Maya (Jessica Chastain) entre as inquirições e torturas em "A Hora Mais Escura"
Os EUA
levaram 10 anos para achar (e matar) Osama bin Laden, imputado como o autor do
atentado que matou mais de 2 mil pessoas na queda de aviões sobre o World Trade
Center, torres gêmeas de Nova York. E a missão dos terroristas ia mais longe,
com outro avião caindo sobre o Pentágono, sede do poderio militar
estadunidense, e outro que poderia ser endereçado a Washington, mas foi
abortado pelos próprios passageiros da aeronave (tema de um bom filme de Paul
Greengrass,“Vôo United 93”, de 2006).
A caçada
a Bin Laden certamente chegaria ao cinema. E chegou agora com “A Hora Mais
Escura”(Zero Dark Thirty/EUA 2012) roteiro de Mark Boal (também produtor) para a
diretora Katherine Bigelow, para quem escreveu também “Guerra ao Terror” (The
Hurt Locker/EUA 2008).
Os que
têm pouca familiaridade na história perguntam por que a espionagem norte-americana
demorou tanto tempo para encontrar um “inimigo publico numero um”. Surgiram mil
e uma hipóteses, incluindo um envolvimento do presidente W.Bush com parentes de
Bin Laden ligados ao comércio de petróleo. Na verdade, havia uma parede
protetora ao terrorista na região onde ele nasceu e viveu. E é justamente a
quebra dessa parede que o filme focaliza em uma linguagem semidocumental,
expondo realismo como o recurso de tortura usado por agentes da CIA em afegãos presos
e supostamente ligados a grupos de terror.
A figura
principal dessa história é Maya (Jessica Chastain), a agente que desde cedo foi
direcionada ao processo investigatório na Operação Neptune Spear, para descobrir onde se escondia
bin Laden. Segundo Mark Boal ela e mais a colega Jessica (Jennifer Ehle) eram
as únicas mulheres do grupo de espionagem. A segunda é morta quando tenta encontrar-se
com um denunciante ligado a Laden numa base próxima do esconderijo deste. Quanto
a Maya, dedica-se ao trabalho de forma obsessiva, desde o momento em que o
grupo se forma (se levarmos em conta o desempenho excelente de Jessica), e após
a morte da colega mais empenho ela devota ao projeto, sendo, no fim das contas,
a agente que vai identificar o terrorista quando o corpo de um homem morto na
casa que se presume ter morado Laden e familiares chega à sua base. É
impressionante quando, encerrada as buscas, um gigantesco avião americano
espera pela agente e ela, ao entrar, recebe a noticia de que é a única
passageira, ganhando a admiração de quem pergunta sua identidade por receber
tanta devoção dos militares.
O filme é
bastante longo. Mostra a investigação desde o início em mais de duas horas e
meia, sendo que duas delas são dedicadas ao processo de inquirição, à captura e
interrogatório de prováveis terroristas e a confusos meandros de serem
identificadas as pessoas mais próximas do objetivado, um grupo que se esconde
com o cuidado de não deixar detalhes nas mãos de quem possa sucumbir aos
dolorosos interrogatórios inimigos.
A hora
escura do titulo é depois da meia-noite e nesse período vêem-se soldados
atirando em quem apareça, poupando apenas mulheres e crianças. Mesmo assim, na
hora da invasão à casa de Laden (noite de 01/05/2011) um dos soldados grita
para calarem uma das crianças que não pára de chorar. Há uma pugna para pagar
violência com violência.
Há dois
eixos que se evidenciam, além da caçada silenciosa a bin Laden. O primeiro
refere-se às práticas de tortura tomando o tempo do filme. As longas sequências
deixam o público angustiado por repassarem as caracteristicas atrozes desses
atos. O segundo, que daria uma análise mais densa, é a da atitude dos comandos
militares e da CIA à figura de Maya em meio à equipe. Sempre tratada de forma
secundária, vê-se que essas posições expoem o preconceito dos superiores por
sua condição de mulher. Aliás, isso foi evidenciado pela atriz em uma
entrevista por ocasião do lançamento do filme. O desprezo por suas idéias é
sistemático, mas aceito quando um dos colegas assume.
Katherine
Bigelow ficou com o status de especialista no assunto “terrorismo” ao ganhar o
Oscar em “A Hora do Terror”, daí os recursos para este novo projeto. O
detalhismo se tornou uma qualidade demonstrada nas minucias aplicadas. Há interesse
no filme, mas há tempo demais para evidenciar uma missão de guerra.
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