Jean Louis Trintignant e Emanuelle Riva em "Amor".
Michael Haneke, diretor alemão
de 70 anos, reuniu dois atores octogenários, Jean Louis Trintignant (82) e
Emanuelle Riva (87) em “Amor” (França/Alemanha/Austria, 2012) para protagonizarem
um casal de idosos cujas
alegrias compartilhadas construiram um cotidiano digno entre a profissão
pública e o ambiente privado familiar. Anne e George dão aulas de música e se defrontam com a adversidade
quando ela sofre uma isquemia, sem êxito cirúrgico e de evolução progressiva, e
ele é quem vai acompanhá-la no tempo que lhe resta, nos estertores da dimensão cotidiana
que favoreceu os dias vividos, criando hábitos salutares, na composição de uma
relação ambiente amigável e plena de ganhos pessoais e profissionais.
Revi o filme num cinema
comercial. A sala esteve quase lotada por quem assistiu em silêncio o drama que
jamais se arrisca às facilidades das obras sentimentais e exibe uma narrativa
primorosa no acompanhamento das personagens que, em tese, fazem o filme
funcionar.
Haneke não discute a perenidade
do amor. Exibe a dor sentida pelos amantes idosos, usando diálogos bem
colocados e de expressões que transmitem os sofrimentos de mulher e marido a
ponto de o espectador sentir como se fossem velhos conhecidos ou mesmo parentes
próximos.
Há um dialogo de George
(Trintignant) com a filha (Isabelle Hupert) muito ilustrativo do que ele está
sentido. Ao ver o estado da mãe, a filha pede que o pai tome providencias, que leve
a mulher de volta ao hospital, pois “hoje a ciência tem mais recursos para a
cura”. Ele responde: “-Você está livre para pesquisar”.
Também há outro momento-síntese:
um pombo invade o apartamento de George e Anna e ele tenta segurar a ave. É uma
segunda vez (visto que a primeira visita da ave recebeu dele uma recusa e a
entrega para a liberdade, pela janela) e desta, com as portas e janelas
hermeticamente fechadas, George consegue jogar seu casaco sobre o pombo. Segura-o
contra o peito e fica, trôpego, em uma cadeira. Dessa sequência, outra se
segue, mas a ave não é mais vista. A busca, nesse caso, não está no plano
físico, se o espectador avaliar essas duas sequências e reconhecer a
representação desses momentos. O emblema proposto é a prisão do casal em uma condição de
irreversibilidade diante da doença, e a impotência de um retorno aos velhos
hábitos.
“Amor” é um sentimento que se
arrisca a filmar. O que se vê são pessoas que tentam dar substância ao poder de
uma união que passa longe do meio século. E os tipos são músicos. A musica só é
lembrada na construção narrativa quando executada por alguém (pianistas quase
sempre). O mais é silencio. A distância que se faz da música erudita que seria
não apenas o objeto profissional dos tipos focalizados, mas a constatação de um
comportamento adquirido em uma proposição cultural de alto nível.
Não se pode dizer que o filme é só
diálogo, embora seja de uma grande riqueza nesse quadro. Em mais de um momento
a câmera desloca-se pelo ambiente onde vivem George e Anne. As estantes cheias
de livros, os aparelhos de som, o piano, o bule e as xícaras de chá, a
arrumação detalhada, tudo serve para indicar como vivem os moradores e, em
contrapartida, como se sentirão quando passam a enfrentar uma situação de dor.
Emanuelle Riva exibe a máscara
da enferma em agonia. Poucas vezes vi no cinema expressões tão pungentes. Mas
não se deixa por menos o que faz Jean Louis Trintignant. O ator que aplaudimos
em obras como “O Conformista” (1970) consegue incorporar as idiossincrasias geracionais,
do andar ao falar, e como se esses fatores fossem caros à sua própria idade,
sabe demonstrar o quanto lhe pesa, gradativamente, ver sua companheira
definhando e ele sem poder interromper este processo. A raiva que sente pela
impotência se expressa na bofetada que dá no rosto da esposa inerte que lhe cospe e vomita. Isto
reflete o sintoma da condição humana. Não somos infalíveis nem santos, mesmo
diante de quem amamos até a morte.
“Amor”é o superlativo dramático
que o cinema pode conseguir. Uma obra-prima que será lembrada com certeza daqui
a mais anos.
: Fazia tempo que não saía de uma sessão de cinema tão pertubardo . Já na primeira cena quando a Anne(Emanuele Riva), aparece morta deitada na cama, já me incomodou , o que se segue foi uma sensação de angustia ao ver uma senhora que até então era boa de saúde definhar e detalhe percebendo que sua doença e irreversivel se recusa a um tratamento que pouco surtir efeito e prefere ser tratada em casa, aqui se começar um outro drama o marido Georges(Jean-Louis Trintignant) demonstra uma certa crueldade não tendo paciencia para enfrenta a situação da esposa a cena do tapa na cara de Anne dada por Goerges, quando ela já não aguentando todo o sofrimento se recusa a beber água é impactante, quando se pensa que as surpresas já acabaram , Georges toma uma atitude extrema mataa esposa sufocando-a com o travesseiro.Toda essas questões me fizeram refletir até que ponto vale a pena prolongar o sofrimento de alguem que viveu intensamente a vida e chega sua velhice vitima de uma doença incuravel e irreversivel e me lembrou um fato bem recente ainda vivo em nossa memória o suícidio do ator Wamor Chagas que tomado por uma serie de doenças, resolveu ele mesmo da fim a sua vida a ficar dando trabalho para outros.
ResponderExcluirFiquei comovida e encantada.Demonstra o respeito ao que o outro quer.Parceria é isso!a simbologia da água nas torneiras, no banho da chuva me intrigou...serve para reflexão!
ResponderExcluir