Um dos extraterrestes de Werner Herzog
O
cineasta alemão Werner Herzog passou a ser conhecido em Belém através de seus
filmes veiculados pelo Instituto Goethe e exibidos pelo Cine Clube APCC nos
anos 70. Lembro como se comentou “Os Anões Também Começam Pequenos” (Auch
Zwerge haben klein angefangen/Alemanha 1970) e “Fata Morgana”(Alemanha,1971).
Com esses filmes, chegaram outros que revelaram a cinematografia germânica de
pós-guerra sem aquele halo de diversão boba lançado em coisas como “As Noites
do Papagaio Verde”( Nachts im grünen Kakadu/Alemanha 1957), filme que entre nós
inaugurou o cinema Ópera. O cinema alemão pós-1945 ficava restrito entre as
produções comerciais de Kurt Hofmann e as densas (mas comerciais) de Helmut
Kautner.
Herzog esteve no Brasil em 1972
para filmar “Aguirre, a Cólera dos Deuses”( Aguirre, der Zorn Gottes/Alemanha,
1972). Mas foi na procura de locação para “Fitzcarraldo”(1982) que se deteve
por mais tempo entre nós. Nesse ano já era respeitado internacionalmente por “O
Enigma de Kaspaur Hauser” ( Jeder für sich und Gott gegen/Alemanha, 1974).
Ciceroneado por Thomas Mitschein, então diretor da Casa de Estudos Germânicos
da UFPA, o cineasta esteve em minha casa e conheceu alguns dos colegas da
critica.
Hoje Herzog mora nos EUA e empresta
sua criatividade na realização de filmes para a indústria de cinema, como é
exemplo, “Sobrevivente”(Rescue Dawn/EUA 2006) e “Vicio Frenético”(The Bad
Liutenant/EUA,2009). Com a exibição esta semana de “Além do Infinito Azul” ou
“Além do Azul Selvagem” (The Wild Blue Yonder/EUA, Alemanha,França, 2005) há um
regresso ao antigo estilo pessoal do diretor & roteirista.
Se possível, resume-se o
argumento em linhas como a chegada à Terra de um grupo de aliens oriundos de um
planeta submerso que escolheu o nosso mundo por vários motivos. A narrativa é
conduzida por um dos extraterrestes vindos da galaxia Andrômeda que observa, no
avanço da terra, a destruição do planeta originário e suas consequencias: a
destruição do planeta descoberto.
Como a Terra já se tornou um
planeta em risco, colocando em causa a sobrevivência dos seus habitantes, uma
equipe de astronautas parte para o espaço tentando descobrir um novo local
habitável, justamente na área de onde veio o narrador da historia.
O filme não é uma “space-opera”
como as que Hollywood costuma produzir. Herzog lança mão da ficção cientifica
para divagar sobre o homem e o mundo. Com opiniões de físicos que veem uma
forma de viajar para planetas de estrelas distantes, descobrindo túneis que
modulam o tempo, o filme segue uma espécie de sinfonia estelar, usando a música
criada pelo violoncelista de jazz Ernst Reijseger. Achei muita semelhança à
temática que o amigo Vicente Cecim evocou nos seus livros e filmes sobre
Andara, o mundo peculiar de onde ele tira a poesia de seus sonhos. Cecim é fã
de Herzog e a simbiose de autores passa por uma afinidade percebível por quem
conhece suas sensibilidades.
“Wilde Blue Yonder” é um belo
exemplo de cinema onírico, uma “fábula de ficção científica”, de uma outra
forma de expressão dentro de uma arte multifacetária. No estilo documentário,
há longas sequências do voo cósmico com os astronautas (de verdade, ele
agradece à NASA) flutuando dentro da nave (ou nadando sob um mar que lembra o
“Solaris” de Stanislaw Lem & Andrei Tarkovisky). A sinfonia entre a trilha
sonora e as imagens além da expressão capitular da investigação e asserções
sobre a relação entre a vida e o novo formato de espaços na natureza selvagem revela-se,
a meu ver, uma grande apoteose que inicia de forma branda e explode no final. É
uma sensação fantástica entre imagem e idéias filosóficas, entre os achados da
realidade cósmica e os percursos da alma através das idéias. De uma natureza
hostil e de terráqueos “selvagens”. Como conter isso? Fantástico!
Se o cinéfilo desinteressado
desse tom de cinema vai se impacientar com essa narrativa, uma pena. Mas é
assim mesmo. Onde os espaços e a maratona de buscas repercutirão na vida?
Programa da Cinemateca Francesa
no Cine Olympia até 5ª feira às 18,30h.
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