George O'brien e Janet Gaynor em "Aurora". Exibição no Olympia , hoje, 24.
O cinema Olympia completa hoje 101
anos. A data é muito gratificante para os paraenses que possuem a casa de
exibições cinematográfica mais antiga do país (considere-se que jamais mudou o
nome e deixou o lugar onde foi construída, assim como o espaço edificado). Ano
passado Pedro Veriano e eu organizamos o livro “Cinema Olympia: Cem Anos da
História Social de Belém – 1912-2012” compondo-se de textos escritos por
intelectuais e pesquisadores e pesquisadoras paraenses, sendo lançado naquela
ocasião.
Hoje, esse livro estará à disposição
dos que forem assistir ao programa especial dedicado ao aniversário, programa que
vai evocar uma fase importante do cinema, a fase da chamada “scena muda” onde
os filmes, antes do advento da pista sonora (movietone), eram acompanhados com
música ao vivo. Para esta noite, a FUMBEL, instituição que dirige o espaço, junto
com a ACCPA e a Fundação Carlos Gomes organizaram o seguinte programa: às 19,00
h: Temas de filmes - “Em Algum Lugar do Passado” e “Tempos Modernos”-
executados por Robenare Marques. Às 19,15 h, Salomão Habbib escutará a suíte “Olympia”,
de sua autoria. E às 19,30h a exibição do clássico “Aurora”(Sunrise, EUA, 1927)
de F. W. Murnau acompanhado ao piano por Paulo José Campos de Melo.
“Aurora” está citado entre os melhores
filmes de todos os tempos por diversas entidades ligadas ao estudo da história
do cinema, além dos livros. O diretor F. W. Murnau foi um dos pioneiros do
movimento expressionista na Alemanha - realizou “Nosferatu”(1922), “A Ultima
Gargalhada”(1924) e “Fausto”(1926) - e
foi contratado pelo estúdio norte-americano Fox para fazer o filme com roteiro
de seu colaborador Carl Mayer, autor do texto de “O Gabinete do Dr.Caligari” (Alemanha,
1919) . Basicamente seria uma historia de amor. Um pescador (George O’Brien) é
seduzido por uma mulher da cidade(Margaret Livingstone) tenta matar afogada a
sua esposa (Janet Gaynor), quando viaja de barco para a cidade próxima. Mas no
meio do caminho se arrepende. E a estada do casal na metrópole é como uma nova
lua de mel. Melhor dizendo: um recasamento, pois, entram numa igreja onde está
acontecendo uma cerimônia de enlace matrimonial e repetem o que o par diz no
altar. No retorno há uma tempestade e o barco vira. A mulher é dada como
desaparecida. E ele, marido, desesperado procura por ela.
O
filme teve um custo alto, muito mais do que a empresa norte-americana previa. Um
cenário gigantesco foi construído no estúdio e, com o cinema sonoro já
começando a surgir, a empresa chegou a providenciar o enxerto de som (ruídos).
O problema é que o lançamento se deu quando o publico procurava a novidade do
som. Apesar de Janet Gaynor ter ganhado o primeiro Oscar, sua candidatura se
prendeu não só a “Aurora”, mas também a “O Sétimo Céu” (1927) e “Anjo da Rua”(1928).
A linguagem expressionista está
presente. E até nos intertítulos. Quando a jovem da cidade pede ao pescador que
mate sua esposa as letras de “afogar” surgem e se diluem como se estivessem
molhadas. Nas primeiras sequencias, especialmente, o claro e o escuro são
primordiais na criação do clima. É a rara exibição de expressionismo num
romance.
“Aurora” ficou famoso com o passar dos
anos. No Pará, o filme tinha cinéfilos ardorosos como o maestro Izoca (Wilson) da
Fonseca (Santarém) e o prof. Francisco Paulo Mendes. E foi um dos “dez mais” do
século XX de nossos críticos. Delicado, dono de uma beleza plástica incomum e
interpretações marcantes integrou o humor e o drama em momentos certos
cativando espectadores de varias gerações. E a sua estreia local foi no próprio
Olympia, no final da década de 1920.
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