“A Origem dos Guardiões”, da DreamWorks
Não lembro de tantos filmes de animação sendo
produzidos como agora. A facilidade oferecida pelos computadores gerou um estímulo
ao gênero, que antes necessitava de uma custosa e engenhosa pintura para cada
quadro. O problema do excesso de oferta é a diluição da qualidade. Poucas
animações devem subsistir no futuro. Mas há nobres exemplares como os do
estúdio PIXAR – “Ratatouille”,“Wall E”, “Up” e os 3 “Toy Story”. Este ano
assisti a três títulos de bom nível:“Valente”(Brave), da Pixar, “Frankweener”
de Tim Burton & Disney e agora “A Origem dos Guardiões”(The Origin of
Guardians) da DreamWorks. Este último apresenta não só uma técnica primorosa
com aplicação do efeito tridimensional (3D), como um roteiro imaginoso com base
em uma história de William Joyce. Guardei, por exemplo, a frase do pequeno
herói para uma criança que estava perdendo a fé nas fantasias que lhe contavam.
Disse ele: “-Você descrê do sol ao ver que ele foge para dar lugar à lua?” Pois
a base do filme é esta: o que gera a descrença dos meninos e meninas em ícones
da infância de várias gerações.
A história
parte de um garoto chamado Jack Frost, na verdade um dos mitos da cultura
norte-americana, que é guinado, pelo Homem da Lua, a reconhcer a sua identidade
para livrar o mundo da escuridão proposta por Breu (o nosso Bicho Papão) com
isso salvando Papai Noel, Coelho da Páscoa, Fada do Dente e Homem da Areia,
todos voltados à tarefa de trazer alegria às crianças em diversos períodos do
ano.
Uma
escuridão sobre a infância leva consigo ou destrói não só a ingenuidade, mas a
felicidade desse momento da vida. Quando a menina focalizada tende a descrer do
Coelho da Páscoa ele, literalmente, encolhe. E Breu acha mais fácil prosseguir
derramando uma gigantesca nuvem negra sobre o planeta. Isto faz reunir a equipe
de ícones das historias infantis e começar um combate contra o malvado que em
principio quer tirar a fé das pessoas desde que se entendem como criaturas
pensantes.
Realizado
em 3D, “A Origem dos Guardiões” aproveita bem a técnica que aproxima imagens e
constrói profundidade de campo. Esses elementos surgem fortes em sequencias
como o combate final entre heróis e vilão. É claro que uma proposta de história
de e para a infância não pede um final infeliz. Mas a construção a partir de um
bom roteiro deixa os espectadores de baixa idade em estado de alerta. E dessa
forma evoca a magia como ponto de apoio na ideia de que não se deve tirar os
sonhos dos que ainda podem sonhar com mundos e figuras fantásticas. O pessoal
da Dream Works, à frente o diretor Peter Ramsey, soube trabalhar na área
especifica da trama, endereçar o seu trabalho a quem de direito. E o
importante: não procurou fazer um filme em que os acompanhantes dos menores se
sintam entediados. O resultado é bem divertido para todos e a prova está na boa
acolhida obtida pela animação em diversos países inclusive numa provavel
indicação desse filme na condição de candidato a candidato ao próximo Oscar do
gênero.
Pena é
que não nos brindam com a trilha sonora original (as cópias são dubladas). Para
os que exigem mais é esperar o lançamento em DVD.
Houve tempo em que segui uma trilha de crítica negativa
à fantasia infantil. Sem dúvida esta fase ainda é válida tendo em vista minha
formação na área da crítica social que percebe o diferencial de classe entre as
crianças e seus sonhos. Sabe-se que uma parte significativa de infantes no
mundo já perdeu seus sonhos há muito tempo e espera reavivar sua pulsão e
desejos através da marginalidade para a qual as desloca a sociedade consumista
(de consumo). Mas a magia da criança em acreditar em alguma coisa merece ser
respeitada, creio eu. E embora “A Origem dos Guardiões” reuna uma turma de
mitos construídos de fora de nossa cultura brasileira acho que a presença deles
já está tão impregne em períodos pontuais mundiais que se torna uma violência
deixá-los “na mão” e obrigá-los a abraçar o “Breu” da ignorância. E o cinema,
com as suas novas ferramentas, dá à criança de hoje o que na minha geração imaginávamos
e construiamos com nossas próprias maneiras de entender o que representavam.
Além da
boa realização de “A Origem dos Guardiões”, onde o emprego da tenologia
contribui para a inventividade técnica, há essa pronúncia anti-negação da
fantasia tão necessária ainda hoje.
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