terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A HORA MAIS ESCURA



Maya (Jessica Chastain) entre as inquirições e torturas em "A Hora Mais Escura"

Os EUA levaram 10 anos para achar (e matar) Osama bin Laden, imputado como o autor do atentado que matou mais de 2 mil pessoas na queda de aviões sobre o World Trade Center, torres gêmeas de Nova York. E a missão dos terroristas ia mais longe, com outro avião caindo sobre o Pentágono, sede do poderio militar estadunidense, e outro que poderia ser endereçado a Washington, mas foi abortado pelos próprios passageiros da aeronave (tema de um bom filme de Paul Greengrass,“Vôo United 93”, de 2006).
A caçada a Bin Laden certamente chegaria ao cinema. E chegou agora com “A Hora Mais Escura”(Zero Dark Thirty/EUA 2012) roteiro de Mark Boal (também produtor) para a diretora Katherine Bigelow, para quem escreveu também “Guerra ao Terror” (The Hurt Locker/EUA 2008).
Os que têm pouca familiaridade na história perguntam por que a espionagem norte-americana demorou tanto tempo para encontrar um “inimigo publico numero um”. Surgiram mil e uma hipóteses, incluindo um envolvimento do presidente W.Bush com parentes de Bin Laden ligados ao comércio de petróleo. Na verdade, havia uma parede protetora ao terrorista na região onde ele nasceu e viveu. E é justamente a quebra dessa parede que o filme focaliza em uma linguagem semidocumental, expondo realismo como o recurso de tortura usado por agentes da CIA em afegãos presos e supostamente ligados a grupos de terror.
A figura principal dessa história é Maya (Jessica Chastain), a agente que desde cedo foi direcionada ao processo investigatório na Operação Neptune Spear, para descobrir onde se escondia bin Laden. Segundo Mark Boal ela e mais a colega Jessica (Jennifer Ehle) eram as únicas mulheres do grupo de espionagem. A segunda é morta quando tenta encontrar-se com um denunciante ligado a Laden numa base próxima do esconderijo deste. Quanto a Maya, dedica-se ao trabalho de forma obsessiva, desde o momento em que o grupo se forma (se levarmos em conta o desempenho excelente de Jessica), e após a morte da colega mais empenho ela devota ao projeto, sendo, no fim das contas, a agente que vai identificar o terrorista quando o corpo de um homem morto na casa que se presume ter morado Laden e familiares chega à sua base. É impressionante quando, encerrada as buscas, um gigantesco avião americano espera pela agente e ela, ao entrar, recebe a noticia de que é a única passageira, ganhando a admiração de quem pergunta sua identidade por receber tanta devoção dos militares.
O filme é bastante longo. Mostra a investigação desde o início em mais de duas horas e meia, sendo que duas delas são dedicadas ao processo de inquirição, à captura e interrogatório de prováveis terroristas e a confusos meandros de serem identificadas as pessoas mais próximas do objetivado, um grupo que se esconde com o cuidado de não deixar detalhes nas mãos de quem possa sucumbir aos dolorosos interrogatórios inimigos.
A hora escura do titulo é depois da meia-noite e nesse período vêem-se soldados atirando em quem apareça, poupando apenas mulheres e crianças. Mesmo assim, na hora da invasão à casa de Laden (noite de 01/05/2011) um dos soldados grita para calarem uma das crianças que não pára de chorar. Há uma pugna para pagar violência com violência.
Há dois eixos que se evidenciam, além da caçada silenciosa a bin Laden. O primeiro refere-se às práticas de tortura tomando o tempo do filme. As longas sequências deixam o público angustiado por repassarem as caracteristicas atrozes desses atos. O segundo, que daria uma análise mais densa, é a da atitude dos comandos militares e da CIA à figura de Maya em meio à equipe. Sempre tratada de forma secundária, vê-se que essas posições expoem o preconceito dos superiores por sua condição de mulher. Aliás, isso foi evidenciado pela atriz em uma entrevista por ocasião do lançamento do filme. O desprezo por suas idéias é sistemático, mas aceito quando um dos colegas assume.
Katherine Bigelow ficou com o status de especialista no assunto “terrorismo” ao ganhar o Oscar em “A Hora do Terror”, daí os recursos para este novo projeto. O detalhismo se tornou uma qualidade demonstrada nas minucias aplicadas. Há interesse no filme, mas há tempo demais para evidenciar uma missão de guerra.

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