terça-feira, 26 de março de 2013

LINHA DE AÇÃO NA POLÍTICA



Mark Walhberg e Russell Crowe em "Linha de Ação". 

O tema sobre a corrupção política fortalecida pelo jogo do poder tem sido contemplado em muitos filmes, não somente nos tempos atuais, mas há varios anos, como exemplifica o filme de Clint Eastwood, “Poder Absoluto”( 1997), com base num romance de David Baldacci, e mostra o serviço secreto de um estado tentando camuflar um assassinato praticado pelo governador de uma cidade dos EUA havendo uma única testemunha que na verdade é um ladrão que estava na cena do crime e presenciou tudo. A caça ao ladrão falsifica o jogo de bastidores.
Em “Linha de Ação” (Broken City, EUA, 2012) o thriller tem essa mesma conotação e explora a relação entre o ex-policial Billy Taggart (Mark Wahlberg) que se torna detetive particular após um julgamento de um estuprador, encontrado morto sem que seja reconhecido o assassino, e o prefeito da cidade de NY, Nicholas Hostetler (Russel Crowe). Sete anos depois desse fato, este contrata o detetive para descobrir as andanças da primeira dama (Catherine Zeta-Jones) que ele supõe estar lhe traindo. O prefeito é candidato à reeleição, está caindo nas pesquisas e tecnicamente empatado com o seu opositor, um conselheiro da cidade, o idealista e rico Jack Valliant (Barry Pepper) que bate de frente contra o anúncio de um contrato bilionário a ser assinado pelo gestor com certa construtora anunciando a reconstrução de um bairro, prometendo não despejar os residentes atuais do local. As denúncias de que o contrato era falso na sua filosofia e programa publicizadas aos eleitores arrisca a reeleição já quase certa. O momento de criar a indefinição entre as propostas induz o prefeito a uma idéia naquele momento meio exdrúxula, de supor o relacionamento extraconjugal de sua esposa, justificando pelo interesse pessoal em saber quem é o namorado dela. Este fato a ser investigado e a trama política engendrada não é percebido por Taggart que supõe estar fazendo mais um dos trabalhos que ele e sua secretária realizam diariamente, desconhecendo os bastidores do terreno onde entra.
Este é o primeiro trabalho solo do diretor Allen Hughes, após sua associação com o irmão Albert em dois filmes, “Do Inferno”( 2001) e “O Livro de Eli” (2010). O que se observa da narrativa, há pontos soltos no roteiro de Brian Tucker denotando vazios na estruturação dos personagens sem amparo em uma linha de evidências que pudesse dar mais subsidios à trama.
Há flagrante necessidade de maior aprofundamento, em relação ao desenvolvimento dos personagens, a exemplo, o detetive vivido por Mark Walhberg. Sua figura fica meio na incógnita logo na primeira sequencia após o julgamento do estuprador brutalmente assassinado e a ausência dele da cidade durante 7 anos. No retorno a NY, vive com a irmã da garota estuprada, que também é mostrada sem a convicção de ser uma atriz em inicio de carreira (e eles não estiveram fora durante sete anos?) de quem ele tem ciume doentio (a sequencia da violência contra ela que atuou em um filme com cenas explícitas de sexo deve ser para mostrar o mau caráter do detetive). Depois disso, a garota some. O roteiro a exclui das demais cenas. O estereótipo de beberrão tende a justificar o carater violento do jovem. Mas outro recuo do roteiro é quanto a sua atuação como investigador da vida privada da primeira dama. Num momento em que ele já sabe quem é o suposto namorado segue-o num ônibus e com este trava uma conversa inflamada sobre a eleição do prefeito insinuando-se ai uma chave de intrigas.
De igual modo, o tipo do prefeito não se desenvolve também. Sua equipe é diminuta para conter o momento que vive sabendo-se que ele tem a máquina toda ao seu alcance; a investigação que pretende sobre a traição da esposa no momento eleitoral é inconsistente; no debate com o adversário apesar de um coordenador, não há regras para equacionar as atitudes e, um dado mais forte: se ele está sendo denunciado por falcatruas em projetos para a cidade, por que essas informações, por suposto, confidenciais são descartadas em plena rua, nas latas de lixo e logo em seguida, quem as retira de lá é perseguido e quase morto?
Essas e outras quebras no roteiro traumatizaram as denúncias, mas o filme vale como um thriller a ver em fim de noite, mesmo na TV. 

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