“A Hospedeira”(The Host, EUA, 2013)
Depois de encerrar a odisseia de seu casal de vampiros iniciada com “Crepúsculo”(Twilinght), Stephenie Mayer escreveu “A Hospedeira”(The Host).
Como a escritora norte-americana é uma verdadeira “mina de ouro”, o cinema foi
logo atrás de seu novo romance e aí está, em lançamento internacional, com roteiro
e direção de Andrew Niccoll que responde pela realização de “Gattaca”(1997),
“Simone”(2002),”O Preço do Amanhã” (2011) e roteirista de “O Show de Truman”(1998).
Para tristeza da escritora que sempre presenciou o alcance de
público de seus “rebentos” anteriores, “A Hospedeira”(The Host, EUA, 2013) entrou
no circuito norte-americano em 6° lugar, com apenas US$ 11 milhões de
bilheteria. E há explicação. Niccol, um diretor talentoso e de grande
imaginação, diluiu em definitivo o romance de jovens proposto no livro (e
afinal o que une essa história de ficção cientifica com os personagens de
“Crepúsculo”). Ficou mais evidente o enredo em si, uma colagem interessante de outras
produções como “Vampiros de Almas”(1956) e “A Aldeia dos Amaldiçoados”(1960), para
tratar apenas de cinema.
Basicamente, a trama é passada no futuro quando a Terra é invadida
por espíritos vindos do espaço que assumem os corpos das criaturas humanas. Só
dessa forma, diz a narração em “off” na primeira sequencia, os homens passam a
ser amáveis, a violência termina, a corrupção evapora, os tipos se tornam
solidários ao invés de se destruirem. Mas a jovem Melanie (Saoirse Ronan)
persiste quando seu corpo recebe o tratamento desencarnatório sofrendo o dominio
da extraterrestre Wanda. Inicia-se, então, uma luta de consciências, a humana
querendo emergir no cérebro da criatura de outro mundo. Sabendo desse
“fracasso”, uma guardiã dos ETs (Rachel Roberts) passa a persegui-la. E
encontra-a numa caverna onde vivem os humanos resistentes às investidas
anímicas dos alienígenas. O conflito de duas almas dentro de um corpo se acirra
quando Melanie localiza seu namorado na caverna e um colega dele passa a amar a
“outra”. A solução para isso é separar as almas. E chega a ser engenhoso como a
operação é tratada e especialmente como é mostrada nas imagens de Niccol.
O filme poderia resultar numa ficção melodramática da linha dos
vampiros estudantes que foi visto nas outras histórias da mesma autora. Há,
contudo, um aproveitamento, nem que seja parcial, da ideia do “outro eu” e da
migração de espíritos. A luta interior de mulher-amante caminha para aquela ideia
de imortalidade do amor reproduzido em filmes como “Os Visitantes da Noite”(Les
Visiteurs du Soir/1942) de Marcel Carné. Por outro lado, a guardiã ou
perseguidora de Melanie revela-se uma jovem dominada pelo “eu” que veio do
espaço e quando se liberta assume a ideia de que a criatura que “pacificou” a
Terra não deixa de possuir o mesmo sentimento de posse e violência de muitos
“pacificados”. Outra curiosidade é o corpo dominado ganhar olhos azuis. Não sei
se Stephenie imaginou uma relação étnica para esse comportamento, criticando de
certa forma a “raça ariana” como era defendida pelos nazistas.
Mas o que me fez gostar no filme foi o modo como se dá a retirada
da alma de um corpo e como uma alma pode ser transportada para o espaço em uma
espécie de capsula em forma de ovo. A energia é vista como centelhas que se
acomodam nas mãos de quem as retira. Da mesma forma há um firmamento de
vagalumes que transmite aos humanos da caverna a versão de um espaço iluminado.
Esta proposta de relatividade de cenário de acordo com a sensibilidade de cada
um é um achado que eu não sei a quem se deve (não conheço o livro). Aposto nas
imagens de Niccol. E no tratamento que deu à trama. O filme me surpreendeu
embora diste longe de obra primas.
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