Carlitos em "O Circo" (1928). Hoje, no Olympia, no programa Música & Cinema.
Pela segunda vez na programação do
centenário Olympia, orgulho dos paraenses em ser a casa de exibições
cinematográficas mais antiga do país, um filme mudo será acompanhado por um
pianista a lembrar o que se fazia nas primeiras épocas dessa arte. É assim que
o clássico “O Circo”(The Circus/EUA,1928) de Charles Chaplin poderá ser visto
logo mais, às 18h30, com a presença do pianista Paulo José Campos de Melo em
promoção da ACCPA, Funbel e Fundação Carlos Gomes.
“O Circo” deu a Chaplin seu único Oscar. Seria o de ator, mas a Academia
reconsiderou e deu ao artista um premio especial. Chaplin só voltaria a ganhar
a estatueta dourada em 1973 quando recebeu um troféu pela música de “Luzes da
Ribalta”(Limelight), filme de 1952, mas só lançado nos cinemas norte-americanos
dez anos depois. Este prêmio, na verdade, representou um pedido de perdão do
cinema norte-americano ao ator&roteirista&produtor e diretor, além de
compositor, que se impôs, através de suas criações, como símbolo do próprio
cinema, depois de praticamente expulso dos EUA por acusações diversas que
encobriam a perseguição “macarthista” de ser ele um simpático das esquerdas. Charles
Chaplin havia sido candidato a Oscar na categoria de ator e de roteirista em “O
Grande Ditador”(1941) e pelo roteiro de “Monsieur Verdoux”(uma ideia de Orson
Welles) em 1947.
Em “The Circus” Carlitos, o vagabundo, acha um circo e inadvertidamente
usa de suas habilidades ganhando um número no picadeiro. Na verdade, ele está
apaixonado pela filha do dono do circo, amargurada pela dificuldade que
encontra em firmar seu romance com um colega trapezista. Não chega a haver um
confronto de personagens em torno desse romance, mas “O Circo” é um dos filmes
que se enquadram bem na fórmula chapliniana de fazer rir e chorar. O final, com
o desmonte da lona e os artistas se despedindo do lugar onde estavam por algum
tempo resta Carlitos no vazio deixado pelo palco dos espetáculos. Este processo
foi levado ao seu ponto mais alto no trabalho seguinte de Chaplin como diretor:
“Luzes da Cidade”(Citylights/1932), o seu primeiro filme editado na era do som,
mesmo assim só deixando na pista sonora ruídos e música.
Como em seus filmes mudos e mesmo sonoros, Chaplin compôs a música
incidental ou mesmo canções que marcariam personagens. Não sei se é esta musica
que vai ser tocada pelo pianista paraense, mas o modo como vai ser efetuar a
sessão dá a esta reprise de “O Circo” um caráter todo especial, o prazer de se
estar vivendo a época em que o filme foi lançado.
O tipo de programa vai prosseguir. Para o próximo dia 14, quando o Cine Olympia
fará aniversário (101 anos) deverá haver outra exibição do gênero. É um modo de
se saudar uma casa que nasceu na época em que o cinema precisava de músicos
abaixo da tela para acompanhar as imagens projetadas e com isso levar ao
público a emoção desejada pelos cineastas realizadores.
A sessão com “O Circo” acaba sendo o
melhor programa do dia.
O
que também merece projeção é o arranjo desse programa em torno da temática
“cinema e música”. Assim, esse evento não deve ser visto apenas pelo fato
saudosista de uma época em que o cinema mudo povoava a casa centenária e criava
o “frisson”, com os maestros “por trás da cena”. Este tema já foi um dos
motivos de enfoque de Panorama, em tenpos pretéritos, e quem escrevia sobre a
relação dessas duas artes era o amigo maestro Silvério Maia (hoje residindo em
João Pessoa). A discussão em torno do cinema e música leva a uma série de
enfoques. Por exemplo, no final de semana fui assitir a “Mama” filme que tem
Guillermo Del Toro como produtor e o que se vê é o estereótipo do gênero onde a
trilha sonora se curva aos momentos de encravar as cenas de terror. Uma
tristeza. Por outro lado, no filme de Werner Herzog, “Além do Azul Selvagem” (The Wild
Blue Yonder/EUA, Alemanha, França, 2005) o destino musical é apoteótico. Numa
cadencia entre a imagem e o som, a gradação dá o toque de um repertório
plástico irretocável. Amei o filme por essa excelência também e pelo modo de
este cineasta tratar da vida pela própria vida. O grande enigma que ainda não
se resolveu.
Bem, “cinema e música”, hoje, é a
pedida. Vamos lá.
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