terça-feira, 9 de abril de 2013

CINEMA COM MUSICA



Carlitos em "O Circo" (1928). Hoje, no Olympia, no programa Música & Cinema.

Pela segunda vez na programação do centenário Olympia, orgulho dos paraenses em ser a casa de exibições cinematográficas mais antiga do país, um filme mudo será acompanhado por um pianista a lembrar o que se fazia nas primeiras épocas dessa arte. É assim que o clássico “O Circo”(The Circus/EUA,1928) de Charles Chaplin poderá ser visto logo mais, às 18h30, com a presença do pianista Paulo José Campos de Melo em promoção da ACCPA, Funbel e Fundação Carlos Gomes.
“O Circo” deu a Chaplin seu único Oscar. Seria o de ator, mas a Academia reconsiderou e deu ao artista um premio especial. Chaplin só voltaria a ganhar a estatueta dourada em 1973 quando recebeu um troféu pela música de “Luzes da Ribalta”(Limelight), filme de 1952, mas só lançado nos cinemas norte-americanos dez anos depois. Este prêmio, na verdade, representou um pedido de perdão do cinema norte-americano ao ator&roteirista&produtor e diretor, além de compositor, que se impôs, através de suas criações, como símbolo do próprio cinema, depois de praticamente expulso dos EUA por acusações diversas que encobriam a perseguição “macarthista” de ser ele um simpático das esquerdas. Charles Chaplin havia sido candidato a Oscar na categoria de ator e de roteirista em “O Grande Ditador”(1941) e pelo roteiro de “Monsieur Verdoux”(uma ideia de Orson Welles) em 1947.
Em “The Circus” Carlitos, o vagabundo, acha um circo e inadvertidamente usa de suas habilidades ganhando um número no picadeiro. Na verdade, ele está apaixonado pela filha do dono do circo, amargurada pela dificuldade que encontra em firmar seu romance com um colega trapezista. Não chega a haver um confronto de personagens em torno desse romance, mas “O Circo” é um dos filmes que se enquadram bem na fórmula chapliniana de fazer rir e chorar. O final, com o desmonte da lona e os artistas se despedindo do lugar onde estavam por algum tempo resta Carlitos no vazio deixado pelo palco dos espetáculos. Este processo foi levado ao seu ponto mais alto no trabalho seguinte de Chaplin como diretor: “Luzes da Cidade”(Citylights/1932), o seu primeiro filme editado na era do som, mesmo assim só deixando na pista sonora ruídos e música.
Como em seus filmes mudos e mesmo sonoros, Chaplin compôs a música incidental ou mesmo canções que marcariam personagens. Não sei se é esta musica que vai ser tocada pelo pianista paraense, mas o modo como vai ser efetuar a sessão dá a esta reprise de “O Circo” um caráter todo especial, o prazer de se estar vivendo a época em que o filme foi lançado.
O tipo de programa vai prosseguir. Para o próximo dia 14, quando o Cine Olympia fará aniversário (101 anos) deverá haver outra exibição do gênero. É um modo de se saudar uma casa que nasceu na época em que o cinema precisava de músicos abaixo da tela para acompanhar as imagens projetadas e com isso levar ao público a emoção desejada pelos cineastas realizadores.
A sessão com “O Circo” acaba sendo o melhor programa do dia.
         O que também merece projeção é o arranjo desse programa em torno da temática “cinema e música”. Assim, esse evento não deve ser visto apenas pelo fato saudosista de uma época em que o cinema mudo povoava a casa centenária e criava o “frisson”, com os maestros “por trás da cena”. Este tema já foi um dos motivos de enfoque de Panorama, em tenpos pretéritos, e quem escrevia sobre a relação dessas duas artes era o amigo maestro Silvério Maia (hoje residindo em João Pessoa). A discussão em torno do cinema e música leva a uma série de enfoques. Por exemplo, no final de semana fui assitir a “Mama” filme que tem Guillermo Del Toro como produtor e o que se vê é o estereótipo do gênero onde a trilha sonora se curva aos momentos de encravar as cenas de terror. Uma tristeza. Por outro lado, no filme de Werner Herzog, “Além do Azul Selvagem” (The Wild Blue Yonder/EUA, Alemanha, França, 2005) o destino musical é apoteótico. Numa cadencia entre a imagem e o som, a gradação dá o toque de um repertório plástico irretocável. Amei o filme por essa excelência também e pelo modo de este cineasta tratar da vida pela própria vida. O grande enigma que ainda não se resolveu.
         Bem, “cinema e música”, hoje, é a pedida. Vamos lá.


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