Cena de "Atividade Paranormal 4": desperdício de tempo.
A paranormalidade, condição ou
situação de quem ou do que é paranormal, diz respeito a fenômenos não
explicados rotineiramente pela ciência, sobrenaturais. O cinema tem se valido
desses fenômenos a partir do medo que gera o desconhecimento. Um evento não
explicado ocorrendo em determinado ambiente é implicitamente um fato que
amedronta. E filmes como “Atividades Paranormais” se apegam a isso. Essas
“atividades”, que já atingem a quarta edição, seguem uma linha narrativa sem
roteiro, imitando o cinema amador na busca de um realismo que possa estimular o
medo. Sempre em foco dependências de uma casa, pessoas de uma família, crianças
e objetos que se movem de forma barulhenta principalmente à noite. A regra é
nunca “mostrar” o fantasma, ou, se for preciso, deixar que se veja um vulto,
uma nuvem, nada de monstros ou qualquer figura bizarra que se evidencia pelo
aspecto físico. O pavor surge, por exemplo, de um objeto que cai, de um rosto
que aparece de súbito em primeiro plano seguido de um acorde brusco, ou de uma
diferença de iluminação (também súbita) no quadro.
O quarto episódio dessa série de
filmes faturou a maior bilheteria da semana nos EUA. O custo da “brincadeira” é
baixissimo, mas, a julgar pelo que rende, pode-se afirmar que a fórmula não se
exauriu – e nem adianta mencionar diretor ou atores, visto que tudo faz parte
de uma engrenagem harmônica que seduz produtores ávidos de lucro fácil. O
título do flme já referenda a amostragem de fenômenos de psicocinese, como o movimento de objetos físicos
etc., sem qualquer explicação para o público no esquema dos ruidos
demonstrados. É só isso e nada mais.
Um filme que discute a
paranormalidade, “Poder Paranormal” (Red Lights/Espanha, EUA, 2012, 1h53m) teve
rápida passagem em uma sala de cinema distante do centro da cidade. Talvez
porque não tenha como objetivo assustar os espectadores (que se divertem
gritando ou segurando o parceiro de poltrona). O roteiro (também a direção, a
edição e a produção) do espanhol Rodrigo Cortés trata de dois cientistas, uma
veterana (Sigourneyy Weaver) e seu assistente
Tom Buckley (Cillian Murphy) que visitam casas onde os moradores afirmam existir
fantasmas circulando nas dependências. A primeira seqüencia trata disso. Mas é
reticente. Diz-se de recursos para levantar mesas em reuniões mediúnicas
forjadas, mas não se conclui a observação. Os pesquisadores preparam-se para
enfrentar um famoso médium, afastado de todos há 30 anos desde a morte de uma
pessoa em uma de suas sessões. O personagem (Robert De Niro) é cego e a sua
volta em um teatro com ingresso pago, leva multidão a assisti-lo trazendo
admiração em meio à expectativa.
Margaret, a pesquisadora de meia
idade, guarda do médium que ora volta à cena uma conversa com ela quando seu
filho sofre um desastre entrando em estado de coma. Ela não quer desligar os
aparelhos, pois espera encontrar, com suas pesquisas, indicios de uma
existência além da vida. Mas o médium afirma estar vendo uma criança, próxima
da pesquisadora, que pedia que a libertasse. “-Deixe-a ir”, diz ele. Isso a
leva a ter prudência em um novo encontro com o medium. E seu colega segue essa
prudência. Fatos acontecem que levam o filme à uma sequencia apoteótica,
criticada pelos céticos observadores.
De fato, Cortés apresenta duas
variantes de linguagem. A primeira é moldada no ceticismo dos cientistas e vê
de longe os chamados fenômenos paranormais. A segunda é uma licença ao recurso
formal de espetáculo. Isso realmente destoa. Ainda mais quando o que seria
certamente explicado pelo espectador atento ganha um aspecto redundante na fala
de um personagem.
Mas “Poder Paranormal", ou
“Luz Vermelha”(Red Lights) da tradução original, está acima desses ensaios de franquia
sem qualquer responsabilidade seja cinematográfica seja cientifica. É um filme
sério, procura ser antidogmático, e o diretor de “Enterrado Vivo” torna a
mostrar que tem imaginação e sabe fazer cinema. Felizmente não aderiu ao “caça
níquel” dos atuais colegas norte-americanos.
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