quarta-feira, 24 de abril de 2013

OLYMPIA E A AURORA


George O'brien e Janet Gaynor em "Aurora". Exibição no Olympia , hoje, 24.

O cinema Olympia completa hoje 101 anos. A data é muito gratificante para os paraenses que possuem a casa de exibições cinematográfica mais antiga do país (considere-se que jamais mudou o nome e deixou o lugar onde foi construída, assim como o espaço edificado). Ano passado Pedro Veriano e eu organizamos o livro “Cinema Olympia: Cem Anos da História Social de Belém – 1912-2012” compondo-se de textos escritos por intelectuais e pesquisadores e pesquisadoras paraenses, sendo lançado naquela ocasião.
Hoje, esse livro estará à disposição dos que forem assistir ao programa especial dedicado ao aniversário, programa que vai evocar uma fase importante do cinema, a fase da chamada “scena muda” onde os filmes, antes do advento da pista sonora (movietone), eram acompanhados com música ao vivo. Para esta noite, a FUMBEL, instituição que dirige o espaço, junto com a ACCPA e a Fundação Carlos Gomes organizaram o seguinte programa: às 19,00 h: Temas de filmes - “Em Algum Lugar do Passado” e “Tempos Modernos”- executados por Robenare Marques. Às 19,15 h, Salomão Habbib escutará a suíte “Olympia”, de sua autoria. E às 19,30h a exibição do clássico “Aurora”(Sunrise, EUA, 1927) de F. W. Murnau acompanhado ao piano por Paulo José Campos de Melo.
“Aurora” está citado entre os melhores filmes de todos os tempos por diversas entidades ligadas ao estudo da história do cinema, além dos livros. O diretor F. W. Murnau foi um dos pioneiros do movimento expressionista na Alemanha - realizou “Nosferatu”(1922), “A Ultima Gargalhada”(1924)  e “Fausto”(1926) - e foi contratado pelo estúdio norte-americano Fox para fazer o filme com roteiro de seu colaborador Carl Mayer, autor do texto de “O Gabinete do Dr.Caligari” (Alemanha, 1919) . Basicamente seria uma historia de amor. Um pescador (George O’Brien) é seduzido por uma mulher da cidade(Margaret Livingstone) tenta matar afogada a sua esposa (Janet Gaynor), quando viaja de barco para a cidade próxima. Mas no meio do caminho se arrepende. E a estada do casal na metrópole é como uma nova lua de mel. Melhor dizendo: um recasamento, pois, entram numa igreja onde está acontecendo uma cerimônia de enlace matrimonial e repetem o que o par diz no altar. No retorno há uma tempestade e o barco vira. A mulher é dada como desaparecida. E ele, marido, desesperado procura por ela.
         O filme teve um custo alto, muito mais do que a empresa norte-americana previa. Um cenário gigantesco foi construído no estúdio e, com o cinema sonoro já começando a surgir, a empresa chegou a providenciar o enxerto de som (ruídos). O problema é que o lançamento se deu quando o publico procurava a novidade do som. Apesar de Janet Gaynor ter ganhado o primeiro Oscar, sua candidatura se prendeu não só a “Aurora”, mas também a “O Sétimo Céu” (1927) e “Anjo da Rua”(1928).
A linguagem expressionista está presente. E até nos intertítulos. Quando a jovem da cidade pede ao pescador que mate sua esposa as letras de “afogar” surgem e se diluem como se estivessem molhadas. Nas primeiras sequencias, especialmente, o claro e o escuro são primordiais na criação do clima. É a rara exibição de expressionismo num romance.
“Aurora” ficou famoso com o passar dos anos. No Pará, o filme tinha cinéfilos ardorosos como o maestro Izoca (Wilson) da Fonseca (Santarém) e o prof. Francisco Paulo Mendes. E foi um dos “dez mais” do século XX de nossos críticos. Delicado, dono de uma beleza plástica incomum e interpretações marcantes integrou o humor e o drama em momentos certos cativando espectadores de varias gerações. E a sua estreia local foi no próprio Olympia, no final da década de 1920.

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