Gree Garson, como "Madame Curie". Exibição do Olympia, no domingo.
Continuando em suas atividades
culturais, a ACCPA mantém a programação de filmes em várias salas do chamado
cinema extra, em especial, no Cine Olympia. Neste sábado, a “Sessão Cult” (dia
06/04 às 15h) vai exibir “A Árvore dos Tamancos” (Itália, 1978), direção e
roteiro de Ermano Olmi e, no domingo, às 16h, a Sessão Cinemateca, exibirá
“Madame Curie” (1943). Optei por tratar deste último por vários motivos, entre
os quais o da figura dessa cientista admirável que ficou, por muito tempo,
subsumida pelo nome de seu marido. Importante assistir ao filme para
conhecê-la. Mesmo que haja uma narrativa recorrente.
A historia de Marie Curie (1867-1934)
foi narrada por sua filha Ève Denise Curie Labouisse (1904-2007), escritora francesa. Vinda da Polônia para
estudar na Sorbonne(Paris) Marie encontrou o cientista Pierre Curie que na
época do primeiro encontro já trabalhava em laboratório buscando os elementos
do que seria descoberto como a radioatividade. Os dois se casaram e Marie não
só ajudou o marido como passou a ser a mais evidente pesquisadora descobrindo o
elemento rádio.
O livro de Ève gerou um roteiro de Paul
Osborne e Paul H.Rameau que o veterano diretor norte-americano Mervyn
LeRoy(1900-1987) dirigiu para a Metro: “Madame Curie”(EUA, 1943).
Na época da produção, os estúdios de
Hollywood achavam um veio lucrativo nas biografias de personalidades da ciência
e das artes. Surgiram filmes como “A Historia de Louis Pasteur”(The Story of
Louis Pasteur/1936) e ”Edson, o Mago da Luz”(Edison the Man/1940), o primeiro
dando o Oscar de melhor ator a Paul Muni (1895-1967) e vencedor também como
roteiro, e o segundo candidato ao Oscar de roteiro. Isto para não citar as boas
bilheterias.
Para dar mais volume de espetáculo à
cinebiografia de Marie Curie a produtora contratou a dupla de interpretes do
recém-premiado “A Rosa da Esperança”: Gree Garson (1904-1996) e Walter Pidgeon
(Mrs Minniver/1942), ela vencedora do Oscar do ano para a atriz principal, e o
filme ganhando outros prêmios como os de melhor diretor (William Wyler) e
produção(filme). A dupla ainda atuaria em “Mrs.Parkinson, a Mulher
Inspiração”(Mrs. Parkinson/1944), outro Oscar para Greer Garson.
“Madame Curie” em cinema não se livra
de estereótipos comuns em produções do gênero e na representação feminina. É a
estudante polonesa ingênua que sofre falta de recursos para se manter estudando
em Paris, assim como Pierre Curie é o homem culto apaixonado que no fim das
contas depende dela.
Como o filme teve a aprovação da filha
da cientista, sendo Marie Curie a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel de
Física (uma área “masculina”!), basicamente o enredo deve estar bem colocado. E
a narrativa acadêmica do diretor de 78 filmes, entre eles sucessos de critica e
de publico como “A Ponte de Waterloo”(Waterloo Bridge,1940),-além de produtor
de “O Mágico de Oz”(The Wizard of Oz/1939), ajudou na comunicação com o grande
público. Interessante é que muitos dos cinéfilos desconheciam Marie Curie e até
mesmo o elemento químico que ela descobriu (havia quem achasse que radio era a
emissora de som descoberta por Marconi & Tesla ).
A narrativa bem linear consegue, graças
a pratica do diretor em sobrepor elementos mais densos das historias a contar
(como no caso, o processo usado no laboratório que acaba resultando no achado
de um novo elemento químico) fez do filme não um documento cientifico, mas um
romance de cientistas. Tanto que realça o casamento da polonesa Marie
Sklodowska colocando-a como uma pessoa fisicamente frágil por não possuir
necessários recursos para se manter na capital francesa, chegando a desmaiar em
uma sala de aula. Essa fragilidade depois assume força na união com Pierre, e é
mostrada como um casamento bem aceito pela Hollywood do tempo. E esses elementos
ganham a emoção do publico quando Pierre morre em um atropelamento, em 1906,
longe do lar. Como se vê, naquele momento, anos quarenta, impossivel achar que
uma mulher pudesse sobrepor-se à trilha masculina na ciência e a narrativa
segue esse viés.
De qualquer forma, o filme resiste bem
na visão de hoje. E é interessante observar que essas obras acadêmicas ganham
mais no tempo do que outras formalmente mais pretensiosas. Muito se deve à
química dos atores. Mas conhecer a figura de Marie é importante.
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