condenaram à morte uma menina que tinha os mesmos dons). Os mortos que circulam na cidade estão arrependidos do ato e querem seguir seu destino. Como a população da cidade só pensa em eliminá-los, o pequeno Norman é quem vai interferir a favor desses espíritos disformes que ganham as ruas. Mas é no encontro com uma bruxa que teria amaldiçoado o lugar que o garoto vai se destacar. Uma sequência de luzes e cores, com o personagem sendo jogado por penhascos enfrentando focos de chamas, tem seu final quando a “bruxa” se identifica como a garota desprezada pelo mesmo problema que ele enfrentou: a comunicação com o mundo sobrenatural. E ela já é um espírito desencarnado.

“ParaNorman” demonstra que não se deve em hipótese alguma cercear a criatividade da criança e tampouco criticar sonhos e/ou verdadeiras demonstrações de paranormalidade. Em resumo: o filme é contra qualquer tipo de preconceito e mostra que a diversidade é uma condição que a pessoa humana deve inscrever em seu vocabulário sem medos ou distorsões. Idéia tão presente no momento atual e extremamente saudável na condução dos direitos humanos que na tela tende a explorar o gótico, com as imagens de fantasmas & corpos deteriorados seguindo a narrativa própria ao proposto no roteiro. É possivel que haja choque em um público de crianças. Entretanto, na sessão que estive não as vi sair no meio do filme. Introjetar a arte das imagens desse plano de criação aliada à discussão sobre a diversidade certamente é uma maneira ousada e bastante significativa, a meu ver. Quantas dessas crianças utilizam os jogos de vídeo onde a violação de sua conscientização se encerra em atos de violência? Isso, sim, é terror. Há casos de pessoas que registraram medo retardado ao asistir a “Branca de Neve e os 7 Anões” no final dos anos 1930. Mas os tempos são outros e a própria TV “vacina” meninos e meninas de “filme de terror”. Tim Burton sabe disso. E certamente seu ex-assistente que agora é diretor. Que demonstrou utilizar a técnica em função de uma discussão atual. Através de “NorMan” pode-se iniciar uma discussão salutar contra as ações de discriminação e preconceitos usando a arte das imagens reveladoras de tantos tipos.

Mas é preciso que a empresa Cinépolis melhore a luminosidade nos filmes digitais para que seja possivel aproveitar melhor a narrativa do filme.

Nenhum comentário:

Postar um comentário