Na sua primeira semana
de exibições nos cinemas dos EUA “A Saga Crepúsculo: Amanhecer, 2ª Parte”(Breaking
Down 2) rendeu 141 milhões de dólares. Sabe-se que no Brasil foram feitas
cópias em números recorde para atingir cinemas de todas as cidades (fora as
projeções digitais que não precisam de película), a exemplo, Belém, onde 5
salas de cada shopping estão ocupadas com o filme em versões originais (com
legendas) e dubladas.
É de se perguntar: por
que tanta euforia em torno de um casal de vampiros, agora com uma filha e às
voltas com outros vampiros e, ainda, lobisomens? A primeira explicação paira no
fascínio dos mitos. Os filmes e livros que abordaram mitos como os que
amedrontam os/as leitores/as sempre apresentaram um bom público. Há, inclusive,
um estudo sobre os contos de fadas, de Bruno Bettelheim (A Psicanálise dos
Contos de Fadas, 17ª ed. 2002, hoje no endereço http://xa.yimg.com ), onde
se observa a arquitetura do mal através desses contos e mitos e seu significado
na criação de uma criança. Psicólogos gastaram laudas escrevendo sobre o quanto
essas histórias influem negativamente nesses infantes. Emparelha-se à sentença
da babá ao dar alimento para uma criança:”- Come logo senão o bicho te pega”.
A norte-americana
Stephenie Meyer havia escrito “Crepúsculo”(Twilight) como uma brincadeira ou
uma diversão muito particular. Sua irmã, ao ler o texto, incitou-a a levar para
publicação. Ela certamente quis desmitificar o vampiro moldado por Bram Stocker
em “Drácula” vendo a casta desses sugadores de sangue como pessoas
aparentemente comuns, capazes de amar como são capazes de odiar. O fato de ser
imortal desde que se livre de símbolos da vida como a luz do sol e relíquias
cristãs, além de alguns temperos e objetos de prata (analogia com os“trinta
dinheiros”, ou moedas de prata, que Judas recebeu por trair Jesus), chega a ser
não uma dádiva, mas terrível maldição.
Os filmes derivados dos
livros de Meyer ganharam enorme popularidade por unir a fantasia ao romance.
Atores jovens levam a um efeito mimético que elimina o terror clássico aliando
o mito à metáfora de “morrer de amor” (ou viver eternamente por ele).
No filme que está em
cartaz mundialmente (estreia em Los Angeles amanhã) é dirigido por Bill Condon,
cineasta responsável pelo excelente “Deuses e Monstros” (Gods and
Monsters/1998), com roteiro dele baseado no livro de Christopher Bram sobre a
vida do cineasta James Whale, o responsável pela melhor versão de
“Frankenstein”(1931). Whale teria sido assassinado por manter uma orientação
sexual diversa do modelo tradicional, culpando-se, na ocasião, o seu jardineiro
(por quem era apaixonado). Foi o melhor trabalho de um grande ator inglês, Ian
McKellen (de “Senhor dos Anéis” e agora “O Hobbit”). Condon realizou as duas
partes de “Amanhecer” em um só tempo (a produtora do filme é que dividiu para
melhor rendimento como fizeram com o último livro da franquia“Harry Potter”).
Não é possivel exigir excelência estética num trabalho eminentemente comercial.
Mas ainda assim há resquícios de agravos sérios no conjunto, como o desempenho
da atriz Kristen Stewart. A “mãe vampiro” que luta para que seres da espécie
não ataquem seu rebento é ainda mais ridícula com a profusão de closes. Aliás,
o roteiro (não sei até que ponto obedece ao original literário visto
desconhecer o livro) não aproveita a liberdade de idéia, como seja, a
humanização dos mitos em sua perspectiva atual. Com isso ganha o caricato. E
não é comédia. A batalha final de hordes vampíricas e lobos em uma região
gelada é apoteose de blockbuster capaz de gerar gritos na plateia. E os
diálogos sobre a capacidade de convivência de espécies é de um grotesco atroz. Mas
de que vale apontar defeitos no trabalho de Condon? A hegemonia do cinema de
fácil comercialização desafia qualquer análise de forma ou conteúdo. E a
platéia (não só a garotada, mas muito jovem acima dos 20) que aplaude os
vampiros amantes pouco está ligando para quem os ache carnavalescos, mesmo fora
do tempo. Mas se há resquicios de um “dia das bruxas” que venha nesse meio
enfeitar a sintonia. Se merecem!
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