Não tive acesso ainda ao
livro “Could Atlas” (novela escrita em 2004 pelo inglês David Mitchell) que
embasou o roteiro de Lana e Andy Wachowsky e Tom Twyker para o filme dirigido
por eles, “A Viagem”(Cloud Atlas/EUA, 2012). Assistindo ao filme fiz um grande
esforço para deter na memória os personagens de 6 historias que se vê de forma
simultânea em diversos tempos e espaços.
A base pode ser
qualificada de surrealista. Afinal, na última sequencia, um idoso mostra à neta
o planeta Terra no céu estrelado. Obviamente eles estariam num outro mundo. Mas
um mundo suficientemente próximo para se observar o nosso mundo como “uma
estrela azul”. Não importa: em nenhum momento das histórias se exibe uma
migração planetária. Sabe-se do diário escrito em 1849 em um veleiro navegando
pelo Pacifico, das cartas de um compositor para seu amigo, de um assassino em
uma usina nuclear, de um editor levado pelo irmão a um asilo (e que tenta de
todas as maneiras fugir de lá), de um clone rebelde numa Coréia do futuro, e de
uma tribo no Hawai depois do que seria o apocalipse. Essas situações em mescla
geográfica e temporal (1849, 1936, 1973, 2012, 2144 e no 106 “pós-apocalipse”) querem dizer que o ser humano vive uma
permanente busca de realização, podendo seguir caminhos do bem e do mal e
repetindo posturas como reencarnados sucessivamente. Essa a versão que o
próprio autor da história confirma: “Literalmente todos os
personagens principais, exceto
um, são reencarnações da mesma alma em corpos diferentes ao longo do romance identificados por uma marca de nascença ... isso é apenas um símbolo realmente da universalidade da natureza humana. O próprio título "Cloud Atlas", a nuvem refere-se às manifestações em constante mudança do Atlas, que é a natureza humana fixa que é sempre assim e sempre será”.
O texto narrativo é
complexo e a colocação num produto de cinema comercial, onde se observam
perseguições, explosões, tiroteio, o que possa “animar” uma plateia
possivelmente entediada com alusões filosóficas, gera um hibrido importuno. Os
Wachowsky tentaram superar o veio criador de sua trilogia “Matrix”. Quiseram ir
além da especulação tecnológica e abraçar, como se costuma dizer, o mundo com
novas medidas. Sem dúvida
os fãs de “Matrix” irão reconhecer a complexidade da trama.
Tom Twyker, cineasta de
“Corra Lola, Corra”(1998) junta-se aos irmãos mas não parece à vontade nessa
outra corrida. Nem os atores, alguns protagonizando tipos diversos nas
histórias, sugerindo seu retorno após a morte para completar tarefas. Mas nada
disso tem a ver explicitamente com o espiritismo, nem alude a religiões
orientais que tratam de carma e de reavaliações de vidas sucessivas como forma
de revisão moral do ser humano, embora se reconheça no final que essa é a
medida. “A Viagem” é extremamente longo e vazado em tramas que inicialmente são
confusas no modo como são vistas, seguindo uma narrativa do tipo recortado
(short cuts) integrando-se aos poucos ao que pretende explorar como “mensagem”,
ou seja, o reconhecimento de que as pessoas se encontram, se afastam e se
renovam na medida em que reanimam suas próprias qualidades. É o caso, por
exemplo, do velho editor de livros ameaçado e que tem sempre que fugir dessa
ameaça. No final reconhece suas deficiências e segue novo comportamento.
Foi um esforço grande
reconhecer que as mesclas se alinhavam uma às outras, com certa atenção para
não perder o fio condutor do inicio ao fim. Mas o filme tem qualidade haja
vista que anima o espectador a esperar o seguimento da emblemática viagem dos
personagens que vão se constituindo em novas posturas que de fato sintetizem o
que mostra de forma lenta e intervalar. Isso faz com que não se abandone a
sessão pelo meio. Um projeto ambicioso que como disse o critico norte americano
Roger Ebert necessita-se assistir o filme duas ou três vezes para o
entendimento real do que expressa. Na verdade, é isso mesmo. Por mais que eu
não tenha esse tempo todo para usar numa revisão do filme, um dia depois de
assistí-lo tive dele outra impressão. E lembrei Terence Malick em “A Árvore da
Vida” (2011).
Boa noite, Luzia. É sempre bom descobrir vida inteligente no chamado mundo virtual, até porque tem horas que parece que a inteligência sumiu de vez do nosso mundinho real (foi uma rima não intencional, putz, quanto "al" nisso aqui!). Brincadeirinhas à parte, gostaria de ir direto a um assunto (prometo visitar seu blog de vez em quando para comentar sobre cinema e/ou outros assuntos interessantes): é que estou curiosíssimo para saber sobre uma coisa que ainda não consegui descobrir. Calma, não é, ou melhor, acho que não é nada tão difícil quanto descobrir quem de fato escreveu a Bíblia. É justamente sobre um assunto que você parece conhecer bem. É que eu comprei uma coleção da Folha de São Paulo chamada Fotos Antigas do Brasil, muitíssimo interessante. Num dos fascículos aparece uma foto de um discurso feito por uma das pioneiras nas lutas pelos direitos das mulheres no Rio Grande do Norte. Isto é, o discurso foi feito lá. A mulher, segundo informa a legenda, era gaúcha e se chamava Natércia da Siveira. O que despertou minha curiosidade é que todos os nomes de pessoas citados na coleção tem suas datas de nascimento e morte, mas o de Natércia não tem nenhuma dessas datas (Uma outra lider feminista que também aparece na coleção, Bertha Lutz, tem as duas datas). Então pensei: como pode uma lider feminista do início do século XX não ter nenhuma dessas datas conhecidas, se muitos personagens da Antiguidade e da Idade Média tem datas exatas ou, no mínimo, aproximadas? O que teria acontecido com essa mulher? Poderia até ser uma falha dos editores da coleção, mas pesquisando na internet não encontrei mesmo nenhuma data, na verdade, nenhuma informação relevante. Portanto, fica aí minha pergunta: você tem alguma informação a respeito? Desde já, agradeço pela atenção.
ResponderExcluirOlá Luiza, concordo com diversos pontos de teu texto, só discordo de sua interpretação no tocante questão da reencarnação, não consigo ver como almas em corpos diferentes, mencionei a minha interpretação no texto que escrevi sobre ele: http://www.sublimeirrealidade.blogspot.com.br/2013/02/a-viagem.html
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