sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

COSMÓPOLIS


Robert Pattinson em "Cosmópolis", de Cronembrg 

O diretor canadense David Cronemberg escreveu o roteiro de “Cosmópolis” (Canadá 2012) com base em uma novela escrita em 2003 pelo nova-iorquino Don DeLillo (76 anos). O filme trata de Eric Parker (Robert Pattinson), bilionário nova-iorquino, que passa a maior parte do dia em sua limusine. Do interior do carro ele decide seus negócios e atende até mesmo aos seus atos mais íntimos, como o sexo. No dia focalizado pelo filme, ele que ir ao barbeiro. Mas o trafego da cidade está engarrafado devido à visita do presidente dos EUA e devido também a um funeral “de luxo” e principalmente a protextos contra a globallização. Mesmo assim, Eric insiste. E nessa viagem deixa que se conheça parte de seus problemas, culminando com o encontro com um de seus opositores (ou algozes).

Se o texto do livro pode ser linear, o filme é um exercício de linguagem sem concessões ao processo industrial padrão. A exiguidade de espaço com que se limita a ação é um modelo de metáfora que engloba uma classe social e uma arquitetura psicológica típica. Basicamente está focalizado as dimensões do sistema capitalista na mais forte afirmação. O personagem só se preocupa, no interior de seu microcosmo, quando sabe que a moeda chinesa está ganhando o espaço do dólar no mercado internacional. Ele reluta em aceitar isso, ou o perigo que possa ocorrer com os seus negócios, mas o dono do capital sempre se rebela quando há um perigo de base. E o tipo focalizado por Cronemberg vai gradativamente adquirindo uma postura patológica, chegando a matar sem hesitação quem o ajuda.

Não se vê as ruas engarrafadas de Manhattan. Aliás, pouco se vê além do interior do luxuoso automóvel. Há uma preocupação de restringir o espaço de forma a ser melhor dimensionado o aspecto do homem rico, egoísta e insensível. Este quadro ganha até uma postura física quando, sem sair do carro, Eric se submete a um exame de próstata (um toque retal) e o médico afirma que ele tem a glândula assimétrica. Esta assimetria ganha a feição do caráter do examinado. Ele é assimétrico no seu modo de pensar e agir. E na sua concepção o mundo, naturalmente na sua visão de bem aquinhoado financeiramente, é assim.

Cronemberg já tratou de temas densos e muitas vezes de forma experimental. Lembro-me de “Scanners”(1981), de “Videodrome”(1983) e de “EXistenZ” (1999). Mesmo quando não sai da narrativa tradicional trata de personagens doentias como em “Gêmeos, Morbida Semelhança”(1988) e“A Hora da Zona Morta” (1983) sem falar no recente “Um Método Perigoso”(2011) onde tratou do relacionamento de dois mestres da psiquiatria: Freud e Jung. Aqui em “Cosmópolis”, a começar pelo titulo, ele amplia a base teórica dos famosos psiquiatras. Quer dizer cidade universal (cosmo/universo, polis/cidade). Nova York é isso, mas o título da obra cai mais sobre a limusine do bilionário. Ela seria, pode-se dizer, a “polis” do termo na sua feição geográfica e o “cosmo” na maneira como em um universo se acomoda no pequeno espaço dentro dos limites de uma inteligência perturbada.

O mundo de Cosmópolis é uma aberração se colocado dentro das definições sectárias de uma dicotomia ideológica. Eric/Pattinson pode ser visto como um membro da extrema direita, contabilizando a sua fortuna. E como trata o semelhante expande a caricatura do poderoso. Não sei se o ator da série “Crepúsculo” foi a máscara ideal para compor o tipo, mas até por suas limitações está interessante nessa representação. Mesmo por causa dele, ou de sua popularidade, a carreira comercial do filme foi restrita às salas especiais. Felizmente chegou a Belém. Não é um filme fácil de absorver em todas as nuances que explora porque exige certo conhecimento de como um sistema social e político promove restrições e exclusões além da expansão de entrada para qualquer um, deixando o que pensar, o que refletir da explosão de um sistema limitador que não se evidencia com facilidade porque supostamente liberal, mas que deixa suas marcas de insalubridade.

 

Um comentário:

  1. Oi, Luzia!
    É triste, desalentador constatar que Belém (parece ser ou) é a capital da burrice. Os melhores filmes só chegam por aqui via circuito alternativo. Troxeram uma série de salas de cinema, para que? Para fomentar a burrice, a alienação, pão e circo? E pior é que ninguém consegue deter os tentáculos desse absurdo! Lastimável!!! Filmes como Tropicália e Heleno, por exemplo, que dizem ser um bálsamo do cinema brasileiro de hoje, não nos chegam. Vou tentar agendar Cosmopolis, por força de seu comentário.

    Um abraço,
    R.Secco

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