quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

NO MUNDO DA FANTASIA

“A Origem dos Guardiões”, da DreamWorks

Não lembro de tantos filmes de animação sendo produzidos como agora. A facilidade oferecida pelos computadores gerou um estímulo ao gênero, que antes necessitava de uma custosa e engenhosa pintura para cada quadro. O problema do excesso de oferta é a diluição da qualidade. Poucas animações devem subsistir no futuro. Mas há nobres exemplares como os do estúdio PIXAR – “Ratatouille”,“Wall E”, “Up” e os 3 “Toy Story”. Este ano assisti a três títulos de bom nível:“Valente”(Brave), da Pixar, “Frankweener” de Tim Burton & Disney e agora “A Origem dos Guardiões”(The Origin of Guardians) da DreamWorks. Este último apresenta não só uma técnica primorosa com aplicação do efeito tridimensional (3D), como um roteiro imaginoso com base em uma história de William Joyce. Guardei, por exemplo, a frase do pequeno herói para uma criança que estava perdendo a fé nas fantasias que lhe contavam. Disse ele: “-Você descrê do sol ao ver que ele foge para dar lugar à lua?” Pois a base do filme é esta: o que gera a descrença dos meninos e meninas em ícones da infância de várias gerações.

A história parte de um garoto chamado Jack Frost, na verdade um dos mitos da cultura norte-americana, que é guinado, pelo Homem da Lua, a reconhcer a sua identidade para livrar o mundo da escuridão proposta por Breu (o nosso Bicho Papão) com isso salvando Papai Noel, Coelho da Páscoa, Fada do Dente e Homem da Areia, todos voltados à tarefa de trazer alegria às crianças em diversos períodos do ano.

Uma escuridão sobre a infância leva consigo ou destrói não só a ingenuidade, mas a felicidade desse momento da vida. Quando a menina focalizada tende a descrer do Coelho da Páscoa ele, literalmente, encolhe. E Breu acha mais fácil prosseguir derramando uma gigantesca nuvem negra sobre o planeta. Isto faz reunir a equipe de ícones das historias infantis e começar um combate contra o malvado que em principio quer tirar a fé das pessoas desde que se entendem como criaturas pensantes.

Realizado em 3D, “A Origem dos Guardiões” aproveita bem a técnica que aproxima imagens e constrói profundidade de campo. Esses elementos surgem fortes em sequencias como o combate final entre heróis e vilão. É claro que uma proposta de história de e para a infância não pede um final infeliz. Mas a construção a partir de um bom roteiro deixa os espectadores de baixa idade em estado de alerta. E dessa forma evoca a magia como ponto de apoio na ideia de que não se deve tirar os sonhos dos que ainda podem sonhar com mundos e figuras fantásticas. O pessoal da Dream Works, à frente o diretor Peter Ramsey, soube trabalhar na área especifica da trama, endereçar o seu trabalho a quem de direito. E o importante: não procurou fazer um filme em que os acompanhantes dos menores se sintam entediados. O resultado é bem divertido para todos e a prova está na boa acolhida obtida pela animação em diversos países inclusive numa provavel indicação desse filme na condição de candidato a candidato ao próximo Oscar do gênero.

Pena é que não nos brindam com a trilha sonora original (as cópias são dubladas). Para os que exigem mais é esperar o lançamento em DVD.

Houve tempo em que segui uma trilha de crítica negativa à fantasia infantil. Sem dúvida esta fase ainda é válida tendo em vista minha formação na área da crítica social que percebe o diferencial de classe entre as crianças e seus sonhos. Sabe-se que uma parte significativa de infantes no mundo já perdeu seus sonhos há muito tempo e espera reavivar sua pulsão e desejos através da marginalidade para a qual as desloca a sociedade consumista (de consumo). Mas a magia da criança em acreditar em alguma coisa merece ser respeitada, creio eu. E embora “A Origem dos Guardiões” reuna uma turma de mitos construídos de fora de nossa cultura brasileira acho que a presença deles já está tão impregne em períodos pontuais mundiais que se torna uma violência deixá-los “na mão” e obrigá-los a abraçar o “Breu” da ignorância. E o cinema, com as suas novas ferramentas, dá à criança de hoje o que na minha geração imaginávamos e construiamos com nossas próprias maneiras de entender o que representavam.

Além da boa realização de “A Origem dos Guardiões”, onde o emprego da tenologia contribui para a inventividade técnica, há essa pronúncia anti-negação da fantasia tão necessária ainda hoje.

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