A primeira
sequencia do filme “Argo”(EUA/2012) de Ben Affleck mostra uma síntese da
história contemporânea do Irã, lembrando que o país era a antiga Pérsia e seus
governos sucessivos extrapolaram ações repressoras culminando com as
atrocidades cometidas pelo xá Reza Pahlavi, deposto e refugiado nos EUA para
tratamento de um câncer. O relato termina com a situação atual quando os
aiatolás assumiram o governo e o povo passou a revidar os maus tratos sofridos
odiando, especialmente, os norte-americanos, pelo asilo dado ao ditador
deposto.
A narrativa
se inspira em um fato real, quando alguns funcionários da diplomacia
norte-americana ao viverem a invasão da sua embaixada por revoltosos iranianos
se refugiaram na embaixada do Canadá. Ali permaneceram sem poder sair, pois os
que os odiavam estavam nas ruas, esperando-os.
Basicamente
o enredo é a operação idealizada por um agente da CIA que simula a realização
de um filme de ficção cientifica em território iraniano e, para isso, cria
equipe de produção & tudo o que tem direito numa empresa holiwwdiana e, na
terra estrangeira, seria formada pelos seis refugiados de seu país. Este plano
é meticuloso, mas poucos acreditam que dê resultado. Consultando pessoas de
cinema, Tony (Ben Affleck) consegue mostrar aos interessados um roteiro e um
“storyboard”, assim como pede que cada um dos refugiados decore o que deve
dizer das tarefas de filmagem (há um diretor, uma roteirista, um produtor
etc.). Tudo caminha para a realização do plano quando o Departamento de Estado
do governo Jimmy Carter, resolve mudar as regras e ativar uma tropa militar
para liberar de qualquer forma os mais de 70 reféns que já haviam sido presos,
incluindo os outros seis nessa nova campanha militar. A medida seria perigosa,
talvez mais do que a realização do filme de mentira arquitetado por Tony. Em
vista disso ele resolve contrariar os superiores e seguir avante em seu plano.
O filme é
extremamente bem narrado dando a impressão, em alguns momentos, de um
documentário. Mas o que eleva o resultado é uma direção de atores eficiente, a
mescla de locação com cenas de estúdio, e tudo resolvido por uma edição
exemplar. Para que se tenha uma ideia de como a trama funciona basta levar em
conta a emoção que gera num crescendo, chegando à agonia do suspense nos planos
semifinais.
Há cortes de
segundos detalhando expressões em closes e alternando movimentos manuais de
câmera que sugerem uma cine-reportagem. Affleck não só trata do que a
personagem diz “filme de mentirinha”, ou o filme dentro do filme, como elabora
o suspense em alta dosagem. Os tipos sabem que se algum detalhe for percebido,
na fuga para um avião suíço, eles estarão mortos. O crescente ódio dos
iranianos contra os norte-americanos é demonstrado em momentos como numa feira
onde um homem idoso reclama da foto captada por uma das personagens e evoca a
sua condição de pai de uma vitima das atrocidades de Reza Palahvi acobertado
pelos americanos. Na hora do embarque, no aeroporto, é“tudo ou nada”, com o
espectador na ponta da poltrona torcendo para que os guardas locais aceitem a
ideia de um filme popular e até se entusiasmem com os desenhos de cenas.
O que falha
em “Argo”, e este nome deriva da ficção que seria filmada no Irã (um plano
detalhado em cima de um processo ardiloso e falso) é não só a sequencia de
fecho onde se vê o agente da CIA em casa, com a família e, no plano de fundo, a
bandeira americana tremulando. Ele, “herói”, não havia sido reconhecido
oficialmente como tal, mas a condição “patriótica” ganha corpo como forma de
homenagear a coragem de um filho da América. Coisa da velha Hollywood. Além
dessa sequencia há toda a dimensão “de bastidores” contada em fragmentos sobre
o enriquecimento de empresas norte-americanas e as atrocidades cometidas em
nome do imperialismo. O filme de Afleck é daquele tipo de dá lição de como se
organiza a ideologia de direita em função da convicção de que “só estamos vendo
um filme....” Aliás, ele deve ir ao próximo Oscar com muita chance de ganhar.
Está fazendo a cabeça dos eleitores e de quantos não têm acesso ao que o
ocidente oprime o oriente. Mas as criticas são favoráveis a ponto de um site
que faz o balanço dessas critica adjetivar que é “extraordinário”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário