Zola (Hubert Koundé) e o filho quase desfalecido. Imperdivel! No Olympia.
Quando
assistimos a algum filme fora do esquema de modelos conhecidos (para não dizer
a là hollywood) e esse filme tem méritos narrativos, interessa divulgar para
que todo mundo assista. É o que ocorre com “A Cor do Oceano”(Die Farbe des Ozeans, Alemanha/Espanha, 2011), no momento sendo exibido no
Cine Olympia (horário regular, 18h30). Trata de imigrantes africanos que tentam
melhorar de vida seguindo de forma irregular para a Espanha e acabam vitima de
um naufrágio numa praia das Ihas Canárias, arquipélago espanhol. Um desses
imigrantes, Zola (Hubert Koundé) consegue fugir quando é salvo pela polícia e
no percurso entre a areia da praia e um lugar de liberdade ganha a atenção da
turista alemã Nathalie (Sabine Timoteo) quando ele pede que deem água a seu
filho que está quase desfalecido. A jovem passa a cuidar de Zola, mas o
delegado regional José (Alex Gonzalez) é o maior obstáculo, perseguindo os personagens
para que se cumpra a lei da deportação.
O filme
começa definindo o temperamento de José. A irmã o visita e pede-lhe ajuda. Ele segue
com ela em um carro que ele dirige com desespero (por causa dela, viciada em
drogas) e quando param e ela pede que ele lhe dê uma injeção, fato que José diz
aceitar, acaba recusando o que deixa a moça irritada, aos gritos, enquanto ele
parte de carro. Esta sequencia servirá de contraponto quando se sabe que a
jovem toxicômana morre de overdose e o irmão é chamado para identificar o
corpo.
A turista
Nathalie trata dos imigrantes sem que o namorado saiba. Mas Zola é perseguido e
a sua salvação parece ser uma prometida viagem de barco a custo alto. A jovem
benfeitora banca a ideia, mas o imigrante é roubado e seriamente espancado por
quem o abrigara na ocasião. Sabe-se que só o filho ganhará asilo espanhol se
for um órfão. E tudo indica que assim será feito, pois a criança recebe a
atenção da assistência social e não crê que o pai havia falecido.
O filme
tem uma linguagem realista, com toque documental no modo como faz ver a
imigração nas praias das Canárias, e sensibiliza sem adentrar no melodrama o
relacionamento do imigrante e seu filho com a turista que casualmente o
encontra. A diretora Maggie Peren tem mais dois títulos em longa-metragem na
qualidade de direção e roteiro e mais 23 roteiros. Desconhecendo seus títulos
anteriores fica a descoberta de uma cineasta de 40 anos muito eficiente em seu
trabalho. Não há, com prudência, um aprofundamento nos tipos focalizados,
ficando maior substancia na pintura de José. Isto talvez prejudique uma analise
da atitude samaritana de Nathalie, mas o roteiro visa o quadro dramático
esboçado na imigração ilegal a lembrar uma série de filmes franceses sobre
marroquinos que tentam viver em Paris .
O titulo
do filme ganha razão numa das últimas sequencias quando uma personagem fala do
mar de onde chegam os sofridos africanos. Também se deixa margem à esperança do
menino que pensa no pai vivo e ativo que viajou, mas voltará para buscá-lo das
praias onde sempre estão chegando seus conterrâneos.
A cor
azul contrasta com a desesperança em crescendo dos tipos que vivem o drama de
tentar mudar de vida. E não somente entre os imigrantes. José também queria que
sua irmã mudasse de vida, mas como ela não conseguiu, ele não imagina que
outros possam e faz do rigor da lei uma arma para salvarguardar seu rancor.
“A Cor do
Oceano” foi exibido na TV alemã e foi selecionado para o Festival de Toronto. A diretora está no seu
segundo longa, mas anteriormente dirigiu curtametragens, além de atuar como
atriz. O filme não ganhou
nossos cinemas nem nossos canais televisivos. Chega agora para as sessões regulares
do cine Olympia graças ao Instituto Goethe da Bahia. Vale a pena conhecer este
filme que se pode considerar raro.
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