Uma das cenas mais marcantes de "Sete Noivas para Sete Irmãos" exibido na recente Mostra de Musicais no Olympia.
Certa ala da crítica criada a
partir dos “Cahiers du Cinéma, revista francesa que mantinha o fervor da
ideologia marxista nos anos sessenta, se indispunha contra os filmes
norte-americanos e em especial, aos filmes de gêneros. Na verdade, o que
propunham esses intelectuais do cinema francês era a desmontagem do que estava
por trás dos filmes confrontando o que era visto e o que deveria ser olhado com
a perspectiva da ideologia do ambiente onde se compunham as imagens. Um livro
muito instigante que me levou a conhecer esse potencial crítico (e graças a
Deus consegui um exemplar) foi “Cinema, Arte e Ideologia” (Editora
Afrontamento, Lisboa, 1975) com textos de vários autores dissecando os filmes e
analisando as simbologias e as metáforas que deveriam ser buscadas. Outro livro,
de Eduardo Geada, “Cinema e Transfiguração” (Livros Horizonte, Lisboa, 1978)
também me deu subsidios para entender a complexidade da linguagem do que havia
“por trás” das câmeras” e como deveria ser visto este ou aquele filme com a
perspectiva de “uma crítica materialista”. Primeiro, radical, depois menos, fui
aproveitando essas incursões para aprender e apreender a linguagem cinematográfica
e os gêneros. Hoje, não creio que esse tipo de filmes “faça mal” a ninguém se avaliados
com a desmontagem do que representa o a cultura norte-americana. Assim, creio
que essas mostras de gêneros no cinema realizadas no Olympia em seu “ano centenário”
devem ser aproveitadas despojadas da visão simplista que pode perder a
perspectiva do que representaram ontem e hoje.
No caso da Mostra de Filmes
Musicais exibida na semana passada leva-me a lembrar outra situação: esse gênero não era tão preferido
dos paraenses como era no sudeste, especialmente no Rio de Janeiro. Lá havia 3
salas da MGM, a maior produtora desse tipo de filme e as estréias dos
filmusicais com a marca do leão eram disputadas e comentadas. Aliás, quem não entrasse
nesse gênero nessa empresa poderia perder o pódio da corrida aos cinemas
ocidentais (talvez até orientais). Exploro abaixo alguns dos filmes que foram
exibidos nesta semana
“7 Noivas Para 7 Irmãos”(Seven
Brides for Seven Brothers/1954) vem da lenda “O Rapto das Sabinas” como foi
escrita por Stephen Vincent Benet com roteiro de Frances Goodrich e Albert
Hackett. A direção coube a Stanley Donen (“Cantando na Chuva”com Gene Kelly) e
o elenco é encabeçado por dois cantores: Howard Keel e Jane Powell. Ela também
dançava, mas neste filme se limitou a cantar, fazendo dueto com Howard Keel. Na
dança esteve Russ Tamblyn e entre outros Jacques d’Amboise, o dançarino
principal do Balé da Cidade de Nova Iorque. A coreografia de Michael Kidd
atinge o ponto mais alto quando os irmãos sertanejos destroem uma casa que está
sendo construída. Também um número marcante e divertido é quando o grupo de
irmãos planeja fazer a corte às moças sequestradas seguindo a historia do rapto
das jovens sabinas pelos romanos .O jogo de cadeiras nesse momento é muito
criativo e além do brilho coreográfico há o tom de comédia.
“7 Noivas..”foi um dos primeiros
muscais a aproveitar o cinemascope, utilizando com propriedade a largura do
quadro (tela). Depois dele lembro “Meias de Seda”,nesse tom.
Outro musical da mostra foi “Papai
Pernilongo”(Daddy Long Legs/1955) de Jean Negulesco, segundo um roteiro de
Henry e Phoebe Ephron, de uma historia de Jean Webster. O diretor não era
especialista em musicais, mas o filme apresentava Fred Astaire e Leslie Caron e
a coreografia de Roland Petit. A história havia sido filmada como simples
comédia em 1919, por Alfred Stern, com Mary Pickford, em 1931 por Marshall Neil
com Janet Gaynor e Warner Baxter e, em 1938, por Frederic Zelnick (na Noruega).
Sempre a trama de um mecenas que paga o internato de uma garota e ela só vê
suas pernas na hora em que visita o estabelecimento daí chama-lo de “papai
pernilongo”. No musical de Negulesco salta o número “Something’s Got to Give”.
Produção da 20th Century Fox.
Outro titulo, “Escola de Sereias” (Bathing Beauty/1944) é interessante por dois motivos: lançou
o comediante Red Skelton e a bailarina “aquática” Esther Williams. Foi o começo
dos “filmes de piscinas”, este com direção do hábil George Sidney (que chegou a
realizar até “Amor à Toda Velocidade”, com Elvis Presley e Ann Margret), além
da melhor versão de “Os 3 Mosqueteiros” (com Gene Kelly) em 1948.
E em se tratando de importância
histórica, “O Balanço das Horas”(Rock Around the Clock/1956) marcou época por
lançar o rock’roll com Bill Halley e seus Cometas provocando filas imensas e
danças dentro dos cinemas.
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