"Mama" , filme para esquecer.
A ilustre
assinatura do mexicano Guillermo del Toro (“O Labirinto do Fauno”) na produção
instigou meu interesse em assistir a “Mama”(EUA, 2013), do diretor e
co-roteirista Andres Muschetti, amigo dele e estreante no longa-metragem (tendo
filmado a mesma historia, de autoria de sua esposa Barbara, em um curta de
2008).
Pode-se
contar a trama em poucas palavras: um homem atônito chega em casa, carrega as
duas filhas menores e foge para a floresta, num zig-zag louco pela estrada
cheia de neve, derrapa, sai do carro e acampa numa casa abandonada. O que acontece
com ele não se define, mas vê-se uma decisão mortal em suas mãos: um revolver,
enquanto uma sombra disforme cobre-o. Nesse momento, a câmera desloca-se para
sua residência onde policiais e socorristas conversam sobre a atitude desconexa
dele ao matar o melhor amigo e a mãe das crianças, sua esposa. Passam-se 5 anos
e as meninas são encontradas vivas e sadias. Quem cuidou delas seria uma
personagem a que chamam de mãe (mama). Um tio quer adotá-las e conta com a
ajuda da esposa que faz parte de uma banda de rock. Exibindo comportamento
estranho, sem chegar aos tipos criados na selva como o “Enfant Sauvage” de
Truffaut e o Gaspar Hauser de Herzog, elas continuam vendo a “mama”. E as
situações se precipitam ajudadas por um breve relato sobre uma mulher caída num
abismo com o filho recém-nascido nos braços.
A história é
inconsistente. Se a personagem fantasmagórica deseja as meninas órfãs de mãe
devia tê-las levado com ela para o outro mundo imediatamente. Deixa para
depois. E quais os motivos que cercam a figura maquilada como um monstro
“padrão” de filme do gênero ?
Tudo poderia
se encaixar até em comédia se o humor transparecesse. Mas o humor, em “Mama”, é
consequência do ridículo em todas as sequencias. Além de inconsistente, o
enredo é sublinhado pelos chavões de acordes musicais súbitos quando surge em
cena uma personagem. Tudo gratuito, tentando assustar ou arrastar para a cena
de suposto suspense, o público que pagou para isso já que o filme em si não
opta por uma narrativa simples e coesa. E como se não bastasse a insistência de
lugares-comuns há “furos” que denunciam um artesanato apressado sem uma
consultoria de direção. Exemplo: Victoria, a menina mais velha, usa óculos. Na
primeira sequencia, fugindo com o pai, quebra uma lente. Nos planos de cinco anos
depois a lente aparece inteira. Como o milagre se deu? Ninguém tem ânimo de rir
diante de um quadro paulatinamente pior à medida que se aproxima um final
apoetótico como que coroando o ridículo permanente. A realidade (o
comportamento das meninas agregadas à nova vida com os tios) e a fantasmagoria
( as figuras invisíveis a quem elas reverenciam e chamam de mama) se tornam
peças de um mesmo tom e poderiam aquilatar-se ao que del Toro conseguiu em
“Labirinto do Fauno”, mas aqui não funciona, pelo menos no que constatei.
Os cinemas,
agora, exibem traillers compatíveis com o filme projetado. No caso de um
exemplar rotulado como “terror”, projetam cenas da produção que deve chegar nos
próximos dias ou meses. Dificilmente esse tipo de cinema comercial consegue
atingir a ironia com que Sam Raimi tratou em “Evil Dead”(A Morte do
Demônio/1981) e sua sequencia “Uma Noite Alucinante”(Evil Dead 2/1987). Raimi
compreendia que o horror gótico fabricado às pressas pode gerar um efeito
cômico. O seu “travelling” acelerado e amplo e os seus zumbis caricatos faziam
uma festa em que o mau gosto era elemento de linguagem. Essa técnica passa ao
largo dos que criam exemplares do tipo “Eu Sei o que Vocês Fizeram no
Verão Passado”. (I Know what you did Last Summer/1987) e sequência. O que
importa aos comerciantes do ramo é constatar os gritos de espectadores na sala
escura. Não importa se é de protesto, importa que seja visto e se pague por
isso. Infelizmente uma prática que prossegue posto que o novo “A Morte do
Demonio”(Evil Dead/2013) dirigido por Fede Alvarez, é a maior bilheteria da
semana nos EUA , arrecadando cerca de US$ 26 milhões.
É possivel que alguém goste de “Mama”. Eu “passo”.
E eu, diante dos trechos bombardeados na Tv, me assanhava para ver Mama... Depois desse tua crítica só percebo que é mais do mesmo. Vou assistir, é claro, mas sem a pressa que me movia.
ResponderExcluirCaro Tanto, é bom você assistir sem pressa, mas que o filme é ruim, mesmo, lá isso é. É possivel até que alguém vá achar "preciosidades" nele, devido o nome do Guillermo Del Toro na produção. Mas, como informei, "eu passo". Abço.
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