Mark Walberg e o seu amigo fiel, Ted.
Quem
assina TV fechada deve conhecer alguns programas de humor cujos episódios se mantêm
durante algum tempo, depois são recolhidos, dando vez a novos. Mas às vezes os
fora de cartaz retornam. Geralmente é o comércio ( demanda do espectador) que
determina essa maneira de circulação. A série “Uma Família da Pesada” (Family
Guy) teve esses contornos, sendo exibida na FOX desde 1999, depois saindo e
retornando em 2004. Só recentemente tenho assistido alguns episódios dessa
animação que apesar da dublagem dá para reconhecer que se trata de enfoque critico
sobre a vida americana. A família Griffin composta de pai, mãe, filho, filha e
um cachorro revelam-se politicamente incorretos. Quem se interessar assista a
algum episódio tomando contato com o humor do criador desses personagens de
Seth Macfarlane, o diretor de “TED (EUA, 2012), filme lançado nesta sexta nos
cinemas da cidade. Outras séries de humor são também de sua lavra como “American
Dad” e “The Cleveland Show”, mas chamei a atenção de “Family Guy” pelo fato de
o primeiro longa metragem de Macfarlane para o cinema ter como peça principal
da engrenagem cômica um falante ursinho de pelúcia, o Ted, e, no seriado, um
cão, o Brian, que “faz de um tudo”, filosofar, beber e fumar.
A trama do filme é simples. Mostra
John Bennett (Bretton Manley, depois, Mark Whalberg), um garoto de oito anos que
não tem amigos, sofrendo bulling quando se aproxima dos colegas. Certa noite de
Natal ele ganha de presente um ursinho de pelúcia. Sua alegria só não é maior
porque o brinquedo não conversa com ele que sonha em ter um amigo, daí desejar
que o ursinho possa ganhar vida própria. Na manhã seguinte vê com surpresa que este
não só fala como anda. Criança e brinquedo tornam-se os “amigos de trovão” pelo
medo que têm de tempestades. Devido à mágica de “criar vida própria” Ted ganha notoriedade na mídia, tornando-se
uma celebridade. O convívio com o amigo John leva os dois a imergirem na
cultura da época, os anos 80, sendo marcados pelos herois dos quadrinhos,
cinema e TV, como Flash Gordon e outros.
O recorte do filme transporta John
para a maturidade, 35 anos, com emprego e namorada, mas sempre fiel ao amigo
Ted que o acompanha nas sessões de fumar drogas, beber, meter-se em besteirol,
situações não aceitas pela garota de John, Lori Collins (Mila Kunis), que
intenta mudar a relação dos dois e afastá-los para manter a intimidade com o
amado.
O filme, a meu ver, é composto de 3 eixos.
O primeiro, enfocando o momento da criação da fábula envolvendo um tempo de
infância até a maturidade de John. O segundo, quando John é revelado como
alguém que não cresceu ao evidenciar a convivência visceral com Ted e as
implicações com a namorada e o tempo de trabalho. E o terceiro, no momento da tomada
de posição de John em uma situação-limite quando quase perde o amigo e ao mesmo
tempo se reconhecendo devedor do afeto da namorada é o momento dramático. O
eixo do méio é o maior, justamente pelo enfoque mais dramático entre a fábula e
os fatos concretos.
A narrativa linear oferece em sequencia
gags inspiradas e engraçadas criadas pelo diretor, onde predomina o
politicamente incorreto nas piadas sexistas e/ ou de grande teor de mau gosto (os
gases espelidos pelos personagens e/ ou as cenas de sexo entre o ursinho e suas
namoradas etc., criancinhas
sendo esmurradas por adultos, sabonetes líquidos transformados em sémen).
Deve-se lembrar, contudo, que a intenção dessa representação é a sátira ao
mundo que Macfarlane referencia: o americam way of life, a cultura pop
norte-americana marcada por filmes, músicas, séries, esportes, onde as
celebridades circulavam, sendo lembradas nesse entorno, hoje esquecidas como “Flash Gordon”, o ator Sam J. Jones, Norah
Jones, Tom Skerritt e Ray Romano (que interpretam a si próprios). Este humor
agressivo mesclando habilmente a comédia com a satira leva o público a reconhecer que embora o
gênero retrate um momento de farsa, contudo, observa que o diretor foge ao
convencional marcando o seu filme com sequências pouco usuais.
Campeão
de bilheteria em sua terra natal, desafiando um orçamento baixo, “Ted” é a
gloria de seu autor. E autor mesmo, pois Seth MacFarlane escreveu o roteiro,
dirigiu e ainda emprestou sua voz ao ursinho. Um futuro garantido na grande
indústria do cinema.
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