Leandro Hassum e Danielle Winits unidos pela mediocridade.
Com base no livro “Casais Inteligentes Enriquecem
Juntos-Finanças para Casais” (Editora Gente 20, SP, 93 pag.) de Gustavo Cerbasi,
escrito em 2004 e já 20ª edição, (está na internet para baixar), o diretor
Roberto Santucci realizou “Até que a Sorte nos Separe”(Brasil/2012). Não
conheço o livro (apenas as informações sobre ele, mas baixei uma cópia em PDF) e
não sei até que ponto o roteiro de Paulo Cursino e Angélica Lopes extraiu os
pontos focais do mesmo (pois, sabe-se que fidelidade de uma obra literária para
o cinema não existe, pois a tradição semiótica torna-a outra obra nesta
linguagem).
Assistindo ao
filme supus que o original tivesse vindo do teatro. Talvez porque a ação se
mantenha no discurso verbalizado dos protagonistas. Os principais são: Tino (Leandro
Hassum) e Jane (Danielle Winits), casal de classe média-baixa que na primeira
sequência surge vibrando ardorosamente pelo resultado da loteria (sena) como se
tivesse grandes chances de acertar (a impressão é semelhante a de acompanhantes
de partidas de futebol ou de corridas de cavalos). Ganham. E começam a viver
sonhos de grandeza que talvez não imaginassem quando ele era muito mais magro e
ela morena com simples adornos.
O tempo gasto pela aventura milionária não é visto,
mas apenas o final é objetivo da historia. Pouco mais de um ano depois já
haviam dissipado toda a fortuna. E se ele sofre com o retorno à vida de antes
(pior, pois não tem mais emprego), falta-lhe coragem de informar à esposa sobre
a situação e esta prossegue esbanjando
como se o dinheiro se multiplicasse indefinidamente.
Um tema interessante para medir classes sociais e
analisar procedimentos e rumos dessas classes no capítulo consumo. Mas o
objetivo do filme de Santucci não é este. Depois do sucesso popular de seu “De
Pernas pro Ar”(Brasil, 2010) ele quis fazer outra comédia, desta vez, no seu
entender, “endereçada a qualquer plateia”, ou seja, sem o atrativo (?) da licenciosidade
que norteia o que se denominou de pornochanchada, no caso, para diferir do que era
realizado em tempo de ditadura para driblar os rígidos censores, de
“neopornochanchada”.
“Até que
a Sorte...” é, na verdade, uma ampliação em tamanho de tela e tempo gasto pela
narrativa, de um show televisivo. Não sou muito fã desse tipo de programa, mas
o pouco que vejo denuncia a origem da ideia que norteou a produção. Os
trejeitos, as falas, a caricatura abundante em todos os personagens, tudo faz
parte de uma fórmula de fazer rir que é usada na TV como recurso imediato.
Leandro Hassum com um perfil obeso e barriga proeminente é o perfeito
estereotipo do “nouveau riche” que podia estar num quadro de “Zorra Total” ou
outro programa da telinha. Mas se é vendida uma imagem desse tipo é isso que o
grande público aceita considerando a multivariedade de platéias antes limitadas
aos aparelhos de televisão e hoje com acesso mais próximo ao cinema (ascensão
de classe social conforme as estatísticas) esse público quer se divertir com o
que sabe que trás diversão. Nada de pensar, nada de analisar este ou aquele
tipo. Por exemplo: o filme poderia levar a uma análise de comportamento social
quando as pessoas ascendem de uma classe de posses limitadas e passam a usufruir
outras benesses e a vida que era difícil passa a ser, no entender delas,
“permanentemente fácil”. É uma ampliação da chamada “crise de consumismo”.
Valia experiências cinematográficas de cineasta engajados e que se dedicam ao
que hoje se chama de “filme de festival”. Não é o caso de Santucci e seus
roteiristas. O que eles querem - e conseguem, posto que o filme se acha entre
as melhores bilheterias nacionais deste ano - é mesmo atrair uma platéia que
está sintonizada com programas de fácil digestão em exibição na TV (aberta ou
fechada). Por aí vai caminhando esse tipo de comédia “vauddeville” contemporânea
levando a odisséia de um casal que “a sorte separa”. E o cinema une.
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