Ursula Wener e Horst Whestphal em "Nuvem 9". Imperdível!
Ao que consta, o cinéfilo paraense está vivendo momentos de descobertas da cinematografia internacional. Vejam-se os recentes filmes exibidos no Cine Olympia (com o aval da ACCPA), no “Líbero Luxardo” e em outros espaços dessa linha para avaliar que se trata de um momento esplêndido do chamado “cinema extra” (como intitulamos esse itinerário há mais de trinta anos, na então APCC).A vez da indicação dessa linha de filmes é para "Nuvem 9”(Wolke Neun/Alemanha, 2008). Trata de um casal de idosos, há 30 anos unido, que aos poucos vê diluir essa norma de convivência quando a esposa, uma costureira de pequenos consertos, ao entregar um trabalho a um freguês contumaz, apaixona-se por este, poucos anos mais novo do que seu marido (mesmo assim na casa dos setenta anos). Depois de vários encontros ela não sabe o que fazer, mas decide ir morar com o namorado mesmo sabendo que o antigo companheiro ficará sozinho em casa, pois a única filha visita a mãe e o padrasto esporadicamente.“Nuvem 9" é um impacto. Na exibição em Paris alguns espectadores se escandalizaram e deixaram a sala de projeção. Mas a critica exaltou o filme, que recebeu 8 prêmios incluindo no Festival de Cannes (“Um Certain Regard”). E as plateias cultas o prestigiaram internacionalmente. Afinal, poucas vezes o cinema se aventurou a um tema tão difícil, ou tão raro. Comparando com “Amor”(Amour) de Michael Haneke, aqui não é o casal de idade avançada que se cuida quando um deles adoece e morre. No enfoque, é um rompimento espontâneo, um caso de desejo, sexualidade e pulsão que espanta a quem pensa que esses sentimentos terminam quando o ser humano chega a certa idade.Ursula Wener, aos 69 anos (fará 70 em setembro), tem um dos mais intensos desempenhos que vi em cinema. Protagoniza Inge, a pacata costureira de ocasião, convivendo com Werner (Horst Rehberg) que está num momento de buscas, não hesita em abandonar o marido pelo solteiro Karl (Horst Whestphal). O relacionamento extraconjugal começa numa das visitas profissionais à casa do fregues, ao entregar-lhe uma calça, implicando em um momento de sexo. Daí a relação toma impulso para vários outros encontros. Ao saber do fato, o marido não a despreza. Mas ela deseja o outro. E este desejo não requer explicação do roteiro do diretor Andrea Dresen e mais Jorg Haushild, Leila Stieler e Cooki Ziesche. “-Isto aconteceu” diz ela ao marido. E não importa como ele receba a noticia da esposa. Sentindo-se culpada, a mãe não hesita em procurar a filha para confidente, que se mostra compreensiva, mas pede que a mãe silencie. Werner, silenciosamente amarga a solidão entre baforadas de cigarro e assistindo, de sua janela, o que mais gosta de fazer: o trem passar por perto de sua casa (ele que é apaixonado por viagens sem rumo). E Inge, se olhando no espelho, sentindo o peso do tempo, mas sem esmorecer.O filme não conclui em um prisma de pretenso moralismo. O “aconteceu” é tratado como um fato possível, e Inge vai viver com Karl. O destino de Werner só ele mesmo decide, mas não insinua uma apoteose. O desamado perde a vontade de viver e não se tenha isso como uma apologia ao suicídio. Ninguém sabe como ficou ou terminou o ancião que achava muito forte o laço de união com a mulher que conheceu no passado já distante.A câmera é tão discreta e “voyeurista” quanto a de Michael Haneke em “Amor”. Quando o casal ou um dos casados sai de um aposento, o enquadramento permanece e se vê os moveis e a parede em demora de alguns segundos. A casa de Inge e Werner é observada quase sempre em silencio e não denuncia qualquer inovação formal. Em outro momento, o apartamento de Karl está em mudança. Ele prepara aposento para Inge. E a mobilidade da câmera é evidente. Ali há vida nova mesmo que os habitantes desse espaço não sejam novos.Mas tudo seria supérfluo sem a atuação de um magnifico elenco e de uma câmera que traduz exemplarmente os elementos que captura pelos significantes. A direção é impecável e indaga-se sobre cineastas criativos cujas obras não ciirculam em países como o nosso (especialmente em nosso estado). “Nuvem 9” é um exemplo de cinema adulto e criativo. Não assistí-lo (estará no Olympia a partir desta sexta feira 10/05 ) é perder um dos excelentes programas deste ano.
Exclente filme que mostra idosos, na chamada adolescencia da terceira idade
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