As três figuras importantes em "Django Livre"
Luzia, assisti ao filme ontem, com um bom fã de Tarantino. Tem uma diferença grande assistí-lo aqui, em Berlim, devido à figura importante e carismática, no filme, do "Dr. Schultz", esse alemão bonachão, simpático, ardiloso, que ensina a Django não apenas a ser um grande atirador, mas também a saber convencer, a insistir no poder das palavras (na conversa decisiva de Django com os "brancos", a quem convence libertá-lo, quando o estão levando prisioneiro para "quebrar pedras"). Há também a história de "Brunilde" e "siegfried", saída das lendas nórdicas, mas que ganharia tempos depois, toda a sua importância nas óperas wagnerianas. O cinema vem literalmente abaixo, por exemplo, quando o personagem de Leonardo de Caprio, tentando falar alemão troca "Schultz" por "Schmulz", que quer dizer "sujo". Vi o filme em inglês com legendas em alemão. Todo o diálogo, em alemão, entre Schultz e Brunilde, quando ele vai contar que Django, seu marido, está na sala ao lado, é de uma ternura, de um lirismo, como se ele, que ouviu desde criança a história de "Brunilde" e "Siegfried", estivesse ali, diante da concretização dessa história. Por outro lado, Tarantino faz uma releitura do mito totalmente anti-nazista avant la lettre(a leitura de Wagner é considerada por muitos, como uma espécie de preparação do nazismo), ao transformar o herói germânico, nórdico, branco,louro e de olhos azuis (características do que se chamará depois "raça superior")pelo negro, na condição de escravo. A cena em que o personagem de di Caprio apresenta as teorias racistas da época acerca da diferença entre negros e brancos é, neste sentido, absolutamente perfeita, para Tarantino fazer sua crítica ao nazismo e toda forma de preconceito, representado pelo fazendeiro facínora americano, enquanto o alemão está ali, sentado na mesma época e declarando a todo instante que Django é um "homem livre". Assisti o filme num cinema de rua, que constituem 90% dos cinemas de Berlim, uma cidade que tem mais de 50 cinemas. Gostei da trilha sonora também, em especial da releitura do tema clássico, que é do grande Enio Moriconne. Viva Tarantino!
Abração,
Ernani
Tirando os Hip Hop que toca no filme, ai sim a trilha é boa!
ResponderExcluirComo sempre um belo e contextualizado comentário de "nosso" cidadão Ernani Chaves!
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