quinta-feira, 13 de setembro de 2012

PROGRAMAÇÃO MONITORADA

"Michael" (2011) dirigido por Markus Schilenzier.

Belém tem hoje 27 cinemas comerciais. Desde a chamada “cena muda " não havia tantos espaços desses. Entretanto, os programas não são tão numerosos. Em cartaz, por exemplo, mais de 10 salas exibem “Os Mercenários 2” e o incrível“Abraham Lincoln, Caçador de Vampiros”. A variedade do mês, o filme francês“Intocáveis”(2011), estreou em duas sessões noturnas, numa sala do centro e, na 2ªsemana, ganhou apenas uma sessão de 21h50 (os que não são notívagos perdem a chance de assistí-lo).

O chamado “circuito extra” está desfalcado este mês com a reforma do Cine Libero Luxardo (não se sabe até quando) e do Cine Olympia (que segundo informações termina na próxima semana). Resta, então, o Cine Estação, com filmes japoneses em DVD ligados a uma temática específica (a reconstrução do país depois de um tsunami), o IAP (Cine Clube Alexandrino Moreira) funcionando quinzenalmente e a Livraria Saraiva, estes programados pela ACCPA.

O cinema doméstico dá possibilidade de assistir a muitos programas em DVD. Não fosse assim e certamente estaria desatualizada na arte que me atrai e que me serve para um jornalismo de 40 anos. Nesse quadro, me surpreendo quando consigo assistir (através de download efetuado por amigos) obras que nem foram cogitadas para os cinemas da cidade. Isto sem falar no que a Fox Video recebe e o que se pode encontrar para compra em livrarias e/ou em lojas especializadas do sudeste.

Assisti, por exemplo, um excelente filme alemão, “Michael”(2011) escrito e dirigido por Markus Schilenzier. Trata de um pedófilo. Ele sequestra uma criança (crime que não se vê) e a mantém prisioneira em sua casa (é um menino de aproximadamente 9 ou 10 anos). O abuso sexual é sintetizado numa cena em que ele mostra o pênis para o garoto e pergunta: ”-Você quer que ele ou uma faca lhe penetre". O menino responde: “A faca”.

A narrativa lenta focaliza a rotina do pedófilo e até mesmo uma sua investida para ganhar um substituto de sua presa (fato percebido pelo pai do outro menor). E quando a criança presa adoece, o criminoso, expressa uma atitude mórbida, ao cavar uma possível sepultura para se livrar do que lhe pode incriminar.

O filme não faz concessões e termina em aberto para que o espectador sinta ainda mais o drama focalizado: a sequência final em que mãe e irmão de Michael estão na casa deste organizando as coisas e a mãe descobre uma porta fechada. Ao abrí-la, o interior recebe a luz externa que incide na cena.

Outro trabalho interessante é “Léa” (França, 2011), de Bruno Rolland. Neste filme evidencia-se a cuidadosa pintura de um tipo sofrido, uma jovem que cuida avó, é empregada num bar, estuda, e ainda faz strip-tease de noite em uma boate. Todos esses afazeres em nome de uma liberdade que ela está sempre falando, mas na realidade sentindo fugir nas obrigações que cerceiam a sua capacidade de sorrir.

Cabe a atriz Anne Azoulay a difícil tarefa de compor a personagem-título. O roteiro da própria atriz foge de uma narrativa de telenovela. Tanto que prefere ser reticente quando se pensa em um rumo insólito na carreira da jovem focalizada. Ela sempre surpreende e o resultado como cinema também demonstra o talento de estreantes (o diretor, que realiza o seu primeiro longa metragem, e da roteirista). Produção (como “Michael”) do ano passado. No plano subjetivo, sem ostentação de discurso psicológico, mas externalizado pelas ações da jovem, observa-se uma intensa solidão vivenciada. A pulsão que determina seu desejo de escapar daquele jogo corriqueiro explora a busca da felicidade. Aonde? No sexo?

“Columbus Circle”(EUA,2012) é um filme de George Gallo , diretor de “Virado pra lua”(EUA, 1991), “Mais do que voce Imagina” (2008) etc. Os amantes de historias policiais têm no filme um interessante programa. O enredo trata de uma herdeira reclusa que se apieda de uma vizinha de apartamento no hotel que dá titulo ao filme quando a vê espancada pelo amante. Mas há um plano secreto que persegue a fortuna que ela possui. Plano bem engendrado que merece toda a atenção do espectador para não perder detalhes. Claro que é ficção a lembra algumas tele séries, mas é o tipo do filme que prende a atenção. Mesmo assim, chegou só em DVD no Brasil.


Um comentário:

  1. Oi, Luzia!
    Seu comentário é mostra uma realidade lamentável em nossa Belém. Quando residi em São Paulo, vivia "embriagado" de tantos filmes que assistia. Aqui de nada adiantaram os cinemas de shopping: cada qual com pior programação; surpreendo-me quando aqui chega um Woody Allen, um "360" e um filme francês. Pobre Belém: além de cada dia mais suja (apesar de sempre linda), ainda tem que amargar a sina de mal programda em cinema.
    Abraço,
    R.Secco

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