terça-feira, 27 de novembro de 2012

COMÉDIA E CAMPANHA POLÍTICA

Will Farrel e Zach Galifianakis em "Os Candidatos"(2012)
 
A reunião do diretor Jay Roth, de “Entrando numa Fria”(2000) com o comediante Zach Galifianakis, de “Se Beber, Não Case”(2009) poderia até ser melhor, mas o que apresentou em  “Os Candidatos”(The Campagnie/EUA,2012) tem um toque hilário e não deve ser subestimado. Essa comédia voltou ao cartaz em Belém e ganhou impulso comercial com a recente campanha pela presidência dos EUA.
No filme, Cam Brady (Will Farrel), um congressista veterano, candidato pelo Partido Democrata à reeleição, ganha subitamente um adversário no tímido e inexperiente Marty Huggins (Zach Galifianakis). Este candidato de ultima hora pelo Partido Republicano é, na verdade, impulsionado por dois irmãos magnatas (Dan Aykroyd e John Lithgow) que desejam usar uma firma chinesa para atuar nos EUA sob controle de seus meios de produção. O que em principio parecia ser uma “parada fácil” para o já congressista logo se transforma num pesadelo que ele tem de enfrentar com recursos nem sempre éticos (como seduzir a mulher do concorrente) colocando as cenas ousadas nos jornais noticiosos.

O filme lembra bastante o clássico “A Mulher Faz o Homem” (Mr Smith Goes to Washington/ 1939) de Frank Capra, ressalvando-se as especificidades atuais do “fazer política”. Neste caso, era um interiorano (James Stewart) que substitui um senador falecido em acidente e revela a corrupção nas casas legislativas. No caso atual, o que se denuncia são as manhas dos pleitos, mostrando até que ponto vão os interesses financeiros que cercam os partidos e como as armas da luta pelos votos ganham dimensões inusitadas, umas aproveitando oportunidades outras forçando situações para ganhar a simpatia do eleitor. A figura do marqueteiro político é o eixo voraz das peças que devem remodelar as imagens dos candidatos, assim como as pesquisas de opinião que medem os altos e baixos das campanhas na sedução dos eleitores.
Há momentos realmente engraçados. Um deles é quando Cam vai dar um soco em Marty e o gesto acaba resvalando para o rosto de um bebê. Não satisfeito com isso o roteiro leva adiante outro acidente parecido: o candidato esmurra um cachorro de estimação. Tudo isso contando como peças desfavoráveis à imagem dele.

Zach Galifianakis é um ator que tem seduzido os espectadores a partir de sua expressão fisionômica. Não precisa escorregar e cair no chão como muitos astros da comédia. Ele faz rir de cara. E no filme não dispensa uma fisionomia sisuda, compondo o homem sério que nas reuniões familiares, especialmente nas refeições, solicita a cada filho que conte o que lhe parece vergonhoso, ou as más idéias na cabeça. O concorrente é o reverso, o “bon vivant” muito falante, expansivo, conhecedor das manhas políticas que vêm usando para se manter em um cargo (e visando,certamente, uma ascensão). Não é bem o foi exposto na comédia de Capra onde o rival maior do roceiro interpretado por James Stewart era o veterano e corrupto tipo vivido por Claude Rains. Nesse caso, as regras legislativas tendiam a capacitar quem estava no poder a manter sua linha antiética para aprovar projetos enquanto Mr. Smith teima em fugir dessa ambiguidade da política.
“Os Candidatos” consegue ser muito divertido, embora longe de ser tomado como uma denúncia mais séria a meios escusos usados em eleições norte-americanas ou ir além apontando os milionários compradores de votos. Contudo, mostra como “fabricar políticos” usando a máquina de marqueteiros para “dourar a pílula”. Nota-se que os personagens não se livram de velhos estereótipos, ou declaradamente bons na sua ingenuidade (no caso “rima” com honestidade), ou maus seja na cobiça desmedida seja em atitudes amorais na luta pelo poder. E não se esperava outra coisa no filme, mesmo assim ganhando campo na sua narrativa ágil e nos seus bons propósitos. O que destoa, certamente, é o final, absolutamente improvável, embora de efeito moral cabível no exemplo de “Mr. Smith Goes to Washington” e outros títulos do tema. Nesse caso, lembro “Tempestade Sobre Washington” (Advise and Consent, 1962) de Otto Premminger. Enfim, como atualmente o cinema vem acenando para vilões-heróis, a comédia em cartaz merece ser vista. Até por se confirmar que não é só no nosso terreno que se aponta vilão ou se fabrica o que possa vestir essa indumentária.

(Originariamente publicado em O Liberal de 27/11/2012) 

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